Esta beleza frágil e imensa
.
- Luiz Felipe Pondé
Você já se sentiu
infinitamente pequeno diante de algo imenso e infinito? Já percebeu o quão
frágil é tudo à sua volta, inclusive, e principalmente, você? Já pensou que um
dia o sol se apagará e tudo que você conhece deixará de existir?
Já pensou que em meio a
tantas pessoas que transaram desde a mais distante ancestralidade humana, a
"cadeia de orgasmos" entre elas é a causa eficiente da sua existência
hoje? Já imaginou quanta coisa podia ter dado errado e você não existir?
Aqui não estamos muito distantes do silêncio que muitas vezes se impõe quando testemunhamos uma criança vir ao mundo. Esse silêncio é nossa consciência ancestral de que devemos nossas vidas a todos os que viveram, lutaram e morreram antes de nós.
A primeira palavra que devíamos aprender a falar é "obrigado". Uma cultura que não cultiva o respeito pelos ancestrais é uma cultura de ingratos. Deveríamos assistir ao parto de joelhos.
Aqui não estamos muito distantes do silêncio que muitas vezes se impõe quando testemunhamos uma criança vir ao mundo. Esse silêncio é nossa consciência ancestral de que devemos nossas vidas a todos os que viveram, lutaram e morreram antes de nós.
A primeira palavra que devíamos aprender a falar é "obrigado". Uma cultura que não cultiva o respeito pelos ancestrais é uma cultura de ingratos. Deveríamos assistir ao parto de joelhos.
Bastava uma dorzinha de
cabeça numa das fêmeas ancestrais ou uma brochada num dos machos ancestrais ou
um dos dois ser comido por algum predador, e você não estaria hoje aqui lendo a
Folha.
Logo, é quase um milagre
esse instante em que nos encontramos. Assim como toda a cadeia de eventos que
envolve a sua vida e a de cada um de nós.
Diante de tantas variáveis
infinitas, muita gente sente um certo agradecimento por ter nascido e pelas
coisas que giram à nossa volta, tornando possíveis nossas vidas.
Nossa atitude deveria ser
uma de completa reverência diante de tudo isso. Esse tipo de reverência
desapareceu do nosso repertório porque somos uns mimados que acham que o
universo é "um direito" cósmico. E que todos que transaram em nossa
longa cadeia de ancestrais o fizeram "por nossa causa".
Essa humildade diante da
simples existência não é muito distante da ideia de graça no cristianismo (e
também no judaísmo e islamismo). Dai que qualquer teólogo competente sabe que
toda boa teologia começa agradecendo. Coisa pouco comum hoje em
dia.
Uma sociedade dominada pela ideia de "direitos" é necessariamente uma sociedade que cultiva a ingratidão.
Nada mais distante da espiritualidade semita (das três religiões abraâmicas citadas acima) do que uma teologia que "pede". A teologia começa agradecendo o fato de respirarmos. Ou, como diria Santo Agostinho (354-430), devemos agradecer pela língua que temos para falar.
Uma sociedade dominada pela ideia de "direitos" é necessariamente uma sociedade que cultiva a ingratidão.
Nada mais distante da espiritualidade semita (das três religiões abraâmicas citadas acima) do que uma teologia que "pede". A teologia começa agradecendo o fato de respirarmos. Ou, como diria Santo Agostinho (354-430), devemos agradecer pela língua que temos para falar.
Toda espiritualidade séria
começa com a consciência do quão improvável é a nossa existência e a de todas
as demais coisas à nossa volta. A fina relação entre essa enorme
improbabilidade e nossa ínfima existência é que produz o sentimento de milagre,
agradecimento e graça.
Que nenhum ateu
inteligentinho queira me dar uma lição de estatística ou de acaso cego.
Guarde-as para ateus inseguros e de alma tosca. A cegueira do acaso apenas
torna a beleza do mundo ainda maior.
O que vem a ser a
religião? Essa pergunta não é fácil de responder. Muitos tentam buscar uma
resposta que sirva pra todas as religiões, mas isso não é evidente.
Entretanto, existem
algumas ideias interessantes sobre essa busca de um "denominador
comum" para as religiões que funcionam razoavelmente bem. E algumas delas
passam justamente por esse sentimento de agradecimento pelo simples fato de
sermos capazes de testemunhar toda essa beleza, ao mesmo tempo frágil e imensa.
E de nos sentirmos de alguma forma dependentes dela.
O teólogo alemão Friedrich
Schleiermacher (1768-1834), fundador da hermenêutica, disciplina que estuda os
modos de interpretação de culturas e textos, é considerado o pai fundador dos
estudos não religiosos das religiões. A história desses estudos é longa e não
vou me ater a todas as controvérsias que a matéria exige.
O que me interessa aqui é
o "denominador comum" que Schleiermacher pensava estar presente em
todas as religiões. Para ele, as religiões são o fruto dessa percepção profunda
de nossa dependência para com esse infinito que nos sustenta e, ao mesmo tempo,
nos lembra o quão efêmero isso tudo é. Como o pó que se vai com o vento, mas
que é capaz de ver o rosto de Deus.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2016/02/1744411-essa-beleza-fragil-e-imensa.shtml
PS- Não sabe do que está sendo falado? Vai lá:
- Para ver: http://www.youtube.com/watch?v=PlxZOOEHK4o
- Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=lB6a-iD6ZOY
- Para meditar: http://www.bible.com/pt-PT/bible/211/mt.5.8.ntlh
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