December 31, 2014

Sugestões para o ano novo

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#1
Não assuma compromissos do tipo “vou iniciar uma dieta”, “vou começar alguma atividade física”, “vou terminar o curso de inglês”. Esse tipo de coisa serve apenas para acumular culpa e frustração sobre os seus ombros.

#2
Não acredite nesse pessoal que diz que “sem meta você não vai a lugar nenhum”. Pergunte a eles por que, afinal de contas, você tem que ir a algum lugar. Trate esses “lugares futuros imaginários” apenas como referência para a maneira como você vive hoje – faça valer a caminhada: se você chegar lá, chegou, se não chegar, não terá do que se arrepender. A felicidade não é um lugar aonde se chega, mas um jeito como se vai.

#3
Não faça nada que vá levar você para longe das suas amizades verdadeiras. Amizades levam um tempão para se consolidar e um tempinho para esfriar, pois assim como a proximidade gera intimidade, a distância gera esfriamento e fragiliza os vínculos.

#4
Não perca tempo discutindo religião, política e futebol. As paixões moram numa nuvem que os argumentos não alcançam.

#5
Não fique arrumando desculpas nem explicações para as suas transgressões. Quando cometer um pecado, assuma, e simplesmente diga “minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa” e “fiz sim, me perdoe”. Comece falando com Deus e não pare de falar até que tenha encontrado a última pessoa afetada pelo que você fez.

#6
Não faça nada que cause danos à sua consciência. Ouça todo mundo que você confia, tome as suas decisões, e assuma as responsabilidades. Não se importe em contrariar pessoas que você ama, pois as que também amam você detestariam que você fosse falso com elas ou se anulasse por causa delas.

#7
Não guarde dinheiro sem saber exatamente para que o está guardando. Dinheiro parado apodrece e faz a gente dormir mal. Transforme suas riquezas em benefícios para o maior número de pessoas. É melhor perder o dinheiro que ocupa seu coração, do que o coração que se ocupa do dinheiro.

#8
Não deixe de se olhar no espelho antes de dormir. Caso não goste do que vê, e isso se repita muitas vezes, não hesite em perder a noite de sono para planejar o que vai fazer na manhã seguinte. Ao se olhar no espelho ao amanhecer, lembre que com o sol chega também a misericórdia de Deus: a oportunidade de começar tudo de novo.

#9
Não leve mágoas, ressentimentos e amarguras para o ano que vem. Leve pessoas. Sendo necessário, perdoe ou peça perdão. Geralmente as duas coisas serão necessárias, pois ninguém está sempre e totalmente certo. Respeite as pessoas que não quiserem fazer a mesma viagem com você.

#10
Não deixe de se perguntar se existe um jeito diferente de viver. Não acredite facilmente que o jeito diferente de viver é necessariamente melhor do que o jeito como você está vivendo. Concentre mais energia em aprender a desfrutar o que tem do que em desejar o que não tem.

#11
Não deixe o trabalho e a religião atrapalharem sua vida. Cante sozinho. Leia poesias em voz alta. Participe de rodas de piada. Não tenha pressa de deixar a mesa após as refeições. Pegue crianças no colo. Ande sem relógio. Fuja dos beatos.

#12
Não enterre seus talentos. Nem que seu único tempo para usá-los seja da meia noite às seis. Ninguém deve passar a vida fazendo o que não gosta, se o preço é deixar de fazer o que sabe. Útil não é quem faz o que os outros acham importante que seja feito, mas quem cumpre sua vocação.

#13
Não crie caso com sua mulher. Nem com seu pai nem com sua mãe. Nem com seu irmão nem com sua irmã. Caso eles criem com você, faça amor, não faça a guerra. O resto se resolve.

#14
Não jogue fora a utopia. Ninguém consegue viver sem acreditar que outro mundo é possível. Faça o possível e o impossível para que esse outro mundo possível se torne realidade.

#15
Não deixe a monotonia tomar conta do seu pedaço. Ninguém consegue viver sem adrenalina. Preste bastante atenção naquilo que faz você levantar da cama na segunda-feira: se for bom apenas para você, jogue fora ou livre-se disso agora mesmo. Caso não queira levantar da cama na segunda-feira, grite por socorro.

#16
Jamais se esqueça que a pessoa mais importante do mundo é aquela que está na sua frente. Não a que está no Whats App, nem no Facebook, nem no Instagram.

#17
Não deixe de dar bom dia para Deus. Nem boa noite. Mesmo quando o dia não tiver sido bom. Com o tempo você vai descobrir que quem anda com Deus não tem dias ruins, apenas dias difíceis.

#18
Não negligencie o quarto secreto onde você se encontra com seu eu verdadeiro e com Deus – ou vice-versa. Aquele quarto é o centro do mundo – o mundo todo cabe lá dentro, pois na presença de Deus tudo está e tudo é.

#19
Não perca Jesus de vista. Não tente fazer trilhas novas, siga nos passos dEle. O caminho nem sempre será tão confortável e a vista tão agradável, mas os companheiros de viagem são incomparáveis.

#20
Não caia na minha conversa. Aliás, não caia na conversa de ninguém. Faça sua própria lista. Escolha bem seus mestres e suas referências. Examine tudo. Ouça seu coração – geralmente é ali que Deus fala. Misture tudo e leve ao forno.

#21
Não fique esperando que sua lista saia do papel. Coloque o pé na estrada. Caso não saiba por onde começar, não tem problema. O sábio disse ao caminhante que “não há caminho, faz-se caminho ao andar”.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/conselhos-para-o-novo-ano

December 30, 2014

Por surpresas em 2015

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O Natal já passou. Bem ou mal, comemoramos o soleníssimo dia em que o Verbo se fez carne (Jo 1.14), o que vale dizer, o dia em que o Deus invisível se tornou Deus visível (Cl 1.13).

Ainda resta uma festa: a passagem de um ano para outro ano. Uma bela oportunidade para desejar aos nossos queridos amigos as mais preciosas bênçãos de Deus para 2015.

Não quero cumprir apenas um ritual. Desejo ser preciso nos meus votos.

Quero desejar-lhes as surpresas de Deus.

Surpresas são acontecimentos não previstos, não pensados, não esperados, não programados, não agendados. Tenho um entusiasmo enorme por esses acontecimentos. Acredito neles. Vejo que a história bíblica está cheia de surpresas.

Deixem-me fazer uma modesta sugestão. Comecemos o ano agradecendo as surpresas de 2014 (é bom lembrar delas) e suplicando mais surpresas para 2015.

Surpresas para nós como indivíduos, como família e como igreja. Deixemos de lado as orações rebuscadas, complicadas, genéricas, e façamos orações simples, precisas e muito humildes.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/por-surpresas-em-2015

December 29, 2014

Parar de correr atrás do vento

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A história de comer vento e correr atrás do vento tem sido debatida exaustivamente por causa do livro de Eclesiastes, em que a expressão “correr atrás do vento” aparece nove vezes.

Tenho corrido atrás do que já possuo, tenho corrido atrás de novidades, tenho corrido atrás do nada, tenho corrido atrás de realização, tenho corrido atrás dos outdoors, tenho corrido atrás das multidões.

Eu e todo mundo fazemos isso o dia inteiro, o ano inteiro, a vida inteira.

No fim do dia, no fim do ano, no fim da vida, estou sempre de estômago vazio, mãos vazias, mente vazia e alma vazia, pois o vento nada mais é do que o ar em movimento. Nunca o alcanço porque ele não para de correr e corre mais depressa do que eu.

O profeta Oséias diz que Efraim alimenta-se de vento (Os 12.1). Cheguei à conclusão de que comer comida de porco – como o filho pródigo – é melhor do que alimentar-se de coisa nenhuma.

De hoje em diante, com a ajuda de Deus, vou deixar a miragem do vento de lado e correr atrás do Senhor. Ele não corre como o vento e se deixa alcançar. Ele não é uma miragem fugaz, mas uma realidade contínua. Portanto, eu me ligarei a ele com vontade, com firmeza, com disposição.

Minha ligação com o Senhor tem de ser igual à ligação dos ramos com a videira. Por meio dessa ligação a seiva passa da videira para o galho, do galho para os brotos, dos brotos para os frutos (Jo 15.5). E dos frutos eu faço o vinho.

Minha ligação com o Senhor me torna membro do seu corpo, que é a igreja (1Co 12.27).

Minha ligação com o Senhor me torna filho de Deus e, se eu sou seu filho, claro, sou seu herdeiro e também co-herdeiro com Cristo (Rm 8.17).

Minha ligação com o Senhor torna aceitáveis as minhas orações, e o pedido que eu lhe fizer será atendido (Jo 15.7).

Minha ligação com o Senhor me torna mais do que vencedor e nada poderá me separar dele – nem a morte, nem a vida; nem os anjos nem outras potestades ou poderes celestiais; nem o presente nem o futuro; nem o mundo lá de cima nem o mundo cá de baixo (Rm 8.38-39).

Minha ligação com o Senhor me conservará em perfeita paz, porque minha confiança nele é contínua.

Minha ligação com o Senhor me faz repousar em pastos verdejantes e me leva para junto das águas de descanso, deixa-me tranquilo quando eu começo a atravessar o vale da sombra da morte (Sl 23.1- 4).

Minha ligação com o Senhor começa na margem de cá do Jordão e continua do outro lado, onde Jesus me espera depois de ter estado comigo aqui (Fp 1.21-26).

Quando eu corria atrás do vento tudo era rotina, tudo era enfado, tudo era canseira, tudo não levava a nada.

Agora, quando vou deixar o vento correr sozinho, desapegando-me de emoções transitórias, “corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória” (Fp 3.14), pois cheguei a entender que o fim principal do ser humano é conhecer o Senhor, ligar-se ao Senhor e gozá-lo nesta e na outra vida!

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/342/vou-parar-de-correr-atras-do-vento/2

December 24, 2014

Temor e mistério

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- Ricardo Barbosa

Eu sempre gostei do Natal. Embora seja uma data muito criticada pelos cristãos em virtude do forte apelo comercial e dos hábitos culturais importados, que nada têm a ver com o seu significado bíblico e histórico, ainda assim, eu gosto de celebrá-la.

A história do Natal é cheia de mistérios: visita de anjos, a gravidez de Isabel já idosa, a gravidez de Maria, ainda virgem, pelo poder de Deus, o nascimento de Jesus, o coro de anjos no céu, estrelas guiando os magos etc.

O advento do Natal é cheio de cenas surpreendentes que nos levam a um cenário completamente distante do nosso universo racional e científico. Quando olho para pessoas como Isabel e Zacarias, Maria e José, os magos e os pastores, personagens centrais na história da salvação, fico pensando se minhas reações seriam semelhantes às que eles tiveram, se haveria em mim lugar para participar desta história. A resposta mais provável seria que não. Minha jornada de fé é muito racional, sem espaço para mistérios, visitas de anjos, sonhos ou visões.

A pergunta que eu me faço diante deste cenário é: qual a virtude espiritual necessária para compreender, aceitar e participar dos mistérios de Deus e sermos agentes da sua história da salvação? Penso que a resposta a esta pergunta está numa expressão que aparece várias vezes na narrativa bíblica do Natal: temor.

Zacarias, Maria, José e os pastores, ao receberem a visita do anjo do Senhor, ficaram perturbados e confusos. O anjo, porém, os acalmou dizendo que não tivessem medo, e todos responderam a Deus com profunda reverência e temor. Maria, frente ao inusitado, se coloca perante Deus e, com humildade, temor e reverência, responde dizendo: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Sua postura diante do anúncio dos propósitos de Deus revela o temor com que tratou os segredos que lhe foram confiados.

Para sermos agentes da história da salvação, precisamos aprender a cultivar o temor ao Senhor, a reconhecer que Deus é o Criador e Senhor, e nós, suas criaturas e servos. Afirmações bíblicas como: “O Senhor está no seu santo templo, cale-se diante dele toda a terra” (Hb 2.20); “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Sl 25.14), “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus…” (Sl 46.10) são cada vez mais raras entre nós.

Sem temor e reverência seria impossível a resposta de Zacarias, de Maria ou dos pastores nos campos de Belém à visita do anjo do Senhor. Da mesma forma, a resposta de Jesus no Getsêmani seria impossível sem a absoluta submissão do Filho ao Pai. Foram o temor e a reverência que deram aos discípulos a condição de participar de eventos como a transfiguração, a ascensão e os sonhos e diferentes visões que deram rumo à igreja em Jope, Corinto ou Patmos. Deus fala, nós ouvimos. Ordena, e nós obedecemos. O temor e a reverência são a postura adequada diante da grandeza, majestade, santidade e poder de Deus.

Com a mente e o coração agitados, não é possível compreender os mistérios de Deus, ouvir sua voz através de sua Palavra ou perceber aquilo que ele está fazendo. A falta de reverência e temor para com o sagrado transforma a realidade divina e eterna em algo completamente humano, terreno, fútil e banal. Invertemos a ordem da criação.

