August 24, 2016

A tentação de Jesus e um olhar sobre a natureza do conflito humano

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- Ricardo Barbosa

Por mais que a cultura pós-moderna tente apagar o conceito do pecado, as realidades pessoal, familiar, social, política e econômica vão mostrando que ele existe e que os conflitos e as tentações fazem parte da realidade humana. A tentação de Jesus é uma das passagens que mais lançam luz sobre a realidade dos conflitos humanos. A experiência solitária de Jesus, no deserto da Judéia, traduz as tentações e lutas que todos nós enfrentamos. É importante lembrar que o Jesus que foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo é um de nós, um ser humano igual a qualquer um de nós. Mateus começa seu evangelho afirmando que Jesus é filho de Davi e filho de Abraão, nascido de Maria, que viveu entre nós e, segundo o autor do livro de Hebreus, “foi tentado à nossa semelhança”. Mas não é só isto. Ele é o verdadeiro homem.
O primogênito de toda a criação. O segundo Adão. O primeiro da nova criação de Deus. É aquele que veio para trazer um novo começo, inaugurar a nova criação, a nova humanidade. Ele é também o Deus encarnado. O Deus que se fez homem. Emanuel. O Deus presente em nossa humanidade. Aquele que foi tentado no deserto é o cabeça da nova humanidade. A experiência de Jesus neste evento nos ajuda a entender o significado de ser verdadeiramente humano. Por causa disto, o futuro da humanidade estava neste evento. Uma falha ali, uma decisão errada, implicaria no fracasso de toda a humanidade, um fracasso cósmico. No monte da tentação Jesus afirma o significado de ser humano. E é por isto que o autor de Hebreus declara que, embora tendo sido tentado à nossa semelhança, não pecou. Quando olhamos para este evento, somos levados a reconhecer que temos um inimigo. Por trás de todo engano e toda mentira está o Enganador. Por trás das divisões, de todo ódio está o Diabolos (o caluniador). Por trás das culpas e mágoas está o Acusador. Por trás do adultério, prostituição e todo tipo de promiscuidade que nega o propósito do Criador ao criar homem e mulher para viverem numa relação de aliança diante de Deus está o Grande Sedutor. Por trás da violência, dos abusos, está o Destruidor.
Por trás da corrupção está o Pai da Mentira. É importante saber que temos um inimigo. Paulo afirma que nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra principados e potestades. Não vivemos num mundo neutro. A realidade é mais confusa do que imaginamos. Vivemos num mundo onde as diferentes realidades tornam nossa compreensão fragmentada. Toda a vida de Jesus foi um exercício constante para discernir a voz do Pai e a voz do inimigo. Não há como entender a vida de Jesus sem levar em conta esta realidade. Não há como entender a nossa vida fora desta realidade. Ser humano é saber distinguir estas vozes e aprender a reconhecer a voz do Pai. No Jordão Jesus ouve a voz do Pai dizendo: “Este é o meu filho amado em quem tenho o meu prazer”. No deserto ele ouve a voz do inimigo dizendo: “Você é mesmo o filho de Deus? Porque não prova isto transformando pedras em pães?” Jesus sabe que a vontade do Pai é que ele caminhe para a cruz, mas aparece seu grande amigo Pedro e diz: “Não vou permitir que você sofra, se preciso for eu te protejo”. Jesus precisa dizer: “afasta de mim Satanás”. A Palavra de Deus diz: “Conserve seu corpo em santidade e honra, longe de toda lascívia”, vem outra voz e diz: “mas vocês não se amam? Não é isto que desejam?” Por aí vai. Não há como entender a vida sem reconhecer que todos nós temos um grande e terrível inimigo.
A tentação ou o tentador nunca aparece de forma sombria ou tenebrosa. Tudo o que vemos nesta cena é um homem solitário no deserto. É uma luta que acontece dentro de nós, não fora. O inimigo é interno, não externo. O campo de batalha é a nossa mente. Sabemos que nossas emoções e sentimentos seguem os nossos pensamentos ou nossas convicções. Não são os fatos externos que determinam nossos sentimentos, mas o juízo que fazemos deles. É por isto que a Bíblia dá tanta ênfase à mente. “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” Rm. 12:2. “Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo” 1Co.2:16. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” 2Co. 10:4 e 5. “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” Hb.8:10. A palavra usada para traduzir “tentação” é a mesma para “testar”, “provar”. O Espírito Santo nos conduz aos testes para fortalecer a fé e o caráter, o inimigo aproveita o teste para transformá-lo numa tentação e enfraquecer a fé e o caráter. Toda vez que experimentamos o amor de Deus.
Toda vez que assumimos um novo compromisso. Toda vez que tomamos uma nova decisão. Toda vez que nos encontramos alegres, seguros do amor de Deus, dispostos a servi-lo, certos de que somos seus filhos e filhas amados, então nossa fé é testada e precisamos orar: Senhor, na medida em que teu Espírito me conduz ao deserto para ser testado por ti, não permita que o inimigo transforme estes testes em tentação e me leve a duvidar do teu amor, a me afastar do teu reino, mas livra-me do inimigo. O recurso que Deus nos deu para enfrentar o inimigo é a sua palavra, a espada da Verdade. Por três vezes Jesus afirmou: “Está escrito…”. Nossos primeiros pais falharam porque não ouviram a Deus e decidiram viver por conta própria. O Segundo Adão, o verdadeiro homem, venceu porque se submeteu à Palavra de Deus. Cada vez que passamos pelos testes, vamos afirmando nossa verdadeira humanidade à semelhança da humanidade real de Jesus.
Fonte: http://www.ippdf.com.br/comunidade/boletim-da-semana/a-tentacao-de-jesus-um-olhar-sobre-a-natureza-do-conflito-humano/

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