July 30, 2013

O limite do contentamento

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- pr. Ricardo Barbosa

No filme 'Terra das Sombras', que retrata o romance e casamento do grande escritor inglês C. S. Lewis, há uma cena que, para a maioria dos espectadores, passa desapercebida, mas que me chama muito a atenção. Trata-se da visita que ele e sua mulher fizeram logo após o casamento a um vale cuja gravura o havia acompanhado desde sua infância num quadro na sala de sua casa e que, para ele, representava o paraíso.

Depois de percorrer alguns quilômetros pelas estradas estreitas do interior da Inglaterra, chegaram enfim ao vale do quadro. Depois de caminhar e admirar a beleza do lugar, ele diz para sua esposa que, para ele, aquilo bastava, não precisava ver mais nada, virar nenhuma curva, que aquilo era tudo quanto gostaria de ver e contemplar.

Fiquei pensando o quanto é difícil para o homem dizer estas simples palavras: Basta, está bom. A medida do contentamento nunca encontra o seu limite. Parece que é algo que sempre está por acontecer, mas nunca acontece. Normalmente, dizemos que no dia em que tivermos este ou aquele bem, ou alcançamos esta ou aquela virtude ou graça, aí então encontramos a medida de nosso contentamento. O fato é que sempre haverá algo por atingir, um bem que ainda não alcançamos, uma conquista que nos falta. O contentamento está sempre na próxima curva.

A indústria do marketing tem como missão manter a alma e o coração humano satisfeitos. Há sempre algo que você ainda não fez e que precisa fazer ou adquirir para ser realmente feliz: uma viagem, um objeto, um romance, uma experiência, uma bênção. Enquanto você não experimentar aquilo você não é uma pessoa feliz, completa. Muitos vivem num estado de completa ansiedade e inquietação, numa sensação de que não podem perder nada, nenhuma oportunidade, porque disto depende o seu contentamento. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Filipenses, afirma que aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação. Para ele, tanto a humilhação quanto a honra, tanto a riqueza quanto a pobreza, tanto a fartura quanto a fome, não eram impedimento para o seu estado de contentamento. Para ele a satisfação era um estado de alma que não dependia das coisas que possuía ou experimentava. Que estado é este? Como é possível experimentá-lo em nossos dias?

Jeremiah Burroughs, um puritano que nasceu no último ano de século 16 e viveu até 1646, escreveu um tratado intitulado 'A rara jóia do contentamento cristão', publicado pela primeira vez dois anos após a sua morte, em 1648. Para ele, o contentamento é um mistério difícil para o homem compreender, e somente a graça de Deus é que pode nos ensinar a combinar tristeza e alegria numa experiência comum de paz e contentamento.

Para Jeremiah, contentamento é o fruto de um coração grato. Numa de suas afirmações, ele diz que um coração gracioso encontra o contentamento na aliança que Deus fez com ele. De fato, há um grande mistério nesta afirmação. Jesus mesmo ensinou aos seus discípulos que não deveriam andar ansiosos pela vida quanto ao dia de amanhã, porque a ansiedade por mais intensa que seja, não pode jamais acrescentar qualquer coisa ao curso da vida de um homem. Ele diz que as indagações sobre o dia de amanhã pertencem aos gentios, aqueles que não conhecem a Deus, nem experimentaram o seu amor. Porque aqueles que conhecem a natureza do amor divino sabem que o Pai celeste conhece todas as nossas necessidades antes mesmo que informemos a Ele.

É então que o nosso Senhor sugere que devemos buscar em 1o. lugar seu Reino e sua justiça, e as demais coisas nos serão acrescentadas. A pauta de oração daquele que experimentou a serenidade de contentamento passa a ser o Reino e a justiça, e não as outras coisas. Se formos sinceros, iremos constatar que a pauta de nossas orações são determinadas pela nossa ansiedade e inquietação, e não pela certeza serena e real do cuidado paterno de Deus sobre a vida daqueles com quem ele celebrou uma eterna aliança.

Jesus conclui este discurso convidando seus discípulos a não temer, a não viver ansiosos, buscando antecipar as aflições do dia de amanhã, resistir as inquietações de ter e possuir, mas compreender o fato de que o Pai se agradou em lhes dar o seu Reino. Eis aqui outro grande mistério. Possuir o Reino de Deus em nós se traduz numa manifestação de Deus mesmo na alma humana que, por si só, é suficiente para promover o contentamento, diz Jeremiah. O contentamento cristão reside no fato de que o Reino já nos foi dado.

O contentamento para Paulo não significava uma acomodação em relação aos desafios da vida e da missão, nem tampouco um desinteresse por melhorar o crescer. Como já disse, trata-se de um estado de alma que descobriu que possui em Cristo tudo quanto lhe é necessário para sua alegria, paz e comunhão com Deus e os homens. Que o contentamento não será encontrado na próxima curva, na visita ao shopping center, no novo emprego ou nas coisas simples e rotineiras, nas experiências que a graça de Deus nos concede dia a dia, nos encontros com amigos, nas tristezas e dores que vivemos. Tudo isso faz parte da existência humana, negá-las é negar a própria vida.