“Não temas!” Esta foi a expressão mais comum nos dias do primeiro Natal. O temor, por um lado, levou os protagonistas desta história a se curvarem diante do inusitado, do incomum. A não tratarem com indiferença a visita do Senhor. A não tentarem manipular, racionalizar ou espiritualizar a manifestação do Todo-Poderoso. Por outro lado, Deus olha para o nosso assombro, e se aproxima e diz: “Não temas, sou eu, é meu anjo, é minha promessa”. O temor nos leva a aquietar o coração, a acolher a promessa, a esperar a salvação e a nos entregar ao serviço e propósito de Deus.

O Natal é um tempo em que somos convidados a olhar para este cenário tão incomum nos nossos dias. A reconhecer que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos e seus pensamentos não são os nossos pensamentos; que não podemos aprisionar Deus em nossos limitados esquemas religiosos.

Ele é o Criador e Senhor; nós, suas criaturas e servos.

“Glória a Deus nas maiores alturas” (Lc 2.14).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/316/temor-e-misterio

December 23, 2014

Nasceu um Menino

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"Jesus nasceu na cidade de Belém, na região da Judéia, quando Herodes era rei da terra de Israel. Nesse tempo alguns homens que estudavam as estrelas vieram do Oriente e chegaram a Jerusalém. Eles perguntaram: — Onde está o menino que nasceu para ser o rei dos judeus? Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mateus 2:1,2)

- Luis Antonio Luize

A dinâmica da vida moderna tem trazido uma espécie de ativismo exagerado. Parece não haver mais tempo para celebrar com a família.

De todas as festas que comemoramos ao longo do ano, o Natal e o Ano Novo parecem ser as que mais são usados no sentido de reuniões de família.

Muitos têm se preocupado tanto em querer saber se o Natal é realmente uma festa cristã, que ficam discutindo sobre o dia correto em que Jesus nasceu, sobre a árvore de natal, o papai noel, as luzes e tudo mais que é usado nesta data.

A minha sogra nasceu num dia e foi registrada alguns dias depois, e justamente na época do Natal. Logo, tem duas datas para comemorar seu aniversário, o que não é nenhum problema para ela. O importante é que a data seja lembrada e ela receba o carinho dos seus sete filhos.

Da mesma forma, pouco importa o dia em que Jesus nasceu, o que importa é comemorarmos seu nascimento. Esta data é tão importante que nosso calendário é dividido em antes e depois de Cristo (A.C. e D.C.).

Independentemente do que é usado para lembrar seu nascimento, é importante lembrar que sua vida foi o maior presente que a humanidade já recebeu.

Quando presenteamos alguém no Natal, fazemos isso porque amamos e respeitamos essa pessoa. Foi movido por um amor que não pode ser medido que Deus Pai enviou seu único filho para morrer pelos nossos pecados. Este presente não pode ser pago por ninguém, tem um preço muito alto.

Sua vida e morte restaurou nosso relacionamento com Deus e, portanto, devemos celebrar esta data com a família e em comunhão.

Mais do que dar um presente aos nossos familiares, cônjuge, filhos ou pais, devemos amá-los e respeitá-los, pois assim transmitiremos o mesmo amor de Deus Pai ao nosso próximo.

Das lembranças dos natais da minha infância o que mais me lembro é das reuniões de família. Havia muito amor, carinho, comunhão e presentes. O engraçado é que não me lembro dos presentes que ganhei, mas me lembro da família toda reunida numa mesa simples mas grande, um almoço saboroso seguido dos adultos conversando animados e as crianças brincando em volta deles.

A cena que tenho registrado em minha mente é de uma destas reuniões que ocorreu em Mandaguaçú-PR, na casa do tio Luis, que chamamos de Neno. Ele que é hábil em manusear madeira, fez uma mesa de tábuas, bem longa, com bancos também de tábuas, e colocou a mesa no jardim na parte de trás da casa.

Nós tivemos que viajar uns 120 quilômetros para chegar lá e participar da festa.

Todos puderam se sentar em volta desta mesa e comemorar o Natal. A minha prima Neidinha me deu um presente, só lembro do ato dela, mas não sei qual foi o presente que ela me deu.

Tudo muito simples, mas havia comunhão em amor. Creio que isto representa o que é esperado desta data.

Muitas famílias têm perdido o desejo de reunir-se e celebrar. Talvez porque perderam o costume ou então pelas desavenças que ocorreram durante o ano entre os familiares. De qualquer forma, é uma data propícia para dar o que você possui de mais precioso, o seu perdão, e assim restabelecer a comunhão.

Jacó desejava se reconciliar com seu irmão e foi em sua direção. Quando estava para se reencontrar com Esaú, ele enviou na sua frente algumas pessoas com presentes para entregar a ele como uma demonstração de amor e pedido de perdão. Depois disto eles se encontraram e se reconciliaram.

Hoje, Telma e eu fazemos questão de reunir nossos familiares em casa para o almoço. Como a família é grande, o almoço facilmente chega a 20 ou 30 pessoas. Este momento permite que possamos reconectar os laços e as gerações, derrubando barreiras e ministrando o amor a cada um, pois sabemos que o que ficará para cada um serão os sentimentos que expressarmos e não os presentes que dermos.

“Pai amado, dá-me um coração perdoador como o Teu. Que neste Natal meu maior presente possa ser o amor e a compreensão a todos que amo. Ajuda-me a reconciliar minha família para vivermos em comunhão. Amém!”

Fonte: http://www.ichtus.com.br/dev/2014/12/22/nasceu-um-menino/ 
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December 18, 2014

A simplicidade do evangelho e a sofisticação da igreja

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- Ricardo Barbosa

O evangelho de Jesus Cristo é simples. Simples na forma e simples no conteúdo. A vida e o ministério de Jesus acontecem num cenário simples. Ele anunciou as boas novas do reino de Deus, demonstrou a presença do reino através de palavras, exemplos e ações. Convidou pessoas para estarem e aprenderem com ele. Sofreu as incompreensões do sistema religioso e político do seu tempo. Morreu e ressuscitou. 
 
Após a ressurreição, encontrou-se com seus discípulos e comunicou-lhes que recebera toda autoridade no céu e na terra, e que, como Rei e Senhor, enviou seus discípulos para anunciarem as boas novas, levando homens e mulheres a guardarem tudo o que ele ensinou, integrando-os numa comunidade trinitária por meio do batismo, e prometeu estar com eles todos os dias, até o fim.
 
Alguns dias depois, no meio da festa de Pentecostes, 120 discípulos estavam reunidos em Jerusalém, e a promessa de Jesus se cumpriu. Todos foram cheios do Espírito Santo, começaram a viver a nova realidade anunciada por Jesus, saíram alegremente, por todo canto, pregando a boa notícia de que Deus visitou seu povo e trouxe salvação, justiça e liberdade.
 
A história seguiu e os cristãos foram se multiplicando, organizando igrejas, criando instituições, formas e ritos. Porém, as instituições cresceram e suas estruturas se tornaram mais complexas e sofisticadas. Transformaram-se num fim em si mesma. A simplicidade do evangelho foi substituída pela complexidade institucional.
 
C. S. Lewis, na carta 17 do livro “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, aborda o tema da glutonaria e afirma que uma das grandes realizações do maligno no último século foi retirar da consciência dos homens qualquer preocupação sobre o assunto, e isso aconteceu quando ele transformou a “gula do excesso na gula da delicadeza”. Para C. S. Lewis, o problema da gula, muitas vezes, não está no excesso de comida, mas na sofisticação, na exigência de detalhes em relação ao vinho, ao ponto do filé ou ao cozimento da massa. Fica impossível atender a um paladar tão sofisticado. A simplicidade do ato de comer dá lugar à sofisticação gastronômica. Pessoas assim, segundo o autor inglês, demitem cozinheiras, destratam garçons, abandonam restaurantes, cultivam relacionamentos falsos e terminam a vida numa solidão amarga.
 
Como igreja, corremos o mesmo risco. A simplicidade e pureza do evangelho já não provocam prazer na maioria dos cristãos ocidentais. A sofisticação da igreja, sim. É o vaso tornando-se mais valioso que o tesouro contido nele. Se a música não estiver no volume perfeito, o ar condicionado no ponto exato, a pregação no tempo apropriado, com conteúdo que agrade a todos os paladares e com o bom uso dos aparatos tecnológicos, talvez eu não me agrade desta igreja.
 
Justificamos a sofisticação com expressões como “busca por excelência”, “relevância”, “qualidade”. Parece justo. O problema é que a excelência ou a relevância do evangelho está exatamente na sua simplicidade. É cada vez mais fácil encontrar cristãos que acharam a “igreja certa” do que os que simplesmente encontraram o evangelho. A sofisticação da igreja mantém o cristão num estado de espiritualidade falsa e superficial. A maior deficiência do cristianismo não está na forma, mas no conteúdo.
 
A verdadeira experiência espiritual requer um coração aquecido e não sentidos aguçados. Precisamos elevar nossos afetos por Cristo, seu reino, sua Palavra e seu povo, e não os níveis de sofisticação e exigências institucionais. O vaso deve ser de barro, sempre. O tesouro que ele  guarda, o evangelho simples de Jesus Cristo, é que tem grande valor. 
 
A sofisticação produz queixas, impaciência, falta de caridade e egoísmo. A simplicidade sempre nos conduz a compaixão, sinceridade, devoção e auto-doação.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/340/a-simplicidade-do-evangelho-e-a-sofisticacao-da-igreja

December 17, 2014

Quem conhece bem seus muitos erros, não peca quando enumera seus poucos acertos

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Em ocasiões diferentes, dois homens proclamaram diante de Deus seu bom comportamento.

Um deles foi mais resumido: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas” (Lc 18.11).

O outro foi mais detalhado: “O Senhor me recompensa porque sou honesto; ele me abençoa porque sou inocente. Eu tenho feito a vontade do Senhor e nunca cometi o pecado de abandonar o meu Deus. Eu tenho cumprido todas as suas leis e não tenho desobedecido aos seus mandamentos. O Senhor sabe que não cometi nenhuma falta e que tenho ficado longe do mal. Assim ele me recompensa porque sou honesto e porque não sou culpado de nada” (Sl 18.20-24).

A primeira palavra foi proferida por um fariseu; a segunda, pelo salmista. É para levar a sério o testemunho deles? Eles estavam falando a verdade? Foram pronunciamentos feitos com humildade, com o temor do Senhor?

Dá para desconfiar do primeiro. Principalmente porque ele viu um publicano ali perto e agradeceu a Deus por não ser igual a ele. Em segundo lugar porque a história diz que ele voltou para casa de mãos vazias e o outro voltou para casa em paz com Deus. Em terceiro porque se trata de um fariseu, que tinha o costume de lavar o copo só por fora e de parecer boa pessoa exteriormente, embora por dentro fosse uma pessoa cheia de mentiras e pecados (Mt 23.27-28). Até hoje, fariseu é sinônimo de hipócrita e fingido.

Quanto ao outro, seu testemunho merece confiança. Davi é uma alma descoberta. É aquele que chora publicamente: “Estou cansado de tanto chorar” (Sl 6.6). É aquele que menciona sua fragilidade publicamente: “Eu sou pobre e necessitado” (Sl 40.17). É aquele que confessa pecados publicamente: “Resolvi confessar tudo a ti, e tu perdoaste todos os meus pecados” (Sl 32.5).

Se no Salmo 18 Davi enumera suas virtudes, no Salmo seguinte ele ora: “Quem pode ver os seus próprios erros? Purifica-me, Senhor, das faltas que cometo sem perceber. Livra-me também dos pecados que cometo por vontade própria; não permitas que eles me dominem” (Sl 19.12-13).

Outra coisa a favor de Davi é que ele chama Deus de sua testemunha: “O Senhor sabe que não cometi nenhuma falta e que tenho ficado longe do mal”; “Ele sabe que não sou culpado de nada” (Sl 18.23-24).

Todavia há uma crítica a fazer. Em seu entusiasmo pela santidade, Davi se esquece daquele desagradável e odioso parêntese envolvendo seu adultério com Bate-Seba e o assassinato de Urias (2Sm 11). Ele não deveria ter escrito “não cometi nenhuma falta” no Salmo 18 nem “Tenho andado sempre nos teus caminhos e nunca me desviei deles” no Salmo 17 (verso 5). Ele poderia ter escrito que não tinha cometido delito algum “a não ser no caso de Urias”, como faz o Primeiro Livro dos Reis (15.5). A rigor, melhor seria escrever “a não ser o caso de Urias, o caso da contagem do povo (2Sm 24), o caso de meus excessos militares (1Rs 5.3) e outros casos menores”!

Davi tinha consciência de seu bom comportamento e também de seu mau comportamento: “Conheço bem os meus erros” (Sl 51.3). Quem conhece bem os seus muitos erros não peca quando enumera seus poucos acertos!

