September 13, 2006

A arte da comunhão

O caminho do coração
- por Ricardo Barbosa de Sousa

Uma das reclamações mais freqüentes em nossas igrejas é a falta de amizades sinceras, amor verdadeiro, relacionamentos profundos. Podemos ter uma boa estrutura eclesiástica, boa doutrina, boa música, bons programas, mas nada disto é suficiente para atender a necessidade humana de ser amado, aceito, acolhido, reconhecido e valorizado. Por um tempo, os programas ajudam a preencher este vazio, a música parece criar um clima saudável, o trabalho e a participação nos programas dão a sensação de que é disto que precisamos, porém mais cedo do que imaginamos, nos vemos de novo frustrados com a superficialidade afetiva, a hipocrisia dos que nos cercam, a ausência de amizades sinceras e profundas.

A conversão é a transformação do “eu” solitário num “nós” comunitário. É o chamado para sermos amigos de Deus e dos nossos irmãos. As parábolas e imagens do reino glorioso de Cristo sempre envolvem mesas fartas, festas, multidão de todas as línguas, tribos, raças e nações; Paulo nos fala de uma nova família, um corpo; João nos fala de um rebanho e de uma cidade — essas imagens revelam que o reino de Deus é o lugar onde as pessoas se encontram na comunhão festiva com Cristo.

Porém, para muitos, a igreja não tem sido este lugar; pelo contrário, tem sido um lugar de desilusão, frustração e solidão. Um lugar de mágoas, ressentimentos e traições. Sei que existem aqueles que se sentem acolhidos e amados em suas comunidades, mas esta não é a regra geral. No entanto, mesmo os que se sentem bem nem sempre experimentam uma verdadeira comunhão de amizade e amor.

Grande parte do fracasso na comunhão deve-se aos falsos ideais e às fantasias que projetamos. Para Bonhoeffer, a comunhão falha porque o cristão traz em sua bagagem “uma idéia bem definida de como deve ser a vida cristã em comum, e se empenhará por realizar esta idéia... Qualquer ideal humano introduzido na comunhão cristã perturba a comunhão autêntica e há que ser eliminada, para que a comunhão autêntica possa sobreviver”. Para ele, o ideal que cada um traz para a igreja acaba sendo maior que a própria comunhão e termina destruindo-a.

As imagens bíblicas de banquete, mesa farta cheia de amigos, nos ajudam a refletir melhor sobre o significado da comunhão e da amizade. Quem viu o filme ou leu o livro A Festa de Babette percebe isto. Babette chega a um vilarejo na Dinamarca fugida da guerra civil em Paris e emprega-se na casa de duas filhas de um rígido pastor luterano. As irmãs seguem à risca os rigores da sua fé pietista, que as proíbe de qualquer prazer na vida, sobretudo o material. Um dia, Babette descobre que ganhou um prêmio na loteria e, em vez de voltar para a França, onde havia sido uma exímia cozinheira em Paris, pede permissão para preparar um jantar em comemoração do centésimo aniversário do pastor.

Sob o olhar suspeito das irmãs, Babette prepara o banquete. Durante o jantar, o sabor de cada prato, o aroma do vinho, o prazer de cada mordida, foi lentamente quebrando a frieza, demolindo as antigas mágoas e transformando aquela mesa num encontro de corações libertos. Quando terminou, uma das filhas, Philippa, assustada pelo fato de que Babette teria usado toda a fortuna da loteria naquele jantar, disse: “Não deveria ter gasto tudo o que tinha por nossa causa”. Depois de pensar um pouco, Babette respondeu: “Por sua causa?”, retrucou. “Não, foi por minha causa”. Depois disse: “Sou uma grande artista”. Após algum silêncio, Martine, a outra irmã, perguntou: “Então vai ser pobre o resto da vida, Babette”? Babette sorriu e disse: “Não, nunca vou ser pobre. Já lhes disse que sou uma grande artista. Uma grande artista nunca é pobre”.

