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Texto básico: Salmos 13.1-6
Leitura diária
D Sl 108.1-13 Firmeza alegre de propósito
S Sl 50.1-23 O culto que glorifica a Deus
T Sl 96.1-13 Um cântico que se renova
Q Sl 122.1-9 Alegria pela Casa do Senhor
Q Tg 5.12-20 Uma expressão de alegria
S Fp 4.1-23 A alegria contagiante do Senhor
S Sl 28.1-9 O meu coração exulta em louvor
Introdução
O júbilo começa no coração. A nossa sensibilidade para com a
grandiosidade do culto a Deus só pode ser originada e cultivada pela
Palavra de Deus. “A pregação determina o foco e profundidade da
adoração” (Horton). O nosso culto, portanto, é determinado basicamente
pelo conhecimento e pela prática da Palavra. O nosso louvor é a
expressão de um coração alegre diante de Deus: o júbilo começa no
coração e os lábios apenas o expressam.
O nosso culto começa por uma vida de obediência com um coração
sincero. O ato público de adoração é a complementação indispensável de
nosso culto cotidiano a Deus. “Porquanto Deus preceitua, em primeiro
lugar, que o adoremos interiormente, e em seguida também verbalizemos
uma profissão de fé externa. O principal altar, no qual Deus é adorado,
deve estar situado dentro de nós, pois Deus é adorado espiritualmente
através da fé, de orações e de outros ofícios de piedade. A confissão
externa deve ser forçosamente acrescentada, não só para que nos
exercitemos na adoração a Deus, mas também para que nos ofereçamos
inteiramente a ele, tanto no corpo quanto na mente, assim como Paulo
preceitua (1Co 7.34; 1Ts 5.23) – em suma, para que ele nos possua
inteiramente” (Calvino).
Deste modo, devemos entender que o louvor alegre é um aprendizado da fé em submissão à Palavra.
I. Os cânticos refletem nossa experiência com Deus
É natural e até desejável que usemos de nossos talentos para servir a
Deus com novas composições que reflitam a nossa fé decorrente da
Palavra. Como a vida cristã é dinâmica, é natural que isto se manifeste
também em nossa música. Lloyd-Jones está correto ao enfatizar: “O canto
cristão não deve ser uma repetição enfadonha”. Portanto, a nossa fé, por
proceder da Palavra, deve ser orientada pela Palavra em nossas
experiências cotidianas. O Livro de Salmos se constitui em um modelo
majestoso e singular deste emprego. No entanto, a novidade do que
cantamos não estará circunscrita à data da composição ou à atualidade do
ritmo, mas sim à forma como cantamos: Com
“graça no coração”.
Agostinho (354-430) colocou esta questão em termos belos: “Quem canta
com parcialidade, canta canções antigas; qualquer de seus cânticos é
velho, é o velho homem que canta. Está dividido, é carnal. Certamente,
enquanto é carnal é velho, e à medida em que é espiritual, é novo”.
Devemos cantar ao Senhor com novidade de vida e integridade; somente
assim cantaremos um “cântico novo” (Sl 96.1; 98.1; Is 42.10).
Os cânticos devem ser a expressão de uma experiência com Deus,
“porque é certo que jamais agradarão a Deus os louvores que não procedam
desta fonte de amor” (Calvino). É natural que, com o tempo, os hinos
passem a fazer parte de nossa história de vida: Eles, sem dúvida,
retratam verdades bíblicas; contudo, estas verdades, cridas por nós,
assumem um significado subjetivo quando são vivenciadas, muitas vezes –
ainda que não exclusivamente –, em nossas crises, angústias e mesmo
júbilo. Assim como há textos marcantes das Escrituras que falam de modo
especial à nossa experiência de vida, há hinos que realçam momentos de
nossa comunhão com Deus e, também, às vezes a dura realidade cotidiana.
Se vocês pararem por um instante para refletir sobre isso certamente se
lembrarão de hinos que estiveram associados à sua conversão, a momentos
alegres e dolorosos, à determinadas épocas de sua vida. Obviamente, a
nossa experiência não esgota o sentido dos hinos, mas, sem dúvida, elas
resignificam a mensagem. De passagem, podemos entender também, que a
letra que cantamos é fundamental na compreensão, fixação e expressão do
nosso louvor.