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/350/quem-conhece-bem-seus-muitos-erros-nao-peca-quando-enumera-seus-poucos-acertos

December 15, 2014

O argumento do amor

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- Ricardo Barbosa

O amor, cremos, é a razão por trás de tudo. Francis Schaeffer afirmou que o amor “é a apologética final, o argumento irresistível”. Jesus disse que amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos é o maior de todos os mandamentos e o resumo de toda a lei e dos profetas. Diante da força do amor, tudo o mais fica relativo.

O cristianismo afirma que Deus é amor. Afirma que Deus nos ama incondicionalmente, que nos perdoa de todas as nossas iniquidades, nos conhece e nos aceita como somos. A prova deste amor é sua entrega final por nós na cruz. Aprendemos também que o amor deve ser nossa motivação – “se não tiver amor, nada serei”. Porém, será que a linguagem bíblica do amor é a mesma que usamos para descrevê-lo em nossa experiência humana e cristã? Suspeito que não.

O conceito de amor que temos é platônico e autocentrado. Para nós, amor é aquilo que sentimos em relação ao outro. Entretanto, no final, diz respeito a mim, ao que eu sinto, e não ao outro. O amor de Deus revelado em Cristo é exatamente o oposto, é sua autoentrega por nós. Não diz respeito ao que ele sente por nós, mas ao que ele fez por nós.

Embora eu reconheça a força do argumento do amor, reconheço também as inconsistências dele, particularmente, quando faço uso dele para me justificar. Certa vez, me encontrei, por acaso, com uma pessoa que durante anos frequentou uma igreja, mas que por motivos diversos resolveu afastar-se. Ela estava assim por vários anos. No meio da conversa, ela me disse que, embora não frequentasse nenhuma igreja e não achasse isso necessário, seu amor por Deus não havia mudado, ela continuava amando-o “de paixão” – foi a expressão que usou. O argumento era forte. Quem poderia questionar o amor (paixão) dela por Deus? Perguntei a ela: “Por acaso, Deus sente-se amado por você?”. A resposta foi tão lacônica quanto o argumento: “Não sei” – disse ela.

Eu não duvido do amor de Deus por mim, mesmo sem compreendê-lo muito bem e mesmo sabendo que não o mereço, mas sempre duvidei do meu amor por ele. Prefiro não usar o amor como argumento, pelo menos, não a meu favor. O amor é o argumento de Deus, o amante fiel, nunca o nosso, a amante infiel. É assim que o Antigo Testamento descreve a relação de Deus com seu povo.

Porém, quando inverto os polos e procuro compreender o amor divino a partir da percepção limitada que tenho do amor, corro o risco de torná-lo pequeno e ridículo. C. S. Lewis ironicamente descreve o que, no fundo, desejamos de Deus: “O que realmente nos satisfaria seria um Deus que dissesse a respeito de qualquer coisa que gostássemos de fazer: ‘Que importa se isso os deixa contentes?’. Queremos, na verdade, não tanto um Pai Celestial, mas um avô celestial – uma benevolência senil que, como dizem, ‘gostasse de ver os jovens se divertindo’ e cujo plano para o universo fosse simplesmente que se pudesse afirmar no fim de cada dia: ‘Todos aproveitaram muito’. Não são muitos os que, devo admitir, iriam formular uma teologia exatamente nesses termos”.

O amor que Jesus espera de nós é, em sua natureza, o mesmo revelado por ele. Na linguagem cristã do amor, o verbo amar e o verbo obedecer estão sempre juntos. Jesus, sendo Deus, fez-se homem, sendo homem, fez-se servo e foi obediente até a morte. Fez isso porque ama. Não existe outra forma de definir a natureza do amor divino.

Jesus disse: “Se vocês me amam, obedecerão os meus mandamentos”. Não acho que a sentença propõe uma relação de causa e efeito. Primeiro amo e, como consequência, obedeço. A sentença simplesmente define a forma do relacionamento: se amo, obedeço. Simples assim. É possível obedecer sem amar, mas jamais amar sem obedecer. A medida do nosso amor por Deus é a medida da nossa obediência a ele.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/350/o-argumento-do-amor

December 12, 2014

Por uma vida menos miserável

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Nunca na história da humanidade (apesar dos avanços da modernidade) se viu os homens aproveitarem a vida de maneira tão sem nexo, tão medíocre, tão imbecilizada, tão pobre e insignificante. As pessoas se tornaram adoentadas e plastificadas, se permitiram deixar levar por uma filosofia de vida sem sentido, desvinculada da realidade.

Há quem prefira viver uma profunda e insistente vida virtual. Abriram mão do abraço forte, do sorriso contagiante, do olhar encantador, dos trejeitos e do calor humano. Uma geração que não sabe o que é ler um livro, não sabe o que é ouvir o canto dos pássaros, nem percebe o desabrochar de uma flor e jamais sentiram o frescor da brisa suave em seus rostos. O céu com suas estrelas fulgurantes, a noite enluarada e o por do sol são estranhos a eles - embora magníficos!

Pobres vidas, vidas sem vida.

No que os homens estão se transformando? Em vidas pobres e sem sentido.

As reações tornaram-se extremamente frias e calculistas, sem emoções e sem empatia. Não importa mais se o nosso próximo sente frio, se sente fome, se sente tristeza ou outra necessidade básica da vida. Vivemos a era do curtir e do compartilhar. Uma maneira dissimulada de “apaziguar” a consciência, como se isso fosse suficiente. Fica mais fácil assim, do que ter contato físico.

Vidas embrutecidas, vidas frias, vidas sem vida.

Deus nos livre dessa dominação que empobrece e mata a alma e nos condiciona a meros espectadores da história humana. .

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/nao-empobreca-sua-vida

December 09, 2014

Qual é a real motivação do seu amor?

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 “1 Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: 2 Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;3 e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. 4 Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.7 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus”.
Ap 2: 1-7

 A desordem em Éfeso
At 19: 23-41 


23 Foi nessa ocasião que houve na cidade de Éfeso uma grande desordem por causa do Caminho do Senhor. 24 Um ourives chamado Demétrio fazia pequenos modelos de prata do templo da deusa Diana, e o seu negócio dava muito lucro aos que trabalhavam com ele. 25 Então ele chamou estes e outros da mesma profissão e disse:
— Meus amigos, vocês sabem que a nossa riqueza vem deste nosso ofício. 26 Vocês mesmos podem ver e ouvir o que esse tal de Paulo está fazendo. Ele afirma que os deuses feitos por mãos humanas não são deuses de verdade. E está conseguindo convencer muita gente, tanto daqui como de quase toda a província da Ásia. 27 Assim nós estamos correndo o perigo de ver o povo rejeitar o nosso negócio. E não é só isso. Existe o perigo de o templo da grande deusa Diana não ficar valendo mais nada e também de ser destruída a grandeza dessa deusa adorada por todos na Ásia e no mundo inteiro.
28 Quando a multidão ouviu isso, ficou furiosa e começou a gritar:
— Viva a grande Diana de Éfeso!
29 E a confusão se espalhou por toda a cidade. A multidão agarrou Gaio e Aristarco, dois macedônios que viajavam com Paulo, e os arrastou até o teatro. 30 Paulo queria falar ao povo, mas os irmãos não deixaram.31 Alguns altos funcionários daquela província, que eram amigos de Paulo, mandaram a ele um recado, pedindo que não fosse ao teatro.32 Naquela altura dos acontecimentos a multidão que se achava no teatro estava em completa desordem: uns gritavam uma coisa, e outros gritavam outra, pois a maioria nem sabia por que estava ali. 33 Algumas pessoas ficaram pensando que Alexandre era o culpado, pois os judeus o obrigaram a ir e ficar lá na frente. Aí Alexandre fez um sinal com a mão e tentou falar para se defender diante do povo. 34 Mas, quando perceberam que ele era judeu, ficaram gritando todos juntos a mesma coisa durante duas horas:
— Viva a grande Diana de Éfeso!
35 Finalmente o secretário da prefeitura da cidade conseguiu acalmar o povo. Ele disse o seguinte:
— Cidadãos de Éfeso! Todos sabem que a nossa cidade é a guardadora do templo da grande Diana e da pedra sagrada que caiu do céu. 36 Ninguém pode negar isso. Assim fiquem calmos e não façam nada sem pensar bem. 37 Vocês trouxeram aqui estes homens, mas eles não assaltaram o templo, nem ofenderam a nossa deusa. 38 Se Demétrio e os seus ajudantes têm alguma acusação contra alguém, eles podem apresentar suas acusações no tribunal, pois para isso há dias certos de reunião, e também existem os governadores. 39 Porém, se vocês querem mais alguma coisa, isso será tratado na reunião do povo, convocada de acordo com a lei. 40 Pois corremos o risco de sermos acusados de revolta, por causa do que está acontecendo hoje. Não há motivo para toda esta confusão. E nós não poderíamos justificar tudo isso.
41    Depois de dizer essas palavras, ele terminou a reunião.

PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR:

Por que o Caminho provoca tumulto?  O livro de Atos mostra a comunidade cristã vivendo num espírito de partilha o que contrasta com a idolatria do mundo pagão que defende os próprios interesses. E é neste contexto que surge o alvoroço causado pelos fabricantes de lembranças da deusa Artemis.

A. RECAPITULANDO

At 19    Éfeso v. 1 - onde ficou 2 anos e 3 meses, diariamente (11h-16h) na escola de Tirano (vv.8-10). Não é de se admirar que os efésios tenham adquirido profundidade teológica neste período. Foi a mais longa permanência numa só localidade missionária!

Entre o capítulo 18 e 20, Paulo escreve sua primeira carta aos coríntios, e quando fica preso em Roma, escreve aos efésios.

A evangelização da Ásia proconsular foi uma das fases mais frutíferas da carreira missionária de Paulo e suas experiências - especialmente o perigo de morte do qual foi liberto de modo tão inesperado - tiveram um efeito profundo sobre a vida interior de Paulo.

            - Queima de livros* no valor de 50 mil dracmas = R$ 1.207.500 (24.150 livros)  * gde centro de feitiçaria e ocultismo
            - Timóteo (1 Co 4: 17 e 1 Co 16:10)

            - Cenário: grande tumulto v. 23 (1 Co 15: 32, 1 Co 16: 8-9 e 2 Co 1: 8-10)           e escreve para os coríntios!

B. CONTEXTO HISTÓRICO

Éfeso era a capital e o principal centro de negócios da Ásia, parte da atual Turquia, e a mais ilustre das povoações jônicas. Por ser uma das maiores cidades no litoral do mar Mediterrâneo, tornou-se um centro de transporte marítimo e terrestre tão importante quanto Antioquia na Síria e Alexandria no Egito (aqui se vê mais uma vez o método de Paulo que escolhia locais estratégicos para expansão do Evangelho, onde a mensagem tinha potencial de se propagar pelas áreas adjacentes).

A cidade tinha reputação de centro de encantamentos e magias, e também se orgulhava de ter o título de guardiã do templo de Artemis, adorada por toda Ásia e mundo (At 19: 27). Este templo que era uma das 7 maravilhas do mundo antigo.

C. Estudo

v. 24 - Demétrio: cada profissão tinha sua associação de classe e tudo indica que Demétrio era o líder responsável pela corporação dos artífices de miniaturas e imagens.

           Ártemis: nome grego da deusa romana Diana. Porém, a Artemis efésia era muito diferente da deusa romana, pois tinha assumido as características de Cibele, a deusa da fertilidade, adorada na Ásia Menor e atendida por muitas sacerdotisas cultuais (prostitutas)

v. 25 - uma boa fonte de lucro: como o templo de Ártemis era uma das 7 maravilhas do mundo antigo, as pessoas vinham de toda a parte para vê-lo. As miniaturas davam muito lucro aos ourives

v. 26 - Contraste: mensagem de Paulo (Deus que não é feito por mãos humanas) x Artemis sustento dos ourives

v. 27 - Demétrio se preocupa primeiro com a questão econômica e depois com a religião.

           Templo da grande deusa: quatro vezes maior que o Partenon em Atenas, sustentado por 127 colunas de 20 metros de altura (138m x 71,5m) e adornado por grandes escultores da Antiguidade

v. 28 - O objetivo de Demétrio para iniciar uma revolta contra Paulo consistiu em despertar nos colegas de profissão o amor ao dinheiro e encorajá-los a esconder sua cobiça atrás da máscara do patriotismo e da lealdade religiosa. Os amotinadores não demonstravam motivações egoístas, viam a si mesmos como heróis que defendiam sua pátria e suas convicções religiosas.

v. 29 -  Como é fácil ajuntar uma multidão! Maaas... onde estão as sacerdotisas*?!!   *1 Rs 18: 400 profetas Baal + 450 Aserá

v. 30 - Paulo quer falar, mas seus amigos não permitem. Sabedoria e discernimento: não dar perola aos porcos nem oferecer o que é santo aos cães.

v. 31 - autoridades da província: membros de um concílio de homens ricos e influentes, eleitos para promover o culto ao imperador. Paulo tinha amigos neste círculo de alta importância.

v. 32 - a maior parte do povo nem sabia por que estava ali!

vv. 33 e 34 - A multidão reconhece que os judeus não eram adoradores de Artemis assim como os cristãos.

v. 35 - Para chamar a atenção e acalmar os ânimos, o escrivão inicia o discurso com um ponto de convergência (algo que todos concordavam): guardiã do templo - título de honra concedido à cidade que mantivesse um templo de culto imperial.