Comunhão e amizade é o trabalho de artistas. A riqueza de um artista nasce de sua capacidade de oferecer o melhor. Ao oferecer o melhor que podia, Babette abençoou a si e aqueles que provaram do seu dom. Na arte da construção da comunhão e da amizade, precisamos oferecer o que temos de melhor, seja uma boa refeição ou uma boa música, uma boa conversa ou um lindo sorriso.

Não foi isto que Cristo fez?

Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&secMestre=1253&sec=1274&num_edicao=301

September 12, 2006

Confiança

Uma pessoa confiante encara as derrotas

- pr. Russell Shedd

Viver requer confiança. Um bebê, logo depois de nascer, inicia sua avaliação do mundo em que foi inserido com um questionamento fundamental. Vale a pena viver ou não? A maneira amorosa com que a mãe sorri e olha para a criancinha inspira confiança. Os cuidados dispensados para dar conforto e alimento confirmam a esperança incipiente do nenê. Ele ganha um acervo de esperança que o sustenta e dá convicção de que a vida é boa.

Na medida em que a confiança cresce, o sentimento de bem-estar e realização se fortalece. A pessoa confiante é segura e positiva. Vê o futuro com uma certeza interior que o impulsiona para frente. Uma pessoa confiante encara as derrotas da vida com uma visão que o assegura de que a próxima tentativa dará certo. Otimismo e alegria são frutos naturais de pessoas inerentemente confiantes.

Fé é a raiz da palavra “confiança”. Trata do espírito da pessoa que deixa seu dinheiro no banco sem pensar duas vezes se a confiável instituição manterá sua impecável reputação de cumprir suas promessas ou não. Confiabilidade cresce ao longo da história em que a instituição age com integridade e trata a todos com honestidade. “A fé está morta para a dúvida, surda para o desânimo, cega para impossibilidades” (Pérolas para a Vida, comp. J. Blanchard).

Confiança cristã se alcança menos pela observação do mundo visível do que duma visão de Deus que concede “a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hb 11.1 - NVI). Confiar significa recorrer aos recursos inesgotáveis de Deus quando se olha para o futuro. Afinal de contas, o futuro tem um arsenal inesgotável de armas destrutivas. Acidentes, doenças, reveses financeiros, perdas de entes queridos, planos e projetos que falham, tropeços humilhantes, e a própria morte. Todos tendem a minar nossa confiança. Mas Deus assegura a seus filhos que Ele “...age em todas as coisas para o bem daqueles que O amam, dos que foram chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28 - NVI).

Passos para alcançar a confiança em Deus

Primeiramente, deve existir um sentimento forte e profundo de necessidade no coração. Pessoas que confiam inteiramente em si mesmas, que acreditam que a boa vida que desfrutam é resultado de suas boas decisões e esforço, têm uma grande barreira a superar para crer em Deus e entregar a vida aos seus cuidados.

Em segundo lugar, não é possível confiar naquilo do qual não se tem algum conhecimento. Quando um amigo lhe assegura que um remédio proporcionou um resultado surpreendente, é natural querer experimentar o mesmo benefício quando se sofre do mesmo mal. Pessoas sem conhecimento de Deus, que nunca provaram que o Senhor é bom (Sl 34.8), têm dificuldade em confiar nEle. Mas quando ouvem de alguém a experiência de confiança e socorro que viveram em Deus, têm interesse natural de participar do mesmo privilégio.

Em terceiro lugar, uma vez demonstrado que a Bíblia possui evidências que comprovam sua inspiração divina, como Paulo afirma (2 Tm 3.16), é preciso dedicar-se à leitura do texto, que trará informações sobre Deus e seus atributos. Muitas vezes, leitores iniciantes da Bíblia têm a sensação de que estão constatando a viva realidade por trás de tudo o que existe.

Em quarto lugar, é importante testar a realidade da promessa divina que garante que todo aquele que confia no Senhor não será confundido ou frustrado. Pela oração, o candidato desejoso de receber a maravilhosa graça salvadora precisa pedir que Deus confirme seu amor com o selo do seu Espírito. A certeza de que Deus atendeu nossa oração vem com a paz que inunda o coração dos que conhecem e confiam no Senhor. Paulo nos assegura que “o próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”.