Lloyd-Jones, fazendo eco a Agostinho e a Calvino, acentua: “Sempre
nos compete lembrar de que não devemos concentrar-nos só em cantar a
melodia. No momento em que fazemos isso, já nos afastamos da instrução
do apóstolo [Ef 5.19]. As palavras vêm em primeiro lugar – elas são
mais importantes que a melodia. Naturalmente, as palavras e a melodia
devem vir juntas, consorciadas e fundidas para darem expressão ao nosso
louvor. Mas não há nada que seja tão fatal como entoar a melodia
somente, sem dar atenção às palavras”.
O meditar nos feitos de Deus é um imperativo ao louvor. O salmista
louva a Deus considerando o seu livramento (cf. Sl 28.6-7). “Quando Deus
esparge alegria em nossos corações, o resultado deve ser que nossos
lábios se abram para entoar seus louvores” (Calvino). “Quanto mais
atenta e diligentemente os crentes consideram as obras de Deus, mais
eles se aplicarão aos seus louvores” (Calvino).
II. O cantar está associado à nossa fé “em busca de compreensão”
O nosso louvor está também associado à nossa fé. Davi, angustiado,
fugindo de uma perseguição implacável de Saul, assim mesmo vislumbrava
alegremente o seu salvamento: “Regozije-se o meu coração no teu
salvamento” (Sl 13.5). O curioso é que o salmista, além de olhar para o
futuro, não perde o contato com a realidade presente, enxergando que,
apesar de todas as suas dificuldades, Deus lhe tem feito muito bem (Sl
13.6).
No v. 3, ele pede a Deus: “Ilumina-me os olhos”
. “
Iluminar os olhos,
no idioma hebraico, significa o mesmo que soprar o fôlego de vida,
porquanto o vigor de vida transparece principalmente nos olhos”
(Calvino).
Analisando de outra perspectiva, muitas vezes o que de fato
necessitamos é ter os olhos iluminados para poder enxergar a situação
com mais clareza. Aqui, o salmista pede a Deus que ilumine para que ele,
tomando alento, possa ver as coisas com maior discernimento, já que, no
momento, a realidade parecia-lhe extremamente aflitiva e tenebrosa.
Somente Deus, por sua graça, pode iluminar os nossos olhos para que
vejamos os seus feitos em nossa vida e, assim, nos alegremos na
esperança (Rm 12.12). “É possível que não vivamos totalmente livres do
sofrimento, não obstante é necessário que essa fé regozijante se erga
acima dele e nossa boca se abra em cântico por conta da alegria que está
reservada para nós no futuro, embora ainda não seja experimentada por
nós….” (Calvino). Deste modo, o salmo, que começa com perguntas
angustiantes e dolorosas (Sl 13.1-2), termina com um cântico de
confiante fé e alegria radiante. O seu desânimo transforma-se em alegre
confiança. Tendo os olhos iluminados, conforme pediu a Deus, pôde ver
com mais clareza as bênçãos de Deus; por isso diz: “[Deus] me tem feito
muito bem” (Sl 13.6).
Assim, assume o compromisso: “Cantarei ao Senhor” (Sl 13.6). “… Davi,
ao apressar-se com prontidão de alma a cantar os benefícios divinos,
mesmo antes que os houvesse recebido, coloca o livramento, que
aparentemente estava então distante, imediatamente diante de seus olhos”
(Calvino). A alegria do salmista se manifesta em cântico. Mas o cantar
não é uma simples terapia, antes, a expressão de uma alma confiante e
agradecida. Daí, seguindo a linha de Agostinho e Calvino, é que para nós
reformados o que cantamos assume a preponderância em nosso louvor.
Devemos fazer com sinceridade, integridade de coração, expressando o que
aprendemos biblicamente e, que, pelo Espírito, faz parte de nossa fé.
“Nosso louvor só pode ser aprovado verdade” (Calvino).