            Escrivão da cidade: secretário que publicava as decisões da assembleia do povo. Era o oficial mais importante da localidade, e principal oficial executivo da assembleia, agindo de intermediário entre Éfeso e as autoridades romanas.

v. 36 - pede calma e chama à razão (visão grega)

v. 37 - Reporta a realidade (vocês trouxeram estes homens sem ter havido roubo nem blasfêmia): a honra e a fama da grande deusa não estavam em jogo - os homens com os quais eles estavam indignados não tinham cometido sacrilégios nem blasfemado. Paulo não havia cometido nenhum sacrilégio (sentido literal = roubo do templo)

Sacrílegos (literalmente roubadores de templo). O templo era o lugar de maior segurança na antiguidade para guardar objetos de valor.

Blasfemam: o caminho mais certo para derrubar uma religião falsa é apresentar a verdade.

v. 38 - Conclama o procedimento correto a ser tomado (para qualquer crime, existe o tribunal ou as autoridades): se alguém tivesse alguma acusação contra Paulo ou os outros, tinham de usar os tribunais.

Procônsules: Na época o procônsul da Ásia era Marco Junio Silano, que foi envenenado por Agripina, mãe de Nero. Esse incidente ocorreu no intervalo entre o assassinato de Silano e a chegada de seu sucessor.

v. 39 - Lembra ainda da regra (existe a assembléia): questões que diziam respeito à cidade, deviam ser tratadas na reunião regular (assembléia cívica) e não em aglomerações ilegais como essa.

Assembléia: conforme a lei, a reunião regular dos interesses do povo era realizada três vezes por mês.

v. 40 - E conclui, de maneira sábia, sobre o perigo de insistirem no caminho da ilegalidade, lembrando à multidão que a administração romana da província não toleraria essa conduta e poderia priva-los de seus privilégios cívicos (Éfeso poderia perder sua autonomia parcial).

Éfeso estava sob o domínio do Império Romano. A principal responsabilidade dos líderes da cidade era simplesmente manter a paz e a ordem (pax romana). Se falhassem em controlar o povo, Roma destituiria os funcionários designados para o cargo. A cidade inteira poderia ser posta sob a lei marcial, perdendo grande parte de sua liberdade cívica.

O secretário tinha bons motivos de preocupação, pois talvez fosse a pessoa mais influente na cidade e seria responsável perante aos romanos pela conduta dos cidadãos.

v. 41 - Bom senso de todos: algo concreto e real a ser perdido. Deus usou a revolta em Éfeso para ensinar muitas coisas a Paulo além de convencê-lo que era hora de partir.

Priscila e Áquila arriscaram a própria vida no esforço de ajudar Paulo (Rm 16: 4 - At 18: 19)

D. Algumas perguntas

- Qual a verdadeira razão do barraco (vv. 26 e 27): embate entre Deus x deuses feitos por mãos humanas?
- O que movia Paulo? antes da conversão x depois da conversão [ amor genuíno a Deus ]
- Comportamento de Paulo: aC (legalismo capaz de matar) x dC (amor disposto a morrer)

Agora queria que você pensasse na sua própria vida:

- Quem é Deus para você: Criador ou criatura?
- Como você está?

Talvez como:
- Demétrio (engano: culpa Paulo quando seu problema é com Deus + enxerga Deus como criatura + esconde de si mesmo a real motivação da sua vida)
- ourives (defendendo os próprios interesses)
- multidão (maria-vai-com-as-outras)
- Gaio e Aristarco (pegando carona no sofrimento de alguém)
- Paulo (sendo lapidado em meio a um desafio)
- amigos influentes de Paulo (fazendo diferença na vida de alguém ao invés de cruzar os braços)
- Alexandre (aumentando ainda mais a confusão)
- escrivão da cidade (fazendo bom uso da liderança para resolver um conflito)
- ou como os efésios, que trabalhavam arduamente, mas precisavam voltar ao primeiro amor.

E. Reflexão:

- Uma palavra de Paulo: Fp 3: 7-14
- O verdadeiro sentido do Natal: Jo 3: 16
- A razão da nossa vida: Mc 12: 30 - “Ame o Senhor, o seu DEUS, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças”.


Fontes:

- Comentários Bíblia de Estudo NVI.
- Comentários Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal Revista e Atualizada.
- Comentários Bíblia Vida Nova.
- Comentários Bíblia Edição Pastoral.
- Brandão, Junito de Souza. Mitologia Grega volume 1. Petrópolis: Vozes, 2004.
- Brandão, Junito de Souza. Mitologia Grega volume 2. Petrópolis: Vozes, 2003.
- BRUCE, F.F. Paulo, o apóstolo da graça – sua vida, cartas e teologia. São Paulo: Shedd Publicações, 2003.
- REINKE, André Daniel. Atlas bíblico ilustrado. São Paulo: Hagnos, 2006.
- http://en.wikipedia.org/wiki/Temple_of_Artemis
- http://en.wikipedia.org/wiki/Pax_Romana

December 06, 2014

Alla duce del sole

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Qui c'è il buio fuori di me
ed anche un pò dentro di me
che assurdità questa città
senza persone

Io non so spiegar neanche come
ma non è questa la mia dimensione
e la mia mente non è mai in pace
è sempre altrove

Tu dove sei? La tua voce dov'è
Senza di te, senza il tuo aiuto
che sarà di me

Tutto sembrerà migliore
alla luce che verrà dal sole
Questa notte passerà

il buio che c'è si dissolverà
Si vedranno le colline
io continuerò a cercare te

Via da questa malinconia
invidia o rabbia che sia
Qui nel mio cuore
non voglio più queste parole

Tu dove sei? Il tuo sorriso dov'è
Senza di te, senza il tuo amore
che sarà di me

Tutto sembrerà migliore
alla luce che verrà dal sole
Questa notte passerà
il buio che c'è si dissolverà

E alla luce di quel sole
Io continuerò a cercare te

Tutto sembrerà migliore
alla luce, al sole
Il silenzio morirà
la gente che c'è si confonderà

E alla luce di quel sole
Io continuerò a cercare te.

https://www.youtube.com/watch?v=A14IRO1eS6Y

December 05, 2014

Espaço para Deus

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Portanto não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
 
Mt 6:31-33
- por Henri Nouwen 

INTRODUÇÃO

Neste livreto eu gostaria de explorar o que significa viver uma vida espiritual, e como se pode vivê-la. No meio das nossas vidas agitadas e turbulentas às vezes indagamos: Qual a nossa verdadeira vocação na vida?

Onde podemos achar tranqüilidade de mente para poder escutar a voz de Deus que chama? Quem pode guiar-nos através do labirinto interior dos nossos pensamentos, emoções, e sentimentos? Estas e muitas outras indagações semelhantes expressam um profundo desejo de viver uma vida espiritual, mas ao mesmo tempo uma grande obscuridade sobre seu significado e prática.

Escrevi este livreto, em primeiro lugar, para os homens e mulheres que experimentam um impulso persistente para entrar mais profundamente na vida espiritual mas que estão confusos sobre a direção em que devem andar.

Estas são as pessoas que conhecem a história de Cristo e têm um profundo desejo de deixar este conhecimento descer das suas mentes para seus corações. Sentem vagamente que tal "conhecimento do coração" pode não só dar-lhes um novo senso de identidade, mas também até mesmo fazer novas todas as coisas para eles.

Contudo estas mesmas pessoas freqüentemente sentem uma certa hesitação e temor para começar nesta vereda sem mapa, e muitas vezes se indagam se não estão se enganando. Espero que este livreto lhes ofereça algum encorajamento e direção.

Mas quero falar também, embora indiretamente, aos muitos que consideram a história de Cristo como desconhecida ou estranha, mas que experimentam um desejo indefinido por liberdade espiritual. Espero que o que foi escrito para cristãos tenha sido escrito de tal forma que haja espaço para outros descobrirem pontos de apoio na sua própria busca por um lar espiritual.

Este só pode ser um verdadeiro livreto para cristãos quando se dirige também aos que têm tantas perguntas sobre o significado da vida e que nunca acharam respostas. A autêntica vida espiritual encontra sua base na condição humana que todas as pessoas - sejam ou não cristãos têm em comum.

Como ponto de partida, escolhi as palavras de Jesus: "Não se preocupem" ("Não vos inquieteis"). A preocupação tornou-se uma parte tão integral da nossa vida cotidiana que uma vida sem preocupações não só parece ser impossível, mas até mesmo indesejável.

Suspeitamos que ficar despreocupado; não ser realista e - pior ainda – é perigoso. Nossas preocupações nos motivam a trabalhar muito, a preparar-nos para o futuro, e a armar-nos contra pendentes ameaças.

Entretanto, Jesus diz: "Não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? ... pois vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino ... e todas estas cousas vos serão acrescentadas (Mt 6:31-33).

Com este conselho radical e "utopista", Jesus indica a possibilidade de uma vida sem preocupações, uma vida em que todas as coisas estão se fazendo novas. Desejo, então, descrever a vida espiritual em que o Espírito de Deus pode nos recriar como pessoas verdadeiramente livres.

Dividi minhas reflexões em três partes. Na primeira parte, quero discutir os efeitos destrutivos da preocupação na nossa vida diária. Na segunda parte, pretendo mostrar como Jesus responde às nossas preocupações par alisadoras, oferecendo-nos uma nova vida, uma vida na qual o Espírito de Deus pode fazer todas as coisas novas para nós. Finalmente, na terceira parte, quero descrever algumas disciplinas específicas que podem levar nossas preocupações a perder paulatinamente sua força sobre nós, permitindo assim que o Espírito de Deus faça sua obra de recriação.

Capítulo 1: Todas Estas Coisas

INTRODUÇÃO

A vida espiritual não é uma vida antes, após, ou além da nossa existência cotidiana. Não, a vida espiritual só pode ser real quando é vivida no meio das dores e alegrias do aqui e agora. Portanto, precisamos começar com um exame cuidadoso da forma como pensamos, falamos, sentimos e agimos a cada hora, a cada dia, a cada semana, e a cada ano, a fim de ficarmos mais plenamente conscientes da nossa fome pelo Espírito.

Enquanto tivermos apenas um vago sentimento interior de insatisfação com nossa presente forma de vida, e somente um desejo indefinido por "'coisas espirituais", nossas vidas continuarão a estagnar-se em melancolia generalizada.

Freqüentemente dizemos: "Não estou muito feliz. Não estou contente com o rumo da minha vida. Não tenho muita alegria ou paz, mas como não sei como as coisas poderiam ser diferentes, suponho que devo ser realista e aceitar a vida como é".

É este espírito de resignação que nos impede de ativamente buscar a vida do Espírito.

Nossa primeira tarefa é expulsar este vago e obscuro sentimento de insatisfação e fazer um exame crítico da forma que estamos vivendo. Isto requer honestidade, coragem e confiança. Temos de honestamente desmascarar e corajosamente confrontar nossas numerosas brincadeiras que usamos para enganarmos a nós mesmos. Temos que confiar que nossa honestidade e coragem não nos levarão ao desespero, mas a um novo céu e a uma nova terra.

Bem mais do que o povo da época de Jesus, nós nesta "era moderna" podemos ser chamados de povo preocupador. Mas como nossa preocupação contemporânea realmente se manifesta? Depois de examinar criticamente minha própria vida e as vidas ao meu redor, duas palavras surgem como descritivas da nossa situação: cheios e não realizados.

CHEIOS

Uma das características mais óbvias das nossas vidas diárias é que estamos atarefados. Na nossa vida os dias são cheios de coisas para fazer, pessoas para encontrar, projetos para terminar, cartas para escrever, telefonemas para completar, e compromissos para guardar. Nossas vidas muitas vezes parecem malas abarrotadas rebentando nas costuras.

Na realidade, quase sempre estamos cônscios de algum atraso. Há um sentimento incômodo que importunamente nos avisa que há tarefas incompletas, promessas não cumpridas, propostas não realizadas. Sempre há algo mais que deveríamos ter lembrado, feito ou dito.

Sempre há pessoas com quem não falamos, a quem não escrevemos ou não visitamos. Assim, embora sejamos muito atarefados, também temos um sentimento persistente de que nunca realmente cumprimos nossas obrigações.

O estranho, porém, é que é muito difícil não estar atarefado. Estar atarefado tornou-se um símbolo de status. As pessoas esperam que estejamos ocupados e que tenhamos muitos assuntos na nossa mente.

Freqüentemente nossos amigos nos dizem: "Imagino que você está ocupado como sempre", e o dizem em tom de elogio. Reafirmam a presunção generalizada que é bom estar atarefado. De fato, os que não sabem o que fazer no futuro imediato incomodam seus amigos.