Em quinto lugar, uma vez tendo o testemunho do Espírito no coração, o neófito terá boas perspectivas de crescimento na sua fé na medida em que ele ora e se fortalece no estudo da Palavra e se submete diariamente ao Senhor Jesus. Isaías escreveu há milhares de anos: “O fruto da justiça será a paz; o resultado da justiça será tranqüilidade e confiança para sempre” (Is 32.17).

Muitas vezes, confiança colocada em pessoas desconhecidas resulta em decepção e amargura. Não acontece assim com Deus. Ele é o Todo-poderoso, o Soberano e amoroso Criador. Ele é totalmente confiável. Ele providenciou um caminho seguro para o céu. Sua Palavra contém promessas comprovadamente seguras. “Confie no Senhor de todo o teu coração e não se apóie em seu próprio entendimento”, disse o sábio Salomão. Não tenho conselho melhor para lhe oferecer

Fonte: http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=60&materia=511

September 11, 2006

Tudo coopera para o bem

11.09.06
Chérie,

como foi de feriado? Descansou? Ou se acabou (rs)?

Desculpe o sumiço, mas tá punk pelas minhas bandas (rs), depois te escrevo com calma.

Neste finde coloquei a leitura em dia (devorei 6 livros, dos quais alguns preciso apresentar relatório) e meditei sobre a importância de estarmos ligados no Pai para discernir a hora de orar e parar ou orar e caminhar.

Não existe receita na vida cristã pq o Espírito sopra para onde quer e o desafio é a gente ficar atento e em total dependência do Pai para saber qdo caminhar ou parar (igual à coluna de nuvem durante o dia e coluna de fogo à noite). Ai ai... Dureza para a controladora-e-ansiosa-de-plantão (rs)!

A seguir 2 textos do pr. Ed sobre "todas as cousas cooperam para o bem" (Rm 8: 28) - ele tem uma visão bem bacana (segue abaixo).

Chérie, o que me enche o meu coração de esperança é que Aquele que começou a boa obra - em vc, em mim, em nós - irá terminar até o retorno de nosso Senhor Jesus Cristo (Fp 1: 6)!

Beijão e uma semana repleta de bençãos,

KT

TUDO COOPERA PARA O BEM

Coisa irritante é a linguagem dos clichês: expressões repetidas à exaustão que se tornam verdade, não pela sabedoria que encerram, mas pela insistência do uso. "A voz do povo é a voz de Deus", "Deus escreve certo por linhas tortas", "Deus ajuda quem madruga", "Quando Deus fecha uma porta, é porque vai abrir outra melhor", são algumas expressões da cultura popular tratadas como verdade e, para alguns, verdade bíblica.

Pior é quando as expressões bíblicas são pronunciadas literalmente, sem a devida atenção ao significado por trás das palavras. Isso acontece quando as pessoas "tiram o texto do contexto", isto é, isolam uma afirmação e a interpretam segundo sua conveniência, deixando de levar em consideração o que o autor pretendia. "Jesus Cristo é o Senhor", por exemplo, pode tanto significar que "não há nada que Ele não possa fazer por você" quanto "você deve fazer tudo por Ele". Evidentemente, o segundo significado é o bíblico: Jesus é o Senhor para que ao nome dele se dobre todo joelho.

Uma das expressões bíblicas mais repetidas fora do contexto é a famosa frase "todas as coisas cooperam para o bem" (Romanos 8.28). Lembro do professor da escola bíblica que interpretou este texto bíblico contando a história do crente que teve seu carro roubado e abandonado sem gasolina no alto da serra justamente no dia em que sua cidade foi alagada. Isto é, se o carro não tivesse sido roubado (coisa ruim) não seria poupado do alagamento (coisa boa). Conclusão: todas as coisas (roubo do carro) cooperam para o bem (ter o carro em terra seca numa cidade onde todos os carros estão boiando).