Nesta mesma tradição litúrgica, acentua Lloyd-Jones: “Sempre nos
compete lembrar de que não devemos concentrar-nos só em cantar a
melodia. No momento em que fazemos isso, já nos afastamos da instrução
do apóstolo. As palavras vêm em primeiro lugar – elas são mais
importantes que a melodia. Naturalmente, as palavras e a melodia devem
vir juntas, consorciadas e fundidas para darem expressão ao nosso
louvor. Mas não há nada que seja tão fatal como entoar a melodia
somente, sem dar atenção às palavras”.
Davi ainda não pôde enxergar completamente o livramento futuro, no
entanto, confia em Deus, por isso, louva a ele firmado na fé que vê o
invisível (cf. Hb 11.1).
Aqui ele pode dizer como no salmo 116: “Volta, minha alma ao teu
sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo” (Sl 116.7).
Deste modo, o nosso louvor é um testemunho de nossa confiança no
cuidado providente de Deus. Este discernimento só é possível por
intermédio da Palavra. Uma esperança fundamentada simplesmente em
otimismos resultantes de um “pensar positivo” pode, quando muito, dar
uma sensação momentânea de alívio, contudo, não muda a realidade dos
fatos. Deus, no entanto, nos convida a um exame de sua Palavra; nela
temos os seus ensinamentos e promessas que, de fato, podem iluminar os
nossos olhos, apontando e nos capacitando a seguir o seu caminho.
A Palavra de Deus nos dá discernimento com clareza: “A revelação das
tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples (tolo, “mente
aberta”, imaturo)” (Sl 119.130).
A Palavra nos conduz à maturidade, ao discernimento para que não mais
tenhamos uma “mente aberta”, sendo suscetível a todo tipo de sedução e
engano não percebendo as armadilhas e contradições do seu mosaico
inconsistente de pensamento. Deus deseja que exercitemos o senso crítico
(Pv 1.4; 14.15), deixando a paixão pela “necedade” (Pv 1.22), nos
apegando às suas promessas.
Somente a Palavra de Deus pode transmitir a alegria real e duradoura
ao nosso coração. Ela dispersa as nuvens de incertezas e contradições de
uma sociedade pervertida, mostrando-nos os verdadeiros valores (Sl
119.105).
O salmo que começa com perguntas angustiantes e dolorosas, termina
com um cântico de certeza de fé e alegria radiante. Aparentemente a sua
situação não mudou, contudo, ele obteve outra perspectiva, a sabedoria
divina que o permitiu se alegrar em Deus. A visão antecipada da
manifestação da graça é graça.
Conclusão
O
Diretório de Culto de Westminster (1645) orienta: “É dever
dos cristãos louvar a Deus publicamente cantando salmos juntos na
igreja, e também em particular, na família.
“Ao cantar os salmos, a voz deverá ser afinada e ordenada com
seriedade; mas o cuidado maior precisa ser o de cantar com o
entendimento e com graça no coração, erguendo melodias ao Senhor”.
Devemos, portanto, cantar com sinceridade, meditando naquilo que
cantamos como expressão de nossa fé, com integridade e moderação. Os
cânticos são didáticos; por meio deles aprendemos as Escrituras,
expressamos a nossa fé e, eles também nos ajudam a fixar os ensinamentos
bíblicos. Os cânticos que não nos conduzem à Palavra, por mais
emocionantes, “alegres”, cativantes e contagiantes que sejam, não
edificam. Precisamos ter sempre diante de nós o fato insubstituível de
que é impossível ser edificado espiritualmente fora da Palavra. As
Escrituras devem ser sempre o critério aferidor de todas as nossas
experiências, emoções e gosto. Insistimos: fora da Palavra não há
edificação, nem crescimento espiritual. Deus não requer de nós
simplesmente criatividade; ele requer fidelidade.
Aplicação
Nossa experiência e o conhecimento de Deus costumam estar presentes
em nossos cânticos? O que pode ser feito para que eles sejam adequados
ao ensino da Palavra de Deus?
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/para-cantar-com-graca-no-coracao/
PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: https://www.youtube.com/watch?v=Z8c0yJRuPCI
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