Estar atarefado e ser importante normalmente parecem significar a mesma coisa. Muitos telefonemas começam com a frase: "Sei que você está ocupado, mas será que poderia me dar um minuto?" Com isto, sugerem que tomar um minuto de quem tem uma agenda cheia vale mais do que tomar uma hora de quem tem pouco para fazer.

Na nossa sociedade orientada para produção, estar atarefado ou ter uma ocupação tornou-se uma das principais formas, se não a principal, de nos identificar. Sem uma ocupação, não só nossa segurança econômica, mas nossa própria identidade é ameaçada. Isto explica o grande temor com que muitas pessoas enfrentam a aposentadoria. Afinal, quem somos depois de não mais ter uma ocupação?

Mais escravizadoras do que nossas ocupações, porém, são as nossas preocupações. Estar preocupado significa encher nosso tempo e espaço muito antes de chegar lá. Isto é inquietação no sentido mais específico da palavra. É uma mente cheia de "se".

Dizemos a nós iremos: "E se eu ficar gripado? Se eu perder meu emprego? Se o meu f ilho não chegar em casa na hora certa? Se não houver bastante alimento amanhã? Se eu for atacado? Se uma guerra começar? Se o mundo acabar? Se ... ?".

Todas essas perguntas enchem a nossa mente com pensamentos ansiosos e fazem-nos indagar constantemente sobre o que fazer e o que dizer caso algo aconteça no futuro. Grande parte, senão a maioria, do nosso sofrimento tem ligação com estas preocupações.

Possíveis mudanças de carreira, possíveis conflitos familiares, possíveis enfermidades, possíveis desastres, e um possível holocausto nuclear fazem-nos ansiosos, temerosos, desconfiados, gananciosos, nervosos e melancólicos. Impedem-nos de sentir uma verdadeira liberdade interior.

Por estarmos sempre prontos para eventualidades, raramente confiamos plenamente no agora. Não é exagero dizer que grande parte da energia humana é investida nestas preocupações temerosas. Tanto nossa vida individual como coletiva estão tão profundamente moldadas por nossas preocupações com o amanhã, que dificilmente o hoje pode ser vivido.

Não somente estar ocupado mas também estar preocupado é altamente encorajado por nossa, sociedade. A forma que jornais, rádio e televisão nos comunicam suas informações cria uma atmosfera de constante emergência. As vozes excitadas dos repórteres, a preferência por acidentes repugnantes, crimes cruéis, e conduta pervertida, e a cobertura de hora em hora da miséria humana dentro e fora do país, lentamente nos engolfam num senso abrangente de iminente destruição.

Além de todas essas notícias ruins existe a avalanche de anseios. Sua insistência inflexível de que perderemos alguma coisa muito importante se ficarmos sem ler este livro, sem ver este filme, sem ouvir este locutor, ou sem comprar este novo produto, intensifica nossa inquietação e acrescenta muitas preocupações fabricadas às preocupações já existentes. Às vezes parece como se nossa sociedade dependesse da manutenção dessas preocupações artificiais.

Que aconteceria se parássemos de nos preocupar? Se o desejo por divertir tanto, viajar tanto, comprar tanto, e nos proteger tanto, não mais motivasse nosso comportamento, será que nossa sociedade atual ainda poderia funcionar? A tragédia é que realmente estamos presos num emaranhado de expectativas falsas e necessidades arranjadas. Nossas ocupações e preocupações enchem nossas vidas externas e internas até ao máximo. Impedem o Espírito de Deus de fluir livremente em nós e desta forma renovar nossas vidas.

NÃO REALIZADOS

Sob a preocupação das nossas vidas, contudo, algo mais está acontecendo. Ao mesmo tempo em que nossa mente e coração estão cheios com muitas coisas, levando-nos a indagar como podemos satisfazer as expectativas impostas sobre nós por nós mesmos e por outros, temos um sentimento profundo de não realização.

Embora atarefados e preocupados com muitas coisas, raramente nos sentimos verdadeiramente realizados, em paz, ou em casa. Um sentimento corrosivo de não realização está sob a superfície das nossas vidas ocupadas. Refletindo um pouco mais sobre esta experiência de não realização, posso discernir diversos sentimentos. Os mais significativos são enfado, ressentimento e depressão.

Enfado é um sentimento de estar desligado. Enquanto estamos atarefados com muitas coisas, indagamos se o que fazemos realmente faz alguma diferença. A vida se apresenta como uma série aleatória de atividades e acontecimentos desconexos sobre os quais temos pouco ou nenhum controle. Estar enfadado, portanto, não significa que não temos nada para fazer, mas que questionamos o valor das coisas que estamos tão atarefados em fazer.

O grande paradoxo da nossa época é que muitos de nós estamos simultaneamente atarefados e enfadados. Enquanto corremos de um acontecimento para outro, indagamos em nosso próprio íntimo se alguma coisa está realmente acontecendo. Embora dificilmente cumpramos com nossas tarefas e obrigações, não estamos tão certos se faria alguma diferença se não as cumpríssemos. Enquanto as pessoas continuam nos empurrando por todos os lados, duvidamos se alguém realmente se importa conosco.

Em resumo, embora nossas vidas estejam cheias, nós nos sentimos não realizados.

Enfado muitas vezes está intimamente relacionado com ressentimentos Ao mesmo tempo em que estamos atarefados, ainda indagamos se nossa atividade significa algo para alguém. Facilmente sentimo-nos usados, manipulados, e explorados. Começamos a nos ver como vítimas mandadas e forçadas a realizar toda sorte de coisas por pessoas que realmente não nos consideram seriamente como seres humanos.

A partir daí uma ira interior começa a se desenvolver, uma ira que com o tempo se instala no nosso coração como um companheiro constantemente queixoso. Nossa ira quente aos poucos se torna uma ira fria. Esta "ira congelada" é o ressentimento que causa um efeito tão mortífero em nossa sociedade.

Porém, a expressão mais debilitante de nossa não realização é depressão. Quando começamos a sentir que não somente nossa presença não faz muita diferença, mas que também nossa ausência talvez seja preferível, podemos facilmente ser enrolados por um sentimento opressivo de culpa.

Esta culpa não tem ligação com nenhuma atividade particular, mas com a própria vida. Sentimo-nos culpados por estar vivos. O pensamento de que o mundo talvez fosse melhor sem refrigerante, desodorante, ou submarino nuclear, cuja produção preenche as horas de trabalho de nossa vida, pode levar-nos à desesperante pergunta: "Vale a pena viver?"

Portanto, não é de se admirar que pessoas que são sempre elogiadas por seus êxitos e realizações, freqüentemente sentem muita falta de realização, até ao ponto de suicidarem-se.

Enfado, ressentimento e depressão são todos os sentimentos de desligamento. Apresentam-nos a vida como um elo quebrado. Transmitem a nós um senso de não pertencer. No caso de relacionamentos pessoais, esta desconexão é experimentada como solidão.

Quando estamos solitários vemos a nós mesmos como indivíduos isolados, cercados, talvez, por muitas pessoas, mas não realmente parte de qualquer comunidade de apoio e proteção.

Sem dúvida solidão é uma das doenças mais disseminadas do nosso tempo. Afeta não somente a vida dos aposentados, mas também a vida familiar, a vida comunitária, a vida escolar, e a vida profissional. Causa sofrimento não somente às pessoas idosas, mas também às crianças, aos jovens e adultos. Penetra não somente em prisões mas também em residências particulares, edifícios de escritórios e hospitais. É vista até na interação cada vez mais escassa entre pessoas nas ruas de nossas cidades.

No meio de toda esta solidão impregnante muitos clamam: "Existe alguém que realmente se importa comigo? Existe alguém que pode arrancar meu sentimento interior de isolamento? Existe alguém com quem eu possa me sentir em casa?"

É este sentimento paralisante de abandono que constitui o cerne da maioria do sofrimento humano. Podemos suportar muito sofrimento físico e até mental quando sabemos que isto verdadeiramente nos torna uma parte integrante da vida que vivemos juntos neste mundo. Mas quando nos sentimos cortados da família dos seres humanos, rapidamente desfalecemos.

Enquanto acreditamos que nossos sofrimentos e lutas nos unem aos nossos companheiros e companheiras humanos, fazendo-nos assim partes da luta comum do ser humano por um futuro melhor, estamos plenamente dispostos para aceitar uma tarefa exigente.

Mas quando nos consideramos espectadores passivos sem nenhuma contribuição para fazer à história da vida, nossos sofrimentos não são mais sofrimentos construtivos e nem nossas lutas servem para produzir nova vida, porque assim temos um sentimento de que nossas vidas acabam e desaparecem depois de nós, sem nos levar a destino algum.

De fato, às vezes somos obrigados a dizer que a única coisa que lembramos de nosso passado recente é que estávamos muito atarefados, que todas as coisas pareciam muito urgentes e que dificilmente podíamos colocá-las em dia. O que fizemos não lembramos. Isto mostra quão isolados nos tornamos. O passado não mais nos leva para o futuro; simplesmente nos deixa preocupados sem nenhuma promessa de mudanças para o melhor.

Nosso desejo de ser livres deste isolamento pode se tornar tio forte que explode em violência. Então nossa necessidade por um relacionamento íntimo - com um amigo, um namorado, ou uma comunidade apreciativa - se transforma num apelo desesperado por alguém que nos ofereça uma satisfação imediata, relaxamento de tensão, ou um sentimento temporário de identificação. Neste caso, nossa necessidade mútua degenera e torna-se uma agressão perigosa que causa muito dano e somente intensifica nosso sentimento de solidão.

CONCLUSÃO

Espero que estas reflexões tenham nos aproximado mais do significado da palavra "preocupação" tal como foi usada por Jesus. Hoje preocupação significa estar ocupado e preocupado com muitas coisas, e ao mesmo tempo estar enfadado, ressentido, deprimido, e muito solitário. Não estou tentando dizer que todos nós em todo tempo estamos tão extremamente preocupados.

Porém, há pouca dúvida em minha mente que a experiência de estar cheio porém não realizado atinge a maioria de nós em alguma medida em algum tempo da nossa vida. Em nosso mundo altamente tecnológico e competitivo, é difícil evitar completamente as forças que saturam nosso espaço interior e exterior e desligam-nos de nosso ser mais íntimo, dos nossos companheiros humanos, e do nosso Deus.

Uma das características mais notáveis da preocupação é que ela fragmenta nossas vidas. As muitas coisas que temos de fazer, considerar, e planejar, as muitas pessoas que precisamos lembrar, visitar, ou conversar, as muitas causas que devemos atacar ou defender, tudo isto despedaça-nos e nos faz perder nosso equilíbrio. Preocupação nos leva a estar "em todo lugar", mas raramente em casa.

Uma forma de expressar a crise espiritual de hoje é dizer que a maioria de nós tem um endereço, mas não pode ser encontrado lá. Sabemos onde está nosso lugar, mas estamos sempre sendo arrastados em muitas direções, como se fôssemos ainda desabrigados. "Todas estas coisas" estão sempre exigindo nossa atenção. Levam-nos tão longe de casa que no fim nos esquecemos do nosso verdadeiro endereço, isto é, o lugar onde podemos ser encontrados.

Jesus reage a esta condição de estar cheio porém não realizado, muito atarefado porém desligado, em todo lugar porém nunca em casa. Ele nos quer levar ao lugar onde pertencemos.

Mas seu chamado para viver uma vida espiritual só pode ser ouvido quando queremos honestamente confessar nossa existência desabrigada e preocupada e reconhecer seu efeito fragmentador em nossa vida diária.

Só então um desejo por nosso verdadeiro lar pode ser desenvolvido. É a respeito deste desejo que Jesus fala quando diz: "Não vos preocupeis... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e todas estas cousas vos serão acrescentadas".

Capítulo 2: Seu Reino em Primeiro Lugar

INTRODUÇÃO

Jesus não reage ao nosso estilo de vida cheio e preocupação dizendo que não deveríamos estar tão ocupados com afazeres terrenos. Ele não tenta nos retirar dos muitos eventos, atividades, e pessoas que compõem nossas vidas. Não nos diz que o que fazemos não tem importância, valor, ou utilidade.

Nem sugere que devemos nos afastar de nossos envolvimentos e viver vidas calmas, tranqüilas e retiradas das lutas do mundo.

A resposta de Jesus para nossas vidas cheias de preocupação é bem diferente. Ele pede de nós que substituamos nosso ponto de gravidade, relocalizemos o centro de nossa atenção, que mudemos as nossas prioridades. Jesus quer que deixemos as "muitas coisas" para a "única coisa necessária".

É importante que compreendamos que Jesus não quer de forma alguma que deixemos nosso mundo de muitas facetas. Antes, quer que vivamos nele, mas firmemente arraigados no centro de todas as coisas.

