A vida é mais que pão
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- Ricardo Barbosa
A tentação de Cristo não pode ser compreendida fora do seu batismo no rio Jordão. O que Jesus ouviu no Jordão está diretamente relacionado com o que ele ouviu no deserto. O Espírito que o conduz ao deserto para ser testado e o diabo que o tenta, atuam, de forma completamente opostas, dentro de um mesmo cenário.
- Ricardo Barbosa
A tentação de Cristo não pode ser compreendida fora do seu batismo no rio Jordão. O que Jesus ouviu no Jordão está diretamente relacionado com o que ele ouviu no deserto. O Espírito que o conduz ao deserto para ser testado e o diabo que o tenta, atuam, de forma completamente opostas, dentro de um mesmo cenário.
No batismo Jesus tem a sua identidade afirmada: “Este é o meu filho amado”, e tem também sua vocação afirmada: “Em quem me comprazo.”
Na tentação, sua identidade e vocação são questionadas: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.”
Toda tentação levanta suspeitas sobre a natureza divina: Deus é bom? É confiável? Sou mesmo seu filho(a)? Ele cuida de mim?
Em três situações distintas, na Bíblia, encontramos a mesma estratégia do inimigo. Deus disse que nossos primeiros pais poderiam comer livremente de todo fruto do jardim, menos o da árvore do conhecimento do bem e do mal. Entra o inimigo em cena e diz: “Foi isto mesmo que Deus disse: não comam de nenhum fruto das árvores do jardim?”
O mesmo acontece com Jó. Depois de Deus dar um bom testemunho a seu respeito, o inimigo diz: “Será que Jó não tem razões para temer a Deus?” Será que Jó não teria outros interesses para temer a Deus? Será que ele ama e teme a Deus por nada? Existe alguma virtude em sua devoção?
O diabo inicia sua primeira tentativa de derrubar Jesus levantando a suspeita sobre sua identidade: “Se és o Filho de Deus…”.
Se Jesus tivesse transformado pedras em pães teria dado um testemunho de incredulidade e não de fé. Estaria assumindo a suspeita sobre a voz do céu que ele ouviu 40 dias antes no Jordão. Jesus, ao compartilhar esta experiência solitária, informa “depois de jejuar 40 dias e 40 noites, teve fome”. Ele faz questão de assumir que estava faminto. A primeira tentação não apresenta nada que tenha alguma conotação moral ou ética. Não há nenhum mal em oferecer pão para quem tem fome, muito pelo contrário. Se temos fome, é natural que queiramos comer. Se temos fome, é saudável que alguém nos ofereça pão.
A resposta de Jesus nos ajuda a reconhecer a armadilha do inimigo. Ele diz: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem…”. Noutras palavras, Jesus reconhece que o pão é importante, mas a vida é mais do que pão. O trabalho é importante, mas a vida é mais do que o trabalho. O dinheiro é importante, mas a vida é muito mais do que o dinheiro.
No Sermão do Monte Jesus disse: “Não andeis ansiosos pela vossa vida” e aí ele lista a comida, roupa, bebida etc para concluir dizendo: “não é a vida mais do que estas coisas?”
O grande problema é que nós somos o tempo todo tentados a colocar nossa confiança e esperança no ‘pão’ e a colocar sobre nosso trabalho e salário o nosso significado.
Vale a pena recordar de onde Jesus extrai esta resposta. “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que nem só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem” (Dt 8:2 e 3).
O povo de Deus foi testado por Deus no deserto. Deus sempre os cuidou, mesmo quando passaram por alguma tribulação. Ele os sustentou para que aprendessem que a confiança é mais importante do que as necessidades mais urgentes.
É por esta razão que Paulo exorta os ricos dizendo: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição” (I Tm 6:9). “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (I Tm 6:10). “Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento” (I Tm 6:17).
A resposta de Jesus é que precisamos do pão, mas mais do que do pão, precisamos da palavra que procede da boca de Deus. Qual foi a palavra que veio da boca de Deus para Jesus? “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Era esta palavra que deveria nutrir e sustentar Jesus e não as pedras transformadas em pães.
Jesus, certa vez, contou uma pequena parábola sobre um homem que encheu seus celeiros e, depois de vê-los bem cheios, disse: Que faço agora? Vou destruir estes celeiros e construir outros maiores ainda e terei o suficiente para viver tranqüilo pelo resto dos meus dias. Então Jesus responde dizendo: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”
Onde se sustenta a vida?
No fato urgente ou importante, ou na confiança?
A vida e a liberdade repousam na confiança.
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