As notas de rodapé da Bíblia NVI (Nova Versão Internacional), oferecem outra possibilidade de tradução do texto. Em vez de "tudo coopera para o bem" e mesmo "Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam", a melhor opção é "Deus coopera juntamente com aqueles que o amam, para trazer à existência o que é bom".

Na primeira tradução (Deus age em todas as coisas), Deus é um solucionador de problemas; na segunda (Deus coopera juntamente com aqueles), um solucionador de pessoas. Na primeira, Deus faz coisas para as pessoas; na segunda, Deus faz coisas com as pessoas. Na primeira, Deus abençoa pessoas independentemente da ação das pessoas; na segunda, Deus abençoa pessoas num relacionamento com ele. Na primeira, Deus faz coisas pelas pessoas; na segunda, Deus capacita as pessoas a fazer coisas. Na primeira, ficamos à espera dos sinais de Jesus; na segunda, agimos com ousadia para fazer sinais em seu nome, pois aquele que crê em mim, disse Jesus (João 14.12), "fará também as obras que tenho realizado e coisas ainda maiores".

© 2005 Ed René Kivitz
COOPERADORES DE DEUS

Somos cooperadores de Deus. Esta afirmação do apóstolo Paulo é pouco compreendida e até mesmo distorcida. Assimilamos a expressão "cooperadores" como "ajudantes", pois acreditamos que "Deus faz tudo" e nós ajudamos, como um menino que "ajuda" o pai a lavar o carro, ou "Deus faz tudo através de nós", e no caso seríamos apenas marionetes, como o menino que "escreve" uma carta para a mãe tendo sua mão segura e conduzida pela mão do pai.

A expressão "cooperar", entretanto, pode significar ação conjunta, onde cada um dos cooperadores tem seu papel, sua contribuição, e o resultado é a "soma sinérgica" das partes. Escolho "soma sinérgica" para me referir ao princípio onde, na ação conjunta, 1+1 pode ser mais do que 2, pois quando dois trabalham juntos o resultado é maior do que a simples soma das partes. Nesse caso, cooperar com Deus significa realmente contribuir visando um resultado que não seria obtido com a atuação isolada tanto de Deus quanto da pessoa que com ele coopera.

Por exemplo, diz a Bíblia que "se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela" e "se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". Veja que a ação de Deus sobre a ação humana potencializa o resultado: não se pode deixar a cidade sob a vigilância de Deus enquanto os guardas dormem, nem se pode deixar a construção da casa aos cuidados de Deus enquanto os construtores folgam. Mas nem o guarda nem os construtores terão o mesmo resultado caso deixem Deus de fora do processo.

Mal compreendida, a expressão "cooperar com Deus", desenvolvemos posturas distintas, que nos impedem de fazer o que Deus espera que façamos e por conseguinte não nos permite colher os resultados desejados por Deus. Por exemplo, em vez de cooperação, escolhemos a teimosia: pretender convencer Deus de que estamos certos, prolongando uma discussão que já deveria ter sido encerrada. Além da teimosia, podemos chegar à rebeldia: desobediência explícita á vontade de Deus. Também podemos agir a partir da anulação: deixamos de expressar nosso coração a Deus, alegando que não importa nossa vontade, mas apenas a dele. Agimos também na base da resignação: dizemos a deus o que pensamos e sentimos, mas mesmo não convencidos aceitamos fazer o que Deus quer. Há também a possibilidade da pretensão: achar que conseguiremos desempenhar melhor papel sem a interferência de Deus. Finalmente, podemos agir com base na submissão: a opção consciente de obedecer, motivada pela confiança no amor e na sabedoria de Deus.

Sem dúvida, a submissão é a melhor de todas as alternativas, mas ainda não é o estágio final de nossa cooperação com Deus. Atingiremos o máximo da intimidade e da cooperação com Deus quando nossas vontades estiverem misturadas de tal maneira que não haverá distinção entre uma e outra. Isso é possível porque "temos a mente de Cristo", mas quase impossível, pois somente pessoas absolutamente controladas pelo Espírito Santo alcançarão este nível de relacionamento com Deus.