Para Paulo, o contentamento que experimentava a riqueza e pobreza, na fartura ou miséria, eram reflexos de uma mesma realidade vivida na presença de Deus. A certeza de que Deus estava nele, que havia concedido a ele o seu Reino, transcendia suas experiências pessoais e as colocava num universo eterno. Penso que foi isso que Jesus experimentou. Sua vida não foi sempre um arranjo de fatos agradáveis. Experimentou o abandono, angústia, tristeza, traição, alegria e exultação, e todas essas experiências fizeram parte do Reino que havia sido entregue.

Contentamento não significa não passar pelos vales sombrios da morte, mas gozar a plenitude do Reino, do amor, da justiça e da paz.

Para terminar, quero mais uma vez citar C. S. Lewis, que no mesmo filme mencionado no início deste artigo diz que Deus não nos criou para a felicidade, mas para amar e sermos amados. A felicidade como um fim em si mesma pode parecer que só será encontrada na próxima curva, mas quando buscamos amar e ser amados, a encontramos onde estamos.

Não precisamos virar nenhuma outra curva. Aqui está bom. Basta.

VINDE, Ano 2 – No. 22 – Setembro/1997

Fonte: http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/limite.htm
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July 29, 2013

A benção de desligar-se

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“O sol sabe a hora de se por”.
Sl 104.19

- pr. Ricardo Barbosa

O sol sabe a hora de sair de cena. E, ao sair de cena, permite que aqueles por ele afetados também “se ponham”. A luz e o calor do sol e a sua ausência marcam padrões diferenciados do nosso dia-a-dia.

Quando o sol aparece, as pessoas saem para o serviço e trabalham até a tarde. Quando o sol se põe as pessoas se desligam do trabalho e dos afazeres domésticos e descansam. Apenas as corujas e alguns animais selvagens ‘trabalham’ durante a noite, mas mesmo estes sabem a hora de se por.

O que há de errado conosco quando não conseguimos nos desligar? Que prejuízo causamos a nós mesmos, aos nossos queridos e aos que estão ligados a nós no ambiente de trabalho quando não respeitamos estes padrões impostos pela natureza, por Deus?

Aqueles que estão à frente de ministérios, de organizações sociais ou de igrejas, muitas vezes, sofrem com a insônia, aquele tipo de insônia decorrente da preocupação com prazos, com tarefas a cumprir, com a falta de recursos, com o aumento das demandas por causa das histórias tristes de que se tornam conhecedores e coadjuvantes; por causa de problemas de relacionamento. Corremos o risco de negligenciar o descanso físico e a calma espiritual, na prática ocupando um lugar que não é nosso.

Cada noite de descanso é uma reafirmação de que Deus está no controle e de que somos simples cooperadores. O único remédio para este tipo de ansiedade, intranquilidade ou angústia é descansar em Deus, pois Ele “não nos chamou para sermos operários agitados do seu reino, mas para amá-lo e amar ao próximo de todo o coração”.

Fonte: http://www.espacobless.com.br/mensagens/a-bencao-de-desligar-se/
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July 28, 2013

Separação e contraste

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- pr. Ricardo Barbosa

Sou de uma geração que ouviu falar muito sobre santidade. Na minha juventude havia uma preocupação sincera com a necessidade de se viver uma vida santa. Livros como “Em Seus Passos o Que Faria Jesus?” e a constante pergunta se Jesus faria o mesmo no meu lugar funcionavam como uma forma de freio moral. A luta contra os três grandes inimigos da santidade - o diabo, o mundo e a carne - era levada a sério. A vontade de resistir-lhes era grande. A luta era incansável.

A busca pela santidade trouxe, para muitos, um tipo de paranoia, uma preocupação com a “perfeição” moral que negava o prazer. Isto levou alguns a abandonarem a fé, a fim de preservar a sanidade. Outros, sem abandoná-la, tornaram-se cínicos em relação ao discurso moralista cristão. As mudanças sociais dos anos 60 e 70 questionaram a herança cristã vitoriana, promovendo uma mudança de paradigmas.

A partir dos anos 80, o tema da santidade perdeu força e interesse. Em seu lugar, entrou a preocupação com a “saúde espiritual”. Cresceu a busca por uma espiritualidade mais humana, centrada no bem-estar pessoal e no reconhecimento do prazer como expressão saudável da fé. Se o velho modelo era fundamentado na renúncia e no sacrifício, o novo foi construído sob o alicerce do prazer e da aceitação.

Entramos no século 21 e percebemos que “saúde espiritual” tornou-se sinônimo de “saúde emocional” e substituto para a salvação por meio do arrependimento e da fé. Sentir-se bem e ter saúde emocional e espiritual é o que importa. O discurso cristão não é mais contracultural. O mundo e a carne deixam de ser inimigos. Ser cristão significa sentir-se bem e ajustado com a cultura secularizada.

Contudo, o chamado para sermos santos permanece central para a vida cristã. Mesmo que nossa compreensão seja limitada ou condicionada por modelos culturais, a identidade cristã repousa sobre o fato de que Deus é santo e, porque ele é santo, somos chamados a ser santos como ele. E o que isso quer dizer?