Jesus não fala sobre uma mudança de atividades, uma mudança de contatos, ou até uma mudança de ritmo. Ele fala sobre uma mudança de coração. Esta mudança de coração faz todas as coisas diferentes, até mesmo quando todas as coisas parecem permanecer as mesmas. Este é o significado de: "Buscai, pois em primeiro lugar, o seu reino... e todas estas coisas serão acrescentadas".

O mais importante é onde estão nossos corações. Quando nos preocupamos, temos nossos corações no lugar errado. Jesus pede que coloquemos nossos corações no centro, onde todas as outras coisas irão se encaixar.

Qual é este centro? Jesus o chama de reino, o reino do Seu Pai. Para nós do século XX, isto pode não ter muito significado. Reis e reinos não exercem um papel muito importante em nossa vida diária. Mas somente quando entendemos as palavras de Jesus como um chamado urgente para colocar a vida do Espírito de Deus como nossa prioridade é que podemos ver melhor o que está envolvido.

Um coração que busca o reino do Pai é também um coração que busca a vida espiritual. Buscar o reino, portanto, significa colocar a vida do Espírito, dentro de nós e entre nós como o centro de tudo que pensamos, dizemos ou fazemos.

Agora, quero explorar em mais profundidade esta vida no Espírito. Primeiro precisamos ver como o Espírito de Deus se manifesta na própria vida de Jesus. Depois precisamos discernir o que significa para nós ser chamados por Jesus para entrar com ele nesta vida do Espírito.

A VIDA DE JESUS

Não há muita dúvida de que a vida de Jesus foi uma vida muito atarefada. Ele esteve atarefado ensinando seus discípulos, pregando às multidões, curando os doentes expelindo demônios, respondendo perguntas de inimigos e amigos, e andando de um lugar para outro.

Jesus estava tão envolvido em atividades que se tornava difícil ter algum tempo sozinho. Esta história nos dá uma idéia. "À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos, e endemoninhados. Toda a cidade estava reunida à porta. E ele curou muitos doentes de toda sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios ... Tendo se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava. Procuravam-no diligentemente Simão e os que com ele estavam. Tendo-o encontrado, lhe disseram: Todos te buscam. Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim. Então foi por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios" (Mt 1:32-39).

Está claro neste relato que Jesus tinha uma vida muito cheia e raramente, possivelmente nunca, era deixado sozinho. Pode até nos dar a impressão de um fanático impulsionado a transmitir sua mensagem por todo lado a qualquer custo. A verdade, porém, é diferente.

Quanto mais nos aprofundamos nos relatos do Evangelho sobre sua vida, mais vemos que Jesus não era um zelote tentando realizar muitas coisas diferentes a fim de alcançar uma meta imposta por ele mesmo.

Ao contrário, tudo o que sabemos sobre Jesus mostra que estava interessado numa coisa somente: fazer a vontade do seu Pai. Nada nos Evangelhos é tão marcante como a obediência resoluta de Jesus a seu Pai.

Desde suas primeiras palavras registradas ditas no templo. "Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?" -(Lc 2:49), até suas ultimas palavras na cruz- "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc.23:46), o único interesse de Jesus era fazer a vontade de seu Pai. Ele disse: "...o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai..." (Jo 5-19).

As obras que Jesus fez são as obras que o Pai o enviou para fazer, e as palavras que falou são as palavras que o Pai lhe deu. Ele não deixa duvida sobre isto: "Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.." (Jo 10: 37);" ...e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou" (Jo 14: 24).

Jesus não e nosso Salvador simplesmente por causa do que disse ou fez para nós. É o nosso Salvador porque o que disse e fez foi dito e feito em obediência a seu Pai. Por isto Paulo pode dizer. "Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos" (Rm 5:19). Jesus é o homem obediente.

O centro da sua vida é este relacionamento de obediência com o Pai. Isto pode ser difícil para nós entendermos, porque a palavra "obediência" tem tantas conotações negativas em nossa sociedade. Faz-nos pensar em figuras autoritárias que impõem a vontade deles sobre os nossos desejos. Faz-nos lembrar de acontecimentos infelizes da infância ou tarefas difíceis executadas sob ameaças de castigo. Mas nada disto se refere à obediência de Jesus.

Sua obediência significa uma atenção total e destemida a seu Pai amoroso. Entre o Pai e o Filho há somente amor. Todas as coisas que pertencem ao Pai, ele confia ao Filho (Lc IO:22), e todas as coisas que o Filho recebe, devolve ao Pai. O Pai se abre totalmente para o Filho e coloca todas as coisas em ,suas mãos: todo conhecimento (Jo 12:50), toda glória (Jo 8:54), todo poder (Jo 5:19-21).

E o Filho se abre totalmente para o Pai e desta forma devolve todas as coisas às mãos de seu Pai. "Vim do Pai e entrei no mundo; todavia deixo o mundo e vou para o Pai" (Jo 16:28). Este amor inexaurível entre o Pai e o Filho inclui e até transcende todas as formas de amor que conhecemos. Inclui o amor de pai e mãe, irmão e irmã, esposo e esposa, professor e amigo. Mas também vai muito além das muitas limitadas e limitantes experiências humanas de amor que conhecemos.

É um amor que cuida mas exige. É um amor sustentador mas severo. É um amor suave mas forte. É um amor que da vida. mas aceita a morte. Neste divino amor Jesus foi enviado ao mundo, e por este divino amor Jesus se ofereceu na cruz.

Este amor envolvente, que sintetiza o relacionamento entre o Pai e o Filho, é uma Pessoa divina, co-ígual com o Pai e o Filho.. Tem um nome pessoal. É chamado Espírito Santo. O Pai ama o Filho e se derrama no Filho. O Filho é amado pelo Pai e devolve tudo que ele é ao Pai. O Espírito é o próprio amor em si, eternamente envolvendo o Pai e o Filho.

Esta comunidade eterna de amor é o centro e fonte da vida espiritual de Jesus, uma vida de sensibilidade ininterrupta para com o Pai no Espírito de amor. É desta vida que o ministério de Jesus floresce. Comendo e jejuando, orando e agindo, viajando e descansando, pregando e ensinando, expulsando e curando, tudo foi feito neste Espírito de amor.

Nunca entenderemos o pleno significado do rico e variado ministério de Jesus sem que vejamos como as muitas coisas são enraizadas em uma coisa: ouvir o Pai numa intimidade de amor perfeito.

Quando virmos isto, também compreenderemos que o alvo do ministério de Jesus é nada menos que nos introduzir nesta mais intima comunidade.

NOSSAS VIDAS

Nossas vidas são destinadas a se tornarem como a vida de Jesus. Afinal, o propósito total do ministério de Jesus é levar-nos -a casa do seu Pai. Jesus não veio somente para nos libertar dos grilhões do pecado e da morte, senão também para levarmos à intimidade desta vida divina. Para nós é difícil imaginar o que isto significa.

Nossa tendência a enfatizar a distancia entre Jesus e nós mesmos. Vemos Jesus como o Onisciente e Onipotente Filho de Deus, o qual é inatingível para nós seres humanos caídos e pecadores. Mas pensando desta forma, esquecemos que Jesus veio para nos dar sua própria vida. Veio para nos elevar à participação na comunidade de amor com o Pai.

Somente quando reconhecemos o propósito fundamental do ministério de Jesus é que estaremos aptos a entender o significado da vida espiritual. Todas as coisas que pertencem a Jesus nos são dadas para que as recebamos.

Tudo que Jesus fez nós também podemos fazer. Jesus não se refere a nós como cidadãos de segunda classe. Ele não retém nenhuma coisa de nós: " ... tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer" (Jo 15:15); " ... aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço..."(Jo 14:12). Jesus quer que estejamos onde ele está.

Em sua oração sacerdotal, ele não deixa duvida alguma sobre sua intenção: "... a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti ... Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos, eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste... Eu lhes fiz conhecer o teu nome ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja" (Jo 17:21-26).

Estas palavras são uma expressão bela da natureza do ministério de Jesus. Ele se tornou como nós para que pudéssemos nos tornar como ele. Ele não se apegou a sua unidade com Deus, mas se esvaziou e se tornou como nós para, que pudéssemos nos tornar como ele e desta forma participar da sua vida divina.

Esta transformação radical de nossas vidas é a obra do Espírito Santo. Os discípulos mal conseguiam compreender o significado de Jesus.Enquanto Jesus estava presente com eles na carne, ainda não reconheciam sua presença plena no Espírito.

Por isto Jesus disse: "Convém-vos que eu vá, porque se eu não for o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei ... quando vier, porém, o, Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falara por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciara as cousas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que a meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que a meu e vo-lo há de anunciar" (Jo 16:7, 13-15).

Jesus envia o Espírito para nos levar à plena verdade da vida divina. Verdade não significa uma idéia, conceito, ou doutrina mas o verdadeiro relacionamento. Ser levado a participar da verdade é ser levado a participar do relacionamento que Jesus tem com o Pai; é entrar no noivado divino.

Desta forma o Pentecoste é a conclusão da missão de Jesus. No Pentecoste a plenitude do ministério de Jesus se torna visível. Quando o Espírito Santo desce sobre os discípulos e habita neles, suas vidas são transformadas em vidas semelhantes a Cristo, vidas moldadas pelo mesmo amor que existe entre o Pai e o Filho. A vida espiritual é realmente uma vida na qual somos elevados para nos tornar participantes da vida divina.

Ser elevado à vida divina do Pai, do Filho, e do Espírito Santo não significa, porém, ser tirado do mundo. Ao contrário, aqueles que entram na vida espiritual são exatamente os que são enviados ao mundo para continuar e concluir a obra que Jesus começou. A vida espiritual não nos remove do mundo mas leva-nos a nos aprofundar mais nele.

Jesus disse para seu Pai: "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo" (Jo 17:18). Ele esclarece que exatamente porque seus discípulos não mais pertenciam ao mundo, podiam viver no mundo como ele vivia. "Não peço que os tires do mundo, e sim, que os guardes do mal. Eles, não são do mundo como também eu não sou" (Jo 17:15-16).

Vida no Espírito de Jesus e portanto uma vida na qual a vinda de Jesus ao mundo sua encarnação, sua morte, e ressurreição demonstrada por aqueles que entraram no mesmo relacionamento de obediência ao Pai que marcou a própria vida de Jesus. Tornando-nos filhos e filhas como Jesus foi Filho, nossas vidas se tornam uma continuação da missão de Jesus.

"Estar no mundo sem ser do mundo". Estas palavras sintetizam bem a maneira que Jesus fala sobre a vida espiritual. É uma vida na qual somos totalmente transformados pelo Espírito de amor. Contudo é uma vida onde todas as coisas parecem permanecer as mesmas.

Viver uma vida espiritual não significa que devemos deixar nossas famílias, abandonar nossos empregos, ou mudar nossas formas de trabalhar; não significa que temos de nos afastar de atividades políticas e sociais, ou perder interesse na literatura e na arte; não exige formas severas de ascetismo ou longas horas de oração. Mudanças como estas podem de fato vir como frutos da nossa vida espiritual, e para algumas pessoas decisões radicais podem ser necessárias.

Mas a vida espiritual pode ser vivida de tantas formas quanto existem pessoas. A novidade é que nos transferimos das muitas coisas para o reino de Deus. A novidade que nos livramos das coerções do mundo e colocamos nossos corações na única, coisa necessária.

A novidade é que não experimentamos mais as muitas coisas pessoas e acontecimentos como motivos infindáveis de preocupação, mas começamos a experimentá-los como maneiras ricas e variadas nas quais Deus manifesta sua presença para nós.

De fato, viver uma vida espiritual requer uma mudança de coração, uma conversão. Tal conversão pode ser marcada por uma mudança interior repentina, ou pode ocorrer através de um longo e suave processo de transformação.

Mas sempre envolve uma experiência interior de harmonia. Compreendemos que agora estamos no centro, e que desta posição tudo que existe e ocorre pode ser visto e entendido como parte do mistério da vida de Deus conosco.

Nossos conflitos e dores, nossas tarefas e compromissos, nossas famílias e amigos, nossas atividades e projetos, nossas esperanças e aspirações, não mais se nos apresentam como uma variedade de coisas fatigantes que mal conseguimos controlar, mas antes se revelam como afirmações e revelações da nova vida do Espírito em nós. "Todas estas coisas", que nos ocupavam e preocupavam ' agora vêm como dons ou desafios que fortalecem e aprofundam a nova vida que descobrimos.

Isto não significa que a vida espiritual torna as coisas mais fáceis ou que abole nossos esforços e lutas. A vida dos discípulos de Jesus mostra claramente que o sofrimento não diminui por causa da conversão. Às vezes até se torna mais intenso.

Mas nossa atenção não é mais dirigida para esta questão de "mais ou menos". O importante é escutar atentamente ao Espírito e ir obedientemente onde estamos sendo dirigidos quer seja um lugar alegre, quer seja doloroso.

Pobreza, dor, luta, angústia, agonia e mesmo escuridão interior podem continuar a fazer parte de nossa experiência. Podem até ser a maneira de Deus nos purificar. Mas a vida deixou de ter enfado, ressentimento, depressão, ou solidão porque aprendemos que todas as coisas que acontecem fazem parte do nosso caminho para a casa do Pai.