© 2005 Ed René Kivitz

September 05, 2006

Adorando a Deus no Deserto - parte 1

Adorando a Deus no Deserto - parte 12
(Agosto 1999) Dando um tempinho para uma história de natal

- por Débora Kornfield

Apesar disto haver acontecido em agosto, sempre penso que é uma história de natal, porque me ensinou tanto acerca da encarnação de Cristo.

Nossa família estava nos Estados Unidos mais uma vez, por poucos meses, para levantar sustento. Daniel estava morando com seus tios em Nova Jersey , trabalhando e se preparando para iniciar a faculdade. O resto da família viajava para visitar familiares, amigos e igrejas parceiras, e a Karis estava enfrentando mais e mais dificuldades para nos acompanhar.

Raquel voltou para o Brasil no dia 1 de agosto, ficando na casa de amigos para não perder o começo do ano letivo, dia 4. Karis, Valéria e eu continuamos em Wheaton enquanto o David participou duma conferência em Willow Creek. Karis quase desmaiou durante um tour da faculdade Wheaton. Até David retornar a Wheaton, dia quatro à noite, estava convencida que precisávamos procurar ajuda para ela. No próximo dia, havíamos agendado uma viagem a uma cidade em outro estado, onde David seria preletor numa conferência missionária. Nosso amigo, Dr. B, médico de clínica geral, morava a caminho, a mais ou menos duas horas de Wheaton. Ligamos para a casa dele, acordando-o, e ele concordou em marcar uma consulta para a Karis, se chegássemos até 6h30 da manhã, porque ele tinha muitos compromissos. (Descobrimos que 4h30 é um ótimo horário para passar pelo congestionamento de Chicago!).

Depois de examinar a Karis, Dr. B disse que poderíamos interná-la ali mesmo ou viajar mais quatro horas para o hospital de crianças Riley em Indianápolis, onde seria cudada por Dr. F, o médico que a acompanhava à distância a vários meses. Dr. B recomendou que a levássemos a Riley. Dirigimos as quatro horas e David deixou Karis e eu com nossas malas na sala de espera do hospital, esperando ainda chegar a tempo à abertura da conferência. Não conhecíamos ninguém em Indianápolis.

Dr. F inseriu um cateter central e Karis começou a receber NPT. Com o passar dos dias, ela ficou mais forte e começou a visitar outros pacientes no hospital: a menininha com queimaduras severas dum incêndio do lar. . . o menino com meningite da coluna esperando mais uma cirurgia. . . a pequena menina que havia passado por cirurgia de coração e cujos pais não podiam acompanhá-la. . .

Enquanto isso, eu permanecia no quarto da Karis e resmungava. Ou saía e andava em volta do hospital, chorando e suplicando a Deus pela cura da minha filha, pelo bem dela e da família toda. Eu realmente não estava feliz. Valéria, com onze anos, me ligou e disse que estava entediada de estar só com o pai e suas reuniões, e queria voltar ao Brasil. Então, no dia 8 de agosto, ela viajou sozinha, pegando três vôos diferentes para chegar em São Paulo , onde amigos bondosos a receberam em sua casa. A essa altura, nossa família de seis pessoas estava em cinco lugares diferentes. David continuou com suas viagens e reuniões que já havia agendado. Me ligou no dia 16 mas não lembrou que era meu aniversário.

Mencionei que eu não estava feliz?

Na manhã do dia 17, enquanto eu resmungava no quarto da Karis e ela visitava seus amigos, uma mulher apareceu na porta e me convidou para descer e tomar café com ela. Enquanto sentávamos na lojinha de café, ela me contou a seguinte história.