O reverendo J. I. Packer afirma que a santidade envolve separação e contraste. A vida de Jesus ilustra bem isto. Por um lado, ele afirma que seu reino não é deste mundo (separação). Por outro, a forma como vive representa um enorme contraste com a cultura da época. Ser santo é ser separado do mundo. Não uma separação alienada ou esquizofrênica, mas sim uma separação que intensifica o contraste entre o mundo e o reino de Deus.

Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, Deus chama e separa um povo para ser seu, um povo sobre o qual ele reina e governa. O profeta Jeremias reafirma o significado da aliança, dizendo: “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jr 31.33). O apóstolo Pedro faz coro, dizendo: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1Pe 2.9-10).

Conversão significa responder ao chamado de Cristo em obediência e fé, renunciar o mundo e viver como povo santo de Deus. Isto requer separação e contraste. É por esta razão que Jesus disse aos discípulos que, se eles fossem do mundo, o mundo os amaria; porém, como eles foram chamados do mundo para Cristo, o mundo os odeia como também o odiou (Jo 15.18-19). Viver como Cristo viveu implica participar do mesmo sofrimento e das mesmas alegrias. Jesus afirmou: “O servo não é maior que o seu Senhor”.

A esperança para o mundo repousa neste povo separado por Deus. Um povo cuja vida, relacionamentos, conduta, ética, moral, expõem o contraste entre a humanidade pretendida por Deus e revelada em Jesus Cristo e a forma como o mundo e a cultura se estruturam sem Deus. Este contraste traz esperança para alguns, tensões para outros e, inclusive, incompreensão e perseguição.  

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/335/separacao-e-contraste

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=oaf1lrBgyA4&feature=related
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July 27, 2013

Alegria "fora de hora"

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Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.

Tiago 1.2-4

- por Ed René Kivitz

Tiago, irmão de Jesus, escreveu uma carta aos cristãos que estavam sofrendo perseguição. Eles haviam sido expulsos de Jerusalém e deixado para trás seus bens, familiares e amigos. Estavam começando vida nova em outro lugar e precisavam construir novos relacionamentos, redefinir sua carreira profissional e ainda por cima se defender dos ataques daqueles que se opunham à sua fé em Jesus Cristo.

Um dos conselhos de Tiago para aqueles cristãos em situação tão adversa foi que deveriam receber com alegria as tribulações e provações que a vida colocava diante deles. Tiago justificou seu conselho apresentando três conseqüências das tribulações.

As tribulações provam a nossa fé, isto é, revelam a qualidade dos alicerces onde construímos nossas vidas. Outra maneira de dizer isso é que as tribulações nos mostram quem de fato somos. Muitas pessoas vivem iludidas em relação a si mesmas, e por esta razão constroem suas vidas em alicerces falsos - e vice-versa. Cedo ou tarde estes alicerces são desmascarados e tudo o que está sobre eles pode ruir, como por exemplo: auto-estima, esperança, prazer de viver, relacionamentos, sonhos de futuro, carreira profissional. As situações da vida que confrontam nossos alicerces existenciais são de fato oportunidades extraordinárias para nos reinventarmos, tanto substituindo o que identificamos como inadequado, quanto no desenvolvimento do que identificamos frágil.

As tribulações produzem perseverança, isto é, nos fortalecem para enfrentar a vida. O ditado popular diz que "Deus dá o frio conforme o cobertor". Acredito nisso. Acredito que o exercício de viver nos coloca diante de desafios proporcionais à maturidade. Uma é a dificuldade da criança, outra, do adolescente, e outra, dos adultos que já não acreditam em Papai Noel e já deixaram a prepotência juvenil de lado. As dificuldades que enfrentamos no caminho nos ajudam a encarar a vida e continuar andando rumo ao futuro desejado. À medida que vamos encarando e superando as tribulações, vamos perdendo o medo de cara feia, até que a vida mostra sua face mais terrível e se surpreende com nossa capacidade de superá-la.

Finalmente, as tribulações nos fazem pessoas maduras e íntegras, sem falta de nada. Atravessar tempos difíceis exige de nós a descoberta e o desenvolvimento de recursos interiores. As tribulações nos tiram todos os pontos externos de apoio: nos sentimos solitários, incompreendidos e injustiçados; perdemos posição, status e privilégios, além de dinheiro e conforto; e descobrimos que as bases onde escorávamos nossa identidade e as fontes de onde tirávamos forças para viver eram falsas ou insuficientes.

Nesse momento, olhamos para dentro e para o alto. E descobrimos uma fé mais amadurecida, que nos aproxima mais de Deus, e recebemos a coragem de continuar vivendo. Estranhamente, vamos percebendo que precisávamos de bem menos do que imaginávamos para a nossa felicidade, até que surpresos, nos deparamos com a sensação de que muito embora o mundo lá fora esteja em convulsão, o mundo de dentro do coração, está em paz e serenidade.

Quando chegamos nesse ponto de integridade (integralidade) é que passamos a desfrutar dos poucos recursos, dos amigos raros e das pequenas alegrias do dia-a-dia como suficientes para a felicidade.

Aí sim, somos homens e mulheres de verdade. Construídos na forja das tribulações. Livres das ilusões. Prontos para viver, dar e construir.