CONCLUSÃO

"Seu reino em primeiro lugar". Espero que estas palavras tenham adquirido um novo sentido. Elas nos chamam a seguir a Jesus em seu caminho de obediência, a entrar com ele na comunidade estabelecida pelo amor exigente do Pai, e a viver toda nossa vida daquela posição.

O reino é o lugar onde Espírito de Deus nos dirige, nos cura, nos desafia, e nos renova continuamente. Quando nossos corações estão fixos naquele reino, nossas preocupações lentamente ficam para trás, porque as muitas coisas que nos faziam preocupar tanto começam a se encaixar. É importante entender que "buscar o reino" não é um método para se ganhar galardões.

Neste caso a vida espiritual acabaria sendo como ganhar o sorteio num jogo de sorte. As palavras "todas as, outras coisas vos serão acrescentadas" expressam que o amor e o cuidado de Deus se estendem para todo o nosso ser.

Quando buscarmos a vida no Espírito de Cristo,conseguiremos ver e entender melhor como Deus nos guarda na palma de sua mão. Chegaremos a um melhor entendimento do que realmente precisamos para nosso bem estar físico e mental, e experimentaremos a ligação íntima entre nossa vida espiritual e nossas necessidades temporais durante a nossa peregrinação no seu mundo.

Mas isto nos deixa com uma pergunta muito difícil. Há uma maneira de sair da nossa vida, "cheia de preocupação e entrar na vida do Espírito? Devemos simplesmente esperar passivamente até que o Espírito chegue e assopre para longe as nossas preocupações? Há alguma maneira pela qual podemos nos preparar para a vida do Espírito e aprofundar esta vida depois dela nos tocar?

A distância entre a vida cheia e não realizada de um lado, e a vida espiritual do outro, é tão grande que pode parecer completamente irreal esperar a mudança de uma para a outra. As exigências que a vida diária nos faz são tão reais, tão imediatas, e tão urgentes que uma vida no Espírito parece além de nossa capacidade.

Minha descrição da vida cheia de preocupação e a vida espiritual como dois extremos do espectro da vida foi necessária para tornar claro o que está envolvido. Mas a maioria de nós não está nem constantemente preocupada e nem exclusivamente absorvida no Espírito.

Muitas vezes há lampejos da presença do Espírito de Deus no meio de nossas preocupações, e freqüentemente preocupações surgem mesmo quando experimentamos a vida do Espírito no mais interior de nosso ser. É importante que aos poucos entendamos onde estamos e que aprendamos como podemos deixar a vida do Espírito de Deus se fortalecer dentro de nós.

Isto leva-me para a tarefa final: descrever as disciplinas principais que podem nos sustentar em nosso desejo de nos desvencilhar das garras de nossas preocupações e deixar que o Espírito nos guie para a verdadeira liberdade dos filhos de Deus.

Capítulo 3: Buscai o Reino

INTRODUÇÃO

A vida espiritual é um dom. É o dom do Espírito Santo, que nos introduz no reino do amor de Deus. Mas dizer que ser introduzido no reino de Deus é um dom divino não quer dizer que esperamos passivamente até que o dom se nos ofereça.

Jesus nos fala para buscar o reino. Buscar alguma coisa envolve não somente aspiração séria mas também determinação forte. A vida espiritual requer esforço humano.

As forças que sempre nos puxam de volta a uma vida cheia de preocupação não são fáceis de se vencer. "Quão dificilmente", Jesus exclama, "entrarão no reino de Deus ..." (Mc 10:23). E para nos convencer da necessidade de trabalho duro, ele diz: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me" (Mt 16:24)

Neste ponto tocamos a questão de disciplina na vida espiritual. A vida espiritual sem disciplina é impossível. Disciplina é o outro lado do discipulado. A prática de uma disciplina espiritual nos torna mais sensíveis à voz tranqüila e suave de Deus.

O profeta Elias não encontrou Deus no vento forte nem no terremoto e nem no fogo, mas no cicio tranqüilo (1 Rs 19:11-13). Através da prática de uma disciplina espiritual tornamo-nos sensíveis a essa voz tranqüila e prontos a responder quando a ouvimos.

Em relação a tudo que eu disse sobre nossas vidas preocupadas e sobrecarregaras é claro que geralmente estamos envolvidos, interior e exterior que fica realmente difícil ouvir a voz de Deus quando Ele nos está falando.

Muitas vezes tornamo-nos surdos, incapazes de saber quando Deus nos chama, incapazes de entender em que direção nos chama. Desta forma nossas vidas se tornam um absurdo. Na palavra absurdo encontramos a palavra latina surdus, que significa "surdo".

A vida espiritual requer disciplina porque precisamos aprender a ouvir a Deus. que constantemente fala mas a quem raramente ouvimos. Porém, quando aprendemos a ouvir, nossas vidas se tornam vidas obedientes. A palavra obediente vem da palavra latina obaudire, que significa "ouvir".

É necessário ter uma disciplina espiritual se quisermos mudar lentamente de uma vida absurda para uma vida obediente, de uma vida cheia de preocupações agitadas para uma vida em que há espaço livre no nosso interior para ouvir nosso Deus e seguir sua orientação.

A vida de Jesus foi uma vida de obediência. Estava sempre escutando o Pai, sempre atento a sua voz, sempre alerta as suas direções. Jesus era "todo ouvidos".

Isto é a verdadeira oração: ser todo ouvido para Deus. O cerne de toda oração é realmente ouvir, permanecer obedientemente na presença de Deus.

Uma disciplina espiritual, portanto, é um esforço concentrado para criar um pouco de espaço interior e exterior em nossas vidas, onde esta obediência pode ser praticada. Através de uma disciplina espiritual impedimos que o mundo preencha nossas vidas de tal forma que não haja mas lugar para ouvir. Uma disciplina espiritual nos liberta para orar, ou melhor dizendo, liberta o Espírito de Deus para orar em nós.

Vou apresentar agora duas disciplinas pelas quais podemos "buscar o reino". Podem ser consideradas como disciplinas de oração. São a disciplina de solidão e a disciplina de comunidade.

SOLIDÃO

Sem solidão é virtualmente impossível viver uma vida espiritual. Solidão começa com um tempo e lugar para Deus e somente para ele. Se realmente cremos que Deus não somente existe mas também está ativamente presente em nossas vidas - curando, ensinando, e dirigindo - precisamos reservar um tempo e um espaço para lhe dar nossa atenção ininterrupta. Jesus disse: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e fechada a porta orarás a teu Pai que está em secreto..." (Mt 6:6).

Produzir um elemento de solidão em nossas vidas é uma das disciplinas mais necessárias mas também mais difíceis. Mesmo que tenhamos um desejo profundo por solidão verdadeira, também experimentamos uma certa apreensão quando nos aproximamos deste lugar e tempo solitários. Uma vez que estamos sós, sem pessoas com quem conversar, livros para ler, TV para assistir, ou telefonemas para fazer, um caos interior se revela em nós.

Este caos pode ser tão perturbador e tão confuso que não vemos a hora de nos ocuparmos novamente. Portanto, entrar num quarto à parte e fechar a porta, não significa que imediatamente excluímos todas nossas dúvidas interiores, ansiedades, medos, maus pensamentos, conflitos insolúveis, sentimentos de ira, desejos impulsivos.

Ao contrário, quando nos afastamos de nossas distrações exteriores, frequentemente descobrimos que nossas distrações interiores se manifestam a nós com toda a sua força. Muitas vezes usamos as distrações exteriores para nos proteger dos barulhos interiores.

Desta forma não é de se admirar que tenhamos dificuldade para ficar sozinhos. A confrontação com nossos conflitos interiores pode ser dolorosa demais para ser suportada.

Isto torna a disciplina de solidão ainda mais importante. Solidão não é uma resposta espontânea a uma vida ocupada e preocupada. Há razões de sobra para não ficar sozinho. Portanto, devemos começar planejando cuidadosamente um tempo de solidão. Cinco ou dez minutos por dia pode ser o máximo que toleramos.

Talvez estejamos prontos para uma hora todo o dia, uma tarde toda semana, um dia todo mês, ou uma semana todo ano.

A quantidade de tempo vai variar para cada pessoa de acordo com o temperamento, idade, trabalho, estilo de vida e maturidade. Mas não estamos levando a vida espiritual a sério se não reservamos algum tempo para estar com Deus e ouvi-lo.

Talvez tenhamos que escrever isto em preto e branco em nossa agenda diária para que mais ninguém possa nos roubar este período de tempo. Então poderemos dizer aos nossos amigos, vizinhos, alunos, fregueses, clientes, ou pacientes: "Desculpe, mas já fiz um compromisso neste horário que não pode ser mudado".

Uma vez que nos comprometemos a gastar tempo em solidão, desenvolvemos uma sensibilidade à voz de Deus em nós. No início, durante os primeiros dias, semanas, ou até meses, podemos ter o sentimento de que estamos simplesmente perdendo tempo.

Tempo em solidão no início pode parecer nada mais que um tempo no qual somos bombardeados por milhares de pensamentos e sentimentos que emergem das áreas escondidas de nossa mente. Um dos mais antigos escritores cristãos descreve o primeiro estágio de oração solitária como a experiência de um homem que, depois de viver anos com as portas abertas, de repente decidiu fechá-las.

Os visitantes que costumavam vir e entrar em sua casa começam a bater nas suas portas, indagando porque não se lhes permite a entrada. Somente quando compreendem que não são bem vindos, aos poucos param de vir. Esta é a experiência de alguém que decide entrar em solidão depois de uma vida sem muita disciplina espiritual.

No início, as muitas distrações continuam se apresentando. Depois, à medida que recebem menos e menos atenção, lentamente se retiram.

É claro que o importante é a fidelidade à disciplina. No início, solidão parece tão contrária aos nossos desejos que somos constantemente tentados a nos esquivar disso. Uma maneira de se esquivar é divagar na mente ou simplesmente cair no sono.

Mas quando nos dedicamos à nossa disciplina, na convicção que Deus está conosco mesmo quando ainda não o escutamos, lentamente descobrimos que não queremos perder nosso tempo a sós com Deus. Apesar de não experimentarmos muita satisfação em nossa solidão, compreendemos que um dia sem solidão é menos "espiritual" do que um dia com solidão.

Intuitivamente, compreendemos que é importante gastar tempo em solidão. Até começamos a aguardar com expectativa este estranho período de inutilidade. Este desejo por solidão muitas vezes é o primeiro sinal de oração, a primeira indicação de que a presença do Espírito Deus não despercebida.

Quando nos esvaziamos de nossas muitas preocupações conseguimos entender não somente com nossa mente mas também com nosso coração que nunca estivemos realmente sós, que o Espírito de Deus estava sempre conosco.

Desta forma conseguimos compreender o que Paulo escreve aos Romanos: "... a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5:3-5).

Em solidão, chegamos a conhecer o Espírito que já nos foi outorgado. As dores e as lutas que encontramos em nossa solidão se tornam desta forma o caminho de esperança, porque nossa esperança não é baseada em alguma coisa que acontecerá depois que nossos sofrimentos terminarem, mas na presença real do Espírito de Deus que nos cura no meio destes sofrimentos.

A disciplina de solidão nos permite gradativamente entrar em contato com a presença esperançosa de Deus em nossas vidas, e também nos permite experimentar mesmo agora as primícias de gozo e paz que pertencem ao novo céu e à nova terra.

A disciplina de solidão como tenho descrito aqui é uma das mais poderosas disciplinas para desenvolver uma vida de oração. É um caminho simples, embora difícil, para nos libertar da escravidão de nossas ocupações e preocupações e começar a ouvir a voz que faz novas todas as coisas.

Deixe-me dar uma descrição mais concreta de como a disciplina de solidão pode ser praticada. É uma grande vantagem ter um quarto ou um canto de quarto ou um quartinho! - reservado à disciplina de solidão. Tal lugar "arrumadinho" ajuda-nos a buscar o reino sem gastar tempo com preparativos.

Algumas pessoas gostam de decorar este lugar, mas o importante é que o lugar de solidão seja um lugar simples e ordenado. Lá ficamos na presença do Senhor. "Nossa tentação é fazer alguma coisa útil: ler algo estimulante, pensar sobre uma coisa interessante, ou experimentar algo extraordinário.

Mas nosso momento de solidão é exatamente um momento em que queremos estar na presença de nosso Senhor de mãos vazias, nus, vulneráveis, inúteis, sem nada para apresentar, provar, ou defender. É assim que, lentamente, aprendemos a ouvir a voz tranqüila de Deus.

Mas o que fazer com nossas muitas distrações? Devemos lutar contra estas distrações e esperar que desta forma nos tornemos mais atentos à voz de Deus? Isto não parece ser a maneira de se entrar em oração.