Quando sua filha Annette (não seu nome verdadeiro), de 14 anos, entendeu que estava morrendo, se retraiu inteiramente, assumindo uma posição fetal, e não falava com ninguém. Nem com sua mãe ou avó. Com nenhum enfermeiro, médico ou terapeuta. Nem com a psicóloga ou o capelão. Com nenhum dos amigos que ligaram de sua cidade, a duas horas de distância. Ninguém conseguia alcançar Annette nem penetrar a parede de silêncio que construiu em volta de si.

Desesperada, a mãe da Annette se encontrou orando, pela primeira vez desde a infância. Ela pediu a Deus que mandasse alguém que pudesse alcançar Annette.

O próximo dia, contou-me a mãe de Annette, um anjo apareceu na porta do quarto de sua filha. Um anjo vestida no mesmo traje “charmoso” do hospital que usava a Annette, empurrando o mesmo suporte com soro, NPT e medicamentos idênticos aos de sua filha. Pedindo licensa para entrar, este anjo andou até a cama de Annette e simplesmente sentou do seu lado, fazendo cafuné e cantando para ela.

Aí o anjo foi embora, mas o próximo dia voltou, falando carinhosamente com Annette, cantando para ela e orando por ela. Mais tarde, numa outra visita, Annette abriu seus olhos e viu o sorriso do anjo. Com o passar dos dias, Annette começou a retornar o sorriso.

A mãe da Annette me contou que, encorajada pela primeira resposta de oração, ela começou a orar mais, como fazia sua mãe, avó de Annette. Terminando nosso café, ela me convidou para passar no quarto de Annette. Lá, vi a Karis, sentada na cama com Annette, cabeças loura e ruiva juntinhas, olhando uma Bíblia, da qual Annette estava lendo em voz alta. De cada lado da cama estavam os suportes de medicamentos idênticos, com seus respectivos sacos de NTP e lípidos. A avó de Annette estava sentada perto da cama, escutando com lágrimas nos olhos.

Pedi licença, pois também estava para chorar. Saí correndo e, mais uma vez, andei em volta do hospital, desta vez clamando a Deus em arrependimento por meu egoísmo e minha impaciência. Se Deus escolheu atender ao pedido desesperado de uma mãe, mandando a Karis a Indianápolis, como poderia eu ficar ressentida? “Por favor, não me deixe esquecer disto, Senhor,” orei. “E por favor me ajude a lembrar que pedi que Tu fosses Senhor da minha vida, e isso significa que livremente ofereci a Ti o direito de fazer comigo e com a minha família como quiseres. Te agradeço, de todo o coração, que cumpriste Teu propósito com Annette apesar da minha atitude horrível, porque Karis estava disposta a colocar de lado os próprios problemas para ministrar aos outros.”

“. . . era necessário que ele se tornasse semelhante aos seus irmãos em todos os aspectos” (Hebreus 2:17).

September 04, 2006

Com quem você conversa?

Com quem você conversa?
Jesus é a exata expressão de Deus. Hebreus 1.
Quem me vê, vê o Pai. João 14.8

A oração, em forma de prece, súplica, reza, ou mantra, enfim, é a mais elementar expressão de espiritualidade humana. Manter um diálogo com o transcendente é tão visceral quanto qualquer atividade consciente.

Por isso que uma das mais importantes afirmações cristãs é justamente a de que Jesus Cristo é Deus. Seus primeiros discípulos empenharam-se em registrar não somente as próprias declarações de Jesus a seu respeito como também seus testemunhos pessoais. Para eles, diante da vida e das confissões de Jesus, Ele é Deus.

Então, ao oramos, nós os cristãos podemos ter clareza de com quem estamos conversando. Não com uma probabilidade teísta. Não com uma projeção das loucuras humanas em divindades “superdimensionadas”, feitas à imagem e semelhança dos homens. Não com construções e argumentos religiosos da teologia que descreve Deus a partir da lógica. Na verdade, quando oramos, devemos falar com o Deus que se revelou.

Ser cristão é poder saber quem é o Deus com quem conversamos. Não há lugar para idolatria, que é conversar com deuses construídos a partir de falácias ainda que receba o nome de Jeová, Senhor, Deus ou até mesmo Jesus. De fato, não tateamos no escuro procurando por iluminação de lamparina, não estamos buscando conhecer um deus desconhecido, não realizamos despachos a deuses melindrosos e menos ainda concentramos força e concentração em explicações espiritualistas para um Ser Supremo, quase informe, quase energia, fonte de tudo, mas sem personificação.

Não. Nosso Deus tem nome, registro histórico e é uma pessoa, com quem conversamos lucidamente, sem medo. E por conhecermos seu caráter, demonstrado em suas atitudes enquanto esteve entre os homens, podemos conversar com Ele como quem conversa com um conhecido, alguém que não tem prazer em se esconder, mas em se revelar.

Se nos desviarmos de Jesus Cristo, revelado nas Escrituras e nos corações dos homens através de Seu Espírito Santo, qualquer deus será construído em nossa mente, falaremos com qualquer deus desconhecido, ou nem falaremos por acreditarmos se tratar de pura energia cósmica. Perderemos a verdadeira razão da sede de transcendência que habita todo ser humano, que é relacionar-se com o Deus pessoal que se fez homem para que pudéssemos conversar franca e sinceramente.

Quando oro, falo com Jesus Cristo, o Deus a quem entreguei a minha vida.

© 2006 Alexandre Robles

Fonte: http://www.atual.info/dev/atual_devocionais_one.asp?IDDev=283

September 01, 2006

Quem é vc de verdade?

Quem é o maior
"O que reconhece os seus próprios pecados é maior do que aquele que ressuscita os mortos com a sua oração. O que chora durante uma hora por causa da sua alma é maior do que aquele que abraça todo o mundo com a sua contemplação. Aquele a quem é dado ver a verdade sobre si mesmo é maior do que aquele a quem é permitido ver os anjos."

Este comentário de Isaac, o Sírio, monge em Nínive, perto de Mossul, no atual Iraque, no Século VII, me fez lembrar Provérbios 16.32, onde Salomão nos ensina que “maior é aquele que conquista a si mesmo do que aquele conquista uma cidade”. O monge Isaac praticamente ofereceu os requisitos para a conquista do si mesmo: reconhecer os próprios pecados, chorar em razão do estado da alma e ver a verdade sobre si mesmo.

A peregrinação espiritual implica necessariamente o olhar para dentro do próprio ser, que Paulo, apóstolo, chamou de “examinar-se a si mesmo”, como condição para a participação na celebração da Ceia Memorial. O auto-exame, no caso da experiência cristã, deve ser feito sob a iluminação da cruz de Cristo, que ao mesmo tempo que traz à tona o estado da alma e denuncia os pecados de quem se enxerga como verdadeiramente é, oferece cura, consolo e, mais ainda, redenção e transformação.

Qualquer pessoa que recebe a graça de ver a verdade a respeito de si mesma não tem alternativa senão chorar pelo estado de sua alma, e não apenas reconhecer seus próprios pecados como também, e principalmente, cair de joelhos em contrição e confissão, na certeza de que a mesma cruz que é instrumento para a consciência da escuridão interior é também fonte de perdão e luz.

Estranhamente, a peregrinação espiritual proposta em nossos dias está mais preocupada em promover sinais miraculosos dos mais extraordinários, facilitar o caminho da conquista sem limites e penetrar na dimensão dos mistérios do universo espiritual. Os religiosos de hoje preferem ressuscitar mortos, abraçar o mundo e ter visão de anjos.

Não é sem razão que assistimos entristecidos extraordinárias performances sociais concomitantes a fracassos existenciais. É possível ser um sucesso sem ser fiel, bem sucedido sem ser feliz, ser feliz sem ser inteiro. Já ensinou Jesus que a riqueza de uma pessoa não pode ser medida pelo que os olhos podem ver, pois de nada adianta ganhar o mundo inteiro (inclusive o mundo dos anjos e dos mortos) e perder a alma.

© 2006 Ed René Kivitz

Fonte: http://www.ibab.com.br/ed060903.html