Fonte: http://www.lideranca.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=7683
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July 26, 2013

Extorsão x sacrifício: a verdadeira expressão do amor

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Por isto o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim, pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.

Jo 10: 17 e 18

Estes dois versículos, que fazem parte do contexto em que Jesus se apresenta como um Pastor que protege e dirige a vida de suas ovelhas e distingue com propriedade o evangelho de qualquer religião humana. A religião prevê o sacrifício de seus fiéis à divindade, seja nesta ou em outra vida. Tais sacrifícios se diferem em intensidade e qualidade. Dinheiro, tempo, vidas humanas e animais, qualificam um sacrifício. O evangelho, porém, é a notícia de que Deus se sacrificou pelo homem.

Além de afirmar que se sacrificou pela humanidade, Jesus descreve como foi seu sacrifício. Ele ofereceu sua vida pelos homens, nada lhe foi tirado. Ele não foi obrigado a morrer, morreu porque quis.

Equivocadamente temos interpretado e proclamado que a causa da morte de Cristo foram os pecados dos homens, como se Ele estivesse forçado a resolver um problema ocasionado após a Criação. Como se Deus tendo criado o Universo e colocado o homem como seu administrador na Terra fosse pego de surpresa pela rebelião humana e para resolver o problema se viu forçado a morrer na cruz. Tal compreensão é contrária à afirmação fundamental deste texto, de que Jesus entregou sua vida, sem que fosse forçado, sem que ela lhe fosse tirada.

Foi sua decisão entregar-se como sacrifício pela humanidade, antes mesmo de criar o Universo. Sabedor que é de tudo o que há, antes mesmo que seja manifesto na história, de acordo com seu poder como Deus, decidiu criar, mesmo sabendo que a humanidade se rebelaria e por isso, como já disse um profeta nosso contemporâneo, antes de dizer Haja Luz, Deus disse Haja Cruz. O cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo, como nos diz João em apocalipse. Pedro, em sua carta, nos afirma que o sacrifício de Cristo é conhecido antes da fundação do mundo e manifesto na história. O fato do qual tomamos conhecimento na história da humanidade é apenas a manifestação concreta da realidade existencial que é a razão de todas as coisas, que Deus nos amou antes, se entregou antes, para que a criação fosse possível. Por isso é que Paulo afirma em Colossenses que tudo foi feito por Cristo, para Cristo, em Cristo.

Enfim, Cristo entregou-se por amor ao homem. Por isso que o evangelho padroniza o amor afirmando que Deus é amor. Amor é o que Ele é e a maneira como o expressou. Portanto, amar é entregar-se, é dar de si ao outro na expectativa de redimir o outro. Nada tem a ver com a versão caótica de amor que o prevê como uma troca, apenas sendo digno de nosso amor quem da mesma maneira nos ama. Na versão divina, amar é dar na expectativa de que a oferta torne digno o objeto do amor; não ama pela dignidade do ser, mas para dignificá-lo.

A resposta do seguidor de Jesus é amar como Ele amou. No entanto, o que poderia sugerir um caminho ainda mais utópico de prática cristã, se torna uma libertação. Porque poderíamos dizer que se devemos amar como Jesus amou então devemos entregar nossa vida pelas pessoas e literalmente morrer por elas. Tal sugestão nos levaria a trilhar ou o caminho do cinismo e dizer que já que é impossível então nem deve ser levado a sério, ou o caminho da tentativa de dar além de nossos limites. Aqui é que está a questão.

Porque no exemplo de Jesus, amar é dar tudo o que se tem. O que Ele tinha era sua vida. Nós não. Nós temos bem menos.

Acontece que geralmente somos forçados a dar além de nossas possibilidades, além de nossos limites. Somos violentados, furtados, invadidos por exigências e cobranças sem fim. E fazemos isso com os outros. Nossas relações se sustentam em um sem número de cobranças e exigências, de expectativas ora declaradas e ora veladas. Esperamos muito das pessoas e as cobramos se não satisfizerem-nos, depositamos sobre os outros nosso prazer e alegria. Sofremos com isso do mesmo modo e assim vamos criando um ambiente de relacionamento adoecido.

As pessoas invadem nossa privacidade, roubam nosso tempo, tiram nosso dinheiro, abusam de nossos favores e não se saciam. Fazemos as mesmas coisas. E achamos que isso tudo é amor. Mas não é este tipo de sacrifício que se assemelha ao amor de Jesus porque nestes casos nós estamos dando o que não temos, estamos sendo forçados a dar, alguma coisa nos está sendo tirada, configurando então não sacrifício, mas extorsão. Dar o que se tem já é o sacrifício e nunca nos diminiu, nunca nos deixa com menos, porque da mesma maneira que Jesus deu sua vida e a teve de volta, quando damos de nós, o que é nosso e o que fazemos, recebemos de volta a experiência de quem ama como Jesus ama. Quem dá de si, se sacrifica e sempre recebe de volta.

Este equivocado sacrifício que exige das pessoas além do que elas podem ser, dar ou produzir não é amor, é extorsão, adoece o ser. Então as pessoas passam a vida toda sacando de suas contas emocionais e físicas tudo aquilo que lhes é exigido e um dia seu corpo grita “não aguento mais”, um dia o coração avisa “estou parando, não vou aguentar”, um dia a mente diz “vou embora, não aguento mais”.