Criar um espaço vazio onde podemos ouvir o Espírito de Deus não é fácil quando colocamos toda nossa energia na luta contra as distrações. Se confrontamos as distrações de maneira tão direta, acabamos lhes dedicando mais atenção que merecem. Temos porém, as palavras das Escrituras para dedicar nossa atenção.

Um salmo, uma parábola, uma editoria bíblica, uma declaração de Jesus, ou uma palavra de Paulo, Pedro,Tiago, Judas ou João, pode nos ajudar a focalizar nossa atenção à presença de Deus . Desta forma impedimos "todas estas coisas" de ter poder sobre nós.

Quando colocamos as palavras das Escrituras no centro de nossa solidão, tais palavras seja uma pequena expressão, umas poucas sentenças ou um texto mais longo - podem funcionar com ponto ao qual retornamos quando nos desviamos para diferentes direções.

Formam um ancoradouro seguro num mar tempestuoso. No fim de tal período na presença tranqüila de Deus podemos, através de oração intercessora, levar todas as pessoas que fazem parte de nossa vida, tanto amigos como também inimigos à sua presença restauradora.

E por que não concluir com as palavras que o próprio Jesus nos ensinou: O Pai Nosso?
Isto é somente uma das formas especificas nas quais a disciplina de solidão pode ser praticada. Infinitas variações são possíveis. Passeios no campo, a repetição de orações curtas tais como a oração de Jesus, formas simples de canto, certos movimentos ou posturas - estes e muitos outros elementos podem se tornar uma parte útil da disciplina de solidão.

Mas temos de decidir que forma especifica desta disciplina melhor nos convém, e na qual podemos perseverar. É melhor ter uma prática diária de dez minutos em solidão do que ter uma hora completa de vez em quando. É melhor se tornar familiar com uma postura do que ficar sempre experimentando novas posturas.

Simplicidade e regularidade são os melhores guias para achar nosso caminho. Permitem-nos fazer da disciplina de solidão outra parte da nossa vida diária tanto quanto comer ou dormir. Quando isto acontece, nossas preocupações barulhentas perderão lentamente seu poder sobre nós e a atividade renovadora do Espírito de Deus aos poucos se manifestará.

Embora a disciplina de solidão exija que separemos para isso tempo e espaço, no final de tudo o importante é que nossos corações se tornem aposentos tranqüilos e que Deus possa habitar, onde quer que vamos e o que quer que façamos. Quanto mais nos treinarmos a gastar tempo com Deus e unicamente com ele, mais descobriremos que em todo o tempo e em todo o lugar Deus está conosco.

Então poderemos reconhecê-lo mesmo no meio de uma vida atarefada e ativa.

Depois que a solidão de tempo e espaço se torna solidão de coração, nunca haveremos de deixar aquela solidão. Poderemos viver a vida espiritual de qualquer lugar e em qualquer tempo. Desta forma a disciplina da solidão capacita-nos a viver uma vida ativa no mundo, enquanto permanecemos constantemente na presença do Deus vivo.

COMUNIDADE

A disciplina de solidão não se mantém sozinha. Está intimamente relacionada com a disciplina de comunidade. Comunidade como disciplina é o esforço de criar um espaço livre e vazio entre pessoas, onde juntos possamos praticar verdadeira obediência. Através da disciplina de comunidade nos prevenimos de nos apegar um ao outro com sentimentos de medo e isolamento, e criamos um espaço livre para ouvir a voz libertadora de Deus.

Pode parecer estranho falar de comunidade como disciplina mas sem disciplina comunidade se torna uma palavra "mole", referindo-se mais a um lugar seguro, aconchegante e exclusivo do que ao espaço onde se pode receber vida nova e desenvolvê-la à sua plenitude.

Em qualquer lugar onde se acha verdadeira comunidade, disciplina é decisivo. É decisivo não somente nas muitas velhas e novas formas de vida em comum, mas também nos relacionamentos sustentadores de amizade, casamento, e família. Criar espaço para Deus entre nós requer o constante reconhecimento do Espírito de Deus um no outro.

Depois de ter conhecido o Espírito vivificante de Deus no centro de nossa solidão, tornando-nos capazes desta forma a afirmar nossa verdadeira identidade, passamos a ver também o mesmo Espírito vivificante falando-nos através de nossos companheiros humanos. E quando chegamos a reconhecer o Espírito vivificante de Deus como, a fonte de nossa vida em conjunto, mais facilmente também ouviremos sua voz em nossa solidão.

Amizade, casamento família, vida religiosa e toda outra forma de comunidade é solidão saudando solidão, espírito falando a espírito, coração chamando coração. É o grato reconhecimento do chamado de Deus para compartilhar a vida juntos e o alegre oferecimento de um espaço hospitaleiro onde o poder recriador do Espírito de Deus pode se manifestar. Desta maneira todas as formas de vida em conjunto podem se tornar maneiras de manifestar um ao outro a presença real de Deus em nosso meio.

Comunidade não tem muito a ver com compatibilidade mútua. Semelhanças em "background" educacional, constituição psicológica, ou posição social, podem nos atrair um ao outro, mas nunca podem ser a base para comunidade. Comunidade é fundamentada em Deus, que nos chama a viver juntos, e não na atratividade mútua das pessoas.

Há muitos grupos que se constituíram a fim de proteger seus próprios interesses, defender sua própria posição, ou promover suas próprias causas, mas nenhum destes é uma comunidade cristã. Ao invés de romper os muros de medo e criar novo espaço para Deus, fecham-se a intrusos reais ou imaginários.

O ministério da comunidade é exatamente seu envolvimento de todas as pessoas, quaisquer que sejam suas diferenças individuais, permitindo-lhes viver juntas como irmãos e irmãs de Cristo e filhos e filhas do seu Pai celeste.

Eu gostaria de descrever uma forma concreta desta disciplina de comunidade. É a prática de ouvir juntos. Em nosso mundo prolixo geralmente gastamos nosso tempo juntos falando.

Sentimo-nos mais confortáveis compartilhando experiências, discutindo assuntos interessantes, ou argumentando problemas sociais. É através de uma troca verbal muito ativa que tentamos nos descobrir um ao outro.

Mas muitas vezes descobrimos que as palavras funcionam mais como muros do que como portões, mais como formas de manter a distância do que para se aproximar. Muitas vezes - até contra nossa vontade - percebemo-nos competindo mutuamente.

Tentamos provar um ao outro que merecemos atenção, que o que temos para mostrar nos torna especiais. A disciplina de comunidade ajuda-nos a ficar em silêncio juntos. Este silêncio disciplinado não é um silêncio embaraçador, mas um silêncio no qual prestamos atenção juntos ao Senhor que nos chamou juntos.

Desta forma chegamos a nos conhecer mutuamente não como pessoas que se apegam ansiosamente a sua autoinstituída identidade, mas como pessoas que são amadas pelo mesmo Deus de uma forma muito íntima e singular.

Aqui - como ocorre com a disciplina de solidão - muitas vezes são as palavras das Escrituras que podem nos levar a este silêncio comunal. A fé, como Paulo diz, vem pelo ouvir. Temos que ouvir a palavra um do outro.

Quando nos reunimos de diferentes contextos geográficos, históricos, psicológicos, e religiosos, ouvir a mesma palavra falada por pessoas diferentes pode criar em nós uma abertura e vulnerabilidade comuns que nos permitem reconhecer que estamos seguros juntos naquela palavra.

Desta forma podemos descobrir nossa verdadeira identidade como comunidade, desta forma podemos experimentar o que significa ser chamados juntos, e desta forma podemos reconhecer que o mesmo Senhor que descobrimos em nossa solidão também fala na solidão do nosso próximo, seja qual for sua linguagem, denominação, ou caráter. Através de ouvir juntos a palavra de Deus, um silêncio realmente criativo pode se desenvolver.

Este silêncio é um silêncio impregnado com a presença amorosa de Deus. Desta forma ouvir juntos a palavra de Deus pode libertar-nos da competição e rivalidade e permitir-nos reconhecer nossa verdadeira identidade como filhos e filhas do mesmo Pai amoroso, irmãos e irmãs do nosso Senhor Jesus Cristo, e conseqüentemente um do outro.

Este exemplo de disciplina de comunidade é um dentre muitos. Celebrar juntos, trabalhar juntos, brincar juntos, todas estas são maneiras pelas quais a disciplina de comunidade pode ser praticada. Mas seja qual for seu tipo ou forma concreta, a disciplina de comunidade sempre leva-nos além dos limites de raça, sexo, nacionalidade, caráter, ou idade, e sempre nos revela quem realmente somos diante de Deus e do nosso próximo.

Através da disciplina de comunidade nos tornamos pessoas; isto é, pessoas que estão soando uma à outra (a palavra latina personare significa "soar") uma verdade, uma beleza, e um amor que é maior, mais profundo e mais rico do que nós mesmos podemos compreender individualmente.

Em comunidade verdadeira somos janelas oferecendo constantemente um a outros novos panoramas do mistério da presença de Deus em nossas vidas. Desta forma a disciplina de comunidade é uma verdadeira disciplina de oração.

Faz-nos alertas à presença do Espírito que clama "Aba", Pai, entre nós, orando assim do centro de nossa vida em comum.

Comunidade desta forma é obediência praticada juntos. A questão não é simplesmente. "Para onde Deus me leva como um indivíduo tentando fazer sua vontade?"

Mais básica e mais significante é a questão, "Para onde Deus nos leva como um povo?" Esta questão requer que prestemos cuidadosa atenção à direção de Deus em nossa vida coletiva e que juntos procuremos uma resposta criativa.

Aqui podemos ver como oração e ação são realmente unidas, porque o que quer que façamos como comunidade somente pode ser um ato de verdadeira obediência quando é uma resposta àquilo que ouvimos da voz de Deus em nosso meio.

Finalmente, temos de lembrar que comunidade, como solidão, é principalmente uma qualidade do coração. Embora seja verdade que nunca conheceremos o que é comunidade se não nos unirmos em um lugar, comunidade não significa necessariamente estar fisicamente juntos.

Podemos muito bem viver em comunidade mesmo estando fisicamente sozinhos. Em tal situação podemos agir livremente, falar honestamente, e sofrer pacientemente por causa do vínculo íntimo de amor que nos une com outros, mesmo quando tempo e espaço nos separam deles.

A comunidade de amor não só se estende além dos limites de países e continentes mas também além dos limites de décadas e séculos. Não somente a consciência daqueles que estão longe mas também a memória dos que viveram no passado podem levar-nos a uma comunidade que nos cura, sustenta e dirige. O espaço para Deus na comunidade transcende todos os limites de tempo e lugar.

Desta forma a disciplina de comunidade libera-nos a ir aonde quer que o Espírito nos guie, mesmo a lugares onde preferiríamos não ir. Isto é a verdadeira experiência pentecostal. Quando o Espírito desceu sobre os discípulos que estavam trancados juntos com medo, eles foram libertos para sair do seu quarto fechado para o mundo. Enquanto estavam reunidos com medo ainda não se constituíam uma comunidade.

Mas quando receberam o Espírito, tornaram-se um corpo de pessoas livres que podiam permanecer em comunhão um com o outro mesmo quando estavam tão longe um do outro quanto Roma está de Jerusalém. Desta forma, quando é o Espírito de Deus e não o medo que nos une em comunidade, nenhuma distância de tempo ou lugar nos pode separar.

CONCLUSÃO

Através da disciplina de solidão descobrimos espaço para Deus no mais íntimo de nosso ser. Através da disciplina de comunidade descobrimos um lugar para Deus em nossa vida em conjunto. Ambas as disciplinas se complementam, exatamente porque o espaço dentro de nós e o espaço entre nós são o mesmo espaço.

É neste espaço divino que o Espírito de Deus ora em nós. Oração é primeira e principalmente a presença ativa do Espírito Santo em nossa vida pessoal, e comunitária. Através das disciplinas de solidão e comunidade tentamos remover - lentamente, mas persistentemente - os muitos obstáculos que nos impedem de ouvir a voz de Deus dentro de nós.

Deus nos fala não somente de vez em quando mas sempre. Dia e noite, durante o trabalho e durante o lazer, na alegria e na dor, o Espírito de Deus está ativamente presente em nós.

Nossa tarefa é permitir que esta presença se torne real para nós em tudo que fazemos, dizemos ou pensamos. Solidão e comunidade são as disciplinas pelas quais o espaço se torna livre para percebermos a presença do Espírito de Deus e respondermos destemidamente e generosamente. Quando ouvirmos a voz de Deus em nossa solidão também a ouviremos em nossa vida juntos. Quando ouvirmos a Deus em nossos companheiros humanos, também o ouviremos quando estivermos com ele sozinhos.

Quer em solidão quer em comunidade, quer sozinhos quer com outros, somos chamados para viver vidas obedientes isto é, vidas de oração incessante - "incessante" não por causa das muitas orações que fazemos, mas por causa de nossa sensibilidade à oração incessante do Espírito de Deus dentro de nós e entre nós.

Fonte: http://ichtus.com.br/publix/ichtus/mensagem/

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=dPk2ZAr8ejI