E por que permitimos que nos invadam e nos agridam? Porque temos medo de que se dissermos não, seremos mal interpretados e, consequentemente, rejeitados. Queremos ser aceitos e por isso aceitamos dar além do que podemos, colocando nossa saúde em risco. Algumas pessoas chegam a níveis patológicos de permissão ao abuso, se tornam escravas dos apetites alheios, servem a todos os fetiches do outro, por medo de serem abandonadas se submetem a todas as exigências.

Quando damos além do que podemos, esquecemos que damos não somente de nós mesmos, mas daqueles que convivem conosco. Esquecemos que nós não existimos sozinhos e que nossos atos afetam diretamente algumas pessoas muito próximas de nós. Por isso é que quando damos além da conta, passamos a dar o que é dos outros, o que é dos nossos queridos, que se vêem forçados a fazer parte de nossas aventuras de doação e mesmo não querendo fazer aquilo, passam a ser extorquidos também. Então os filhos sofrem com os atos dos pais, os cônjuges e por aí vai. E a situação piora quando o argumento usado é o amor e a bondade, porque aqueles que se sentem usados e invadidos pela oferta do outro passam a se sentir também culpados por não serem “tão dadivosos”.

Quem quiser amar como Jesus amou terá de aprender a dizer não. E em dizendo não terá de aprender a conviver com a rejeição. Porque nós jamais poderemos suprir todas as necessidades das pessoas, satisfazer todas as carências e expectativas, sequer conseguiremos atender a todas as pessoas, por isso precisaremos dizer não com regularidade.

Tal atitude convicta nos aliviará. Seremos libertos de uma vida de atendimento aos outros sem a permissão de nosso coração. Pensaremos primeiro em nós. E isso não é egoísmo, mas responsabilidade porque egoísmo não é pensar primeiro em si mesmo, mas pensar somente em si mesmo. Quem pensa primeiro nos outros, dá além do que pode, quem pensa primeiro em si mesmo, cuida de si mesmo e se descobre em si mesmo e está pronto para atender às outras pessoas dando de si, aquilo que tem e que pode dar, atendendo algumas necessidades e criando um ambiente de amor sacrificial verdadeiro, onde o sacrifício não usurpa ninguém. Egoísmo é poder dar de si e não dar, amor é dar apenas o que se tem pra dar, a religião, no entanto, cobra que demos além do que podemos dar.

Amar como Jesus amou é amar a Deus com todo o ser e ao próximo como a si mesmo. Podemos traduzir que cuidar como Jesus cuidou é cuidar do outro como se cuida de si mesmo. E por aí vai. Quem cuida de si mesmo, reconhece seus limites, não permite agressões e invasões, é mais saudável e tem mais saúde para transmitir às pessoas. Não dá para ser reconhecido e aplaudido porque não teme mais ser rejeitado quando não satisfaz todas as expectativas dos outros, portanto ama livremente, porque amar é dar o que se tem, livre e espontaneamente, sem pressão, sem agressão, sem roubo, apenas porque se quis dar.

Todo o evangelho se sustenta nisso. Dá a Deus quem dá com alegria o que propôs no coração e de nada vale dar a vida para ser queimada, todo dinheiro aos pobres ou oferecer todo o conhecimento para o bem da humanidade, se isso não for feito com amor, ou seja, se não for o que se tem e o que se pode dar.

Seja liberto dos roubos a que você foi submetido até hoje. Liberte as pessoas que você prende em suas armadilhas emocionais e agressivas, em suas chantagens e cobranças. E somente depois de se libertar, observe o que há em você, quem é você, o que você tem e aí então, com amor e gratidão, sacrifique o que tem para cooperar com Deus na redenção da humanidade.

Para a Glória dEle e para o bem de todos: de quem recebe e de quem dá, porque só é mais feliz quem dá do que quem recebe; se quem dá, dá aquilo que tem, só o que tem.

© 2005 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/extorsao-versus-sacrificio-a-verdadeira-expressao-do-amor/
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July 25, 2013

O prazer de estar junto x scripts mentais

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- Anônimo

Você já deve ter percebido que muitas das atitudes que tomamos diariamente provêem de receitas prontas em nossa mente, sobre o modo de agir em determinado aspecto. Este roteiro mental que vamos desenvolvendo como o caminho certo para os vários assuntos com que nos deparamos rotineiramente, pode ser chamado também de script mental.

Noto que diversas pessoas reclamam que minha cadela late muito na vizinhança. Aos poucos vou criando um roteiro de como não deixar ela latir, para não incomodar os outros. Desta forma, acabo acreditando que o roteiro, o script que criei, é a "receita perfeita" para que ela não lata, e sempre que não consigo implementar esta receita, me irrito com tudo e com todos, inclusive com a minha cadela, que acaba pagando o pato, e às vezes, até apanhando por causa disto.

A verdade é que com um script mental, ficamos cegos para o resto acreditando que só aquele caminho traçado e percorrido evitará o latido. Na psicologia, é assim que desenvolvemos a Neurose. Pois toda vez que saímos do script previsto, temos um ataque de nervos (que vai se ampliando com o tempo). Por outro lado, por que na maioria das vezes esta cadela late? Se prestarmos a atenção, veremos que ela late exatamente porque quer atenção, quer estar junto, quer carinho, quer demonstrar o seu amor por nós. E o mais interessante é que, mesmo depois de ter apanhado, ela nos tratará como se nada tivesse ocorrido, demonstrando todo o seu incondicional amor.

Mas espera um pouco.

Veja se vc não tem esta mesma atitude com as pessoas que te cercam! Por exemplo, tracei um script de como minha filha deve se comportar para que considere-a dentro do meu parâmetro do que uma filha legal deve fazer, e de repente, me vejo discutindo com ela, e às vezes até virando a cara na hora em que ela mais precisa de mim, e por quê? No fundo é porque ela fugiu do que considero certo para sua vida em meu script. Mas pera aí, a vida não é dela? E o seu livre arbítrio? Será que ela não está agindo assim porque, como a querida cadela, necessita mais de minha atenção, de meu amor, do meu carinho, e não enxergo outra coisa, a não ser o script que criei para ela?

Este final de semana, meu gato me ensinou algo a este respeito. Fiquei muito bravo com ele, porque miava muito, pulava o muro toda hora e fui desenvolvendo uma raiva por ele. Cheguei a quase judiar dele, com alguns tapas a mais. Pois bem, ontem estava num momento de relaxamento no sofá da sala e deixei-o entrar, depois de muita insistência. Ele entrou pela janela como se nada tivesse ocorrido. Sentei no sofá e ele de pronto pulou no meu colo. Começou com aquela sessão de amassa pão, se ajeitou e deitou no meu colo, com o maior ar de satisfeito. Ao sentir aquela energia de amor, pude nitidamente perceber que, fora aquele meu maldito script para com ele, o que sobrava era o puro amor.

Estes scripts acabam sendo o 1o. degrau para o pré-conceito que podemos desenvolver em vários assuntos. Portanto, às vezes, pare um pouco. Pense se não anda afastando sua esposa, seus filhos, seus parentes, seus melhores amigos, seus animais, em função de um destes scripts.

Permita-se deixar um pouco de lado o script e sentir o prazer de estar junto - apenas estar junto - e perceberá que fora isto, o resto é tudo script.
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July 24, 2013

Para um lugar espaçoso


Eu te amo, ó Senhor, força minha.

O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo, em quem me refúgio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio.

Invoco o Senhor, que é digno de louvor, e sou salvo dos meus inimigos.

Cordas de morte me cercaram, e torrentes de perdição me amedrontaram. Cordas de Seol me cingiram, laços de morte me surpreenderam.

Na minha angústia invoquei o Senhor, sim, clamei ao meu Deus; do seu templo ouviu ele a minha voz; o clamor que eu lhe fiz chegou aos seus ouvidos.

Então a terra se abalou e tremeu, e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto ele se indignou.

Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo devorador; dele saíram brasas ardentes. Ele abaixou os céus e desceu; trevas espessas havia debaixo de seus pés. Montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento.

Fez das trevas o seu retiro secreto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as espessas nuvens do céu.

Do resplendor da sua presença saíram, pelas suas espessas nuvens, saraiva e brasas de fogo.

O Senhor trovejou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. Despediu as suas setas, e os espalhou; multiplicou raios, e os perturbou.

Então foram vistos os leitos das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo, à tua repreensão, Senhor, ao sopro do vento das tuas narinas.

Do alto estendeu o braço e me tomou; tirou-me das muitas águas. Livrou-me do meu inimigo forte e daqueles que me odiavam; pois eram mais poderosos do que eu.

Surpreenderam-me eles no dia da minha calamidade, mas o Senhor foi o meu amparo.

Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque tinha prazer em mim. Recompensou-me o Senhor conforme a minha justiça, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos. Pois tenho guardado os caminhos do Senhor, e não me apartei impiamente do meu Deus.

Porque todas as suas ordenanças estão diante de mim, e nunca afastei de mim os seus estatutos.

Também fui irrepreensível diante dele, e me guardei da iniqüidade. Pelo que o Senhor me recompensou conforme a minha justiça, conforme a pureza de minhas mãos perante os seus olhos.

Para com o benigno te mostras benigno, e para com o homem perfeito te mostras perfeito.

Para com o puro te mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário. Porque tu livras o povo aflito, mas os olhos altivos tu os abates.

Sim, tu acendes a minha candeia; o Senhor meu Deus alumia as minhas trevas. Com o teu auxílio dou numa tropa; com o meu Deus salto uma muralha.

Quanto a Deus, o seu caminho é perfeito; a promessa do Senhor é provada; ele é um escudo para todos os que nele confiam. Pois, quem é Deus senão o Senhor? e quem é rochedo senão o nosso Deus?

Ele é o Deus que me cinge de força e torna perfeito o meu caminho; faz os meus pés como os das corças, e me coloca em segurança nos meus lugares altos.

Adestra as minhas mãos para a peleja, de sorte que os meus braços vergam um arco de bronze. Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me sustém, e a tua clemência me engrandece.

Alargas o caminho diante de mim, e os meus pés não resvalam. Persigo os meus inimigos, e os alcanço; não volto senão depois de os ter consumido.

Atravesso-os, de modo que nunca mais se podem levantar; caem debaixo dos meus pés.

Pois me cinges de força para a peleja; prostras debaixo de mim aqueles que contra mim se levantam.

Fazes também que os meus inimigos me dêem as costas; aos que me odeiam eu os destruo. Clamam, porém não há libertador; clamam ao Senhor, mas ele não lhes responde. Então os esmiuço como o pó diante do vento; lanço-os fora como a lama das ruas.

Livras-me das contendas do povo, e me fazes cabeça das nações; um povo que eu não conhecia se me sujeita. Ao ouvirem de mim, logo me obedecem; com lisonja os estrangeiros se me submetem. Os estrangeiros desfalecem e, tremendo, saem dos seus esconderijos.

Vive o Senhor; bendita seja a minha rocha, e exaltado seja o Deus da minha salvação, o Deus que me dá vingança, e sujeita os povos debaixo de mim, que me livra de meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim; tu me livras do homem violento.

Pelo que, ó Senhor, te louvarei entre as nações, e entoarei louvores ao teu nome. Ele dá grande livramento ao seu rei, e usa de benignidade para com o seu ungido, para com Davi e sua posteridade, para sempre. 

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=U0Zc_VWJJoI 
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July 23, 2013

Você tem sede do que?

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Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus!

A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus? As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, porquanto se me diz constantemente: Onde está o teu Deus?

Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como eu ia com a multidão, guiando-a em procissão à casa de Deus, com brados de júbilo e louvor, uma multidão que festejava.

Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença.

Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma está abatida; porquanto me lembrarei de ti desde a terra do Jordão, e desde o Hermom, desde o monte Mizar.

Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim.

Contudo, de dia o Senhor ordena a sua bondade, e de noite a sua canção está comigo, uma oração ao Deus da minha vida.

A Deus, a minha rocha, digo: Por que te esqueceste de mim? Por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo?

Como com ferida mortal nos meus ossos me afrontam os meus adversários, dizendo-me continuamente: Onde está o teu Deus? Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?

Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus.

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=laKR-SoqtTw 
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July 22, 2013

Liberdade e felicidade

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 - pr. Ed René Kivitz

Tenho certeza que você quer ser livre e feliz. Então faça o seguinte: esqueça a liberdade e a felicidade. Preste atenção na Voz. Quando você ouvir a Voz e fizer o que ela mandar, então a liberdade e a felicidade chegarão sem que você se dê conta.

Imagino que você é uma pessoa muito parecida comigo. Quando as coisas não vão muito bem, você fala sem parar - mesmo que suas palavras não saiam da sua cabeça, tenta resolver do seu jeito e acha que "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Você deve ser do tipo que acha que as coisas acontecem para quem se mexe, e mesmo que você seja uma daquelas pessoas que não têm muita iniciativa, no fundo sente uma pequena culpa achando que poderia se mexer mais. Em síntese, você sabe que o tempo não para, e que a melhor coisa que você tem a fazer é ir à luta: falar e fazer um monte de coisas.

Tudo errado. Nossas palavras e ações não são suficientes para colocar as coisas em ordem. Somente a Voz sabe o que, porque, para que, quando e como as coisas devem ser feitas. Agora preste atenção: tenho uma notícia boa e outra ruim. A boa é que a Voz quer contar o segredo da liberdade e da felicidade para você. A ruim (que na verdade é boa, mas quase ninguém acredita) é que a primeira coisa que a Voz vai dizer para você é que você precisa de uma profunda transformação para experimentar a liberdade e a felicidade.

A Voz vai dizer para você que a felicidade está dentro de você, e que quando você for você mesmo, ou mesma, a felicidade será natural, porque o que faz você infeliz é tentar ser o que todo mundo diz que você deve ser-ter-fazer-conquistar e por aí vai. Para saber quem você é de fato, você tem que ouvir a Voz. A Voz vai funcionar como um espelho, onde você vai ver sua imagem falsa e seu semblante desfigurado, e vai sussurrar no seu coração como você deve ser. E a melhor coisa que você terá a fazer será obedecer a Voz.

A Voz também vai dizer que as correntes que impedem você de experimentar a liberdade atende pelo nome de "egoísmo". A Voz vai dizer que enquanto você estiver vivendo em busca da liberdade e da felicidade tudo o que você vai conseguir é se tornar cada vez mais escravo ou escrava dos seus desejos e caprichos.

A Voz vai dizer que quando você fizer morrer seu ego infantil e melindroso e se converter ao seu próximo, a liberdade vai bater à sua porta. Ninguém é tão livre quanto aquele que já não vive para si mesmo.

Livre é quem rompe os grilhões do egoísmo.

Esse também é feliz.

Fonte: http://www.ibab.com.br/palavra-pastoral.php?id=60 
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July 21, 2013

Pelo direito à gentileza

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Mimar não é estragar, a grosseria é que destroi

Deixe que eu seja gentil.

Deixe que puxe a cadeira, espere um pouco, minhas mãos estão chegando ao espaldar, deixe que abra a porta, me dê tempo, minhas mãos estão pousando na maçaneta.

Deixe que eu seja gentil, que eu me antecipe a seus incômodos, que procure facilitar suas palavras, que ajude a expressar sua vontade, que concorde com seu silêncio.

Deixe que eu seja gentil, meu amor.

Minha gentileza não é ditadura, minha gentileza não é imposição.

Não desejo mandar em você, e sim mostro que não há meu medo de ser dominado.

Deixe que eu dê colo, faça cafuné, massagem nos pés, me mantenha acordado até que durma.

Deixe que eu seja gentil, que tenha a capacidade de adivinhar quando se emocionou ou não, que responda a ataques e indelicadezas. Sei que pode se defender sozinha. Não estou lhe chamando de frágil.

Deixe que eu seja gentil, que aceite meu casaco nos ombros no fim da noite, que aceite meu elogio no início do dia.

Deixe que seja gentil, que eu cozinhe seu prato predileto, que arrume a cama, lave a louça e que você não tema a mesura, não pense em conspiração.

Gentileza não é favor. Gentileza não guarda recibo.

Não peço nada em troca, não protesto recompensa. A gentileza é de graça. A gentileza não tem caminho de volta.

Deixe que eu seja gentil, que pague a conta do restaurante, adquira um vestido. Não estou lhe corrompendo, não estou lhe comprando.

Gentileza não é suborno, gentileza não é chantagem. Não me culpe por ser gentil. Não me entenda errado. Não pretendo controlá-la, logo eu que mal me domino.

Deixe que seja gentil, mimar não é estragar, a grosseria é que destrói.

Deixe que eu seja gentil. Que eu possa tirar seus sapatos e guardá-los nas gavetas. Não é machismo, amor, não é machismo cuidar de você. Sei que se vira sozinha desde a adolescência, que não precisa de ninguém, nem de meus olhos assustado por um sim.

Mas deixe que eu seja gentil. Que eu possa acompanhá-la até o toalete durante a festa, que possa aguardá-la na saída. Gentileza é se preocupar antes de qualquer problema.

Deixe que eu seja gentil, deixe que seja sua sombra mais frondosa. Respeitar é jamais esquecer que você está ao meu lado. Sou gentil por saudade antecipada.

Deixe que eu pegue mais coberta, que feche a janela, que atenda o interfone e telefone.

Deixe ser sua audição mais apurada: a luz se acende inclusive para os ouvidos.

Não elimine o que recebi de meus pais. A paciência das pequenas urgências.

Deixe que eu seja gentil, não ofereço porque pedia, não irei cobrar.

Gentileza é escolha, gentileza é destino.

Deixe que eu seja gentil, vou perguntar muitas vezes ao dia como está, não canse de me responder.

Deixe que eu seja gentil, que eu segure seu guarda-chuva, que eu busque um copo de água de madrugada, que eu dobre suas roupas e lembre qual o momento de acordar.

Não apague minha educação. Não estou dizendo que você é inútil, só quero ser gentil.

Não estou dizendo que depende de mim, amor, que não valorizo sua liberdade.

Deixe eu ser também você.

- Fabricio Carpinejar

Fonte: Isto é Gente, Mai/13, pág. 80.
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July 20, 2013

Você tem coragem para amar?

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- Gibran Khalil Gibran

Quando o Amor te chamar, segue-o ainda que seus caminhos sejam árduos e íngremes.

E quando suas asas te envolverem, rende-te a ele ainda que a espada escondida entre suas plumas te possa ferir.

E quando ele te falar, acredita nele ainda que sua voz possa despedaçar seus sonhos como o vento Norte devasta o jardim...

Todas essas coisas o Amor te fará para que conheças os segredos do teu coração e com esse conhecimento te tornes um fragmento do coração da Vida.

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=YqioyTI6swQ
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July 19, 2013

Correr riscos

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Rir é correr o risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.

Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.

Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.

Confiar é correr o risco de decepcionar-se.
Tentar é correr o risco de fracassar.

Mas os riscos devem ser corridos porque o maior perigo é não arriscar.
A pessoa que não corre riscos, não faz nada, não tem nada e não é nada.

Pode até evitar sofrimentos e desilusões, mas não consegue nada, não sente, não muda, não cresce, não ama, não vive.

Acorrentada por suas atitudes, ela vira escrava e priva-se de sua liberdade.

Somente a pessoa que corre riscos é livre.

PS- Vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=ugingVIqyK0
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July 18, 2013

A arte da comunhão

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- pr. Ricardo Barbosa de Sousa

Uma das reclamações mais freqüentes em nossas igrejas é a falta de amizades sinceras, amor verdadeiro, relacionamentos profundos. Podemos ter uma boa estrutura eclesiástica, boa doutrina, boa música, bons programas, mas nada disto é suficiente para atender a necessidade humana de ser amado, aceito, acolhido, reconhecido e valorizado. Por um tempo, os programas ajudam a preencher este vazio, a música parece criar um clima saudável, o trabalho e a participação nos programas dão a sensação de que é disto que precisamos, porém mais cedo do que imaginamos, nos vemos de novo frustrados com a superficialidade afetiva, a hipocrisia dos que nos cercam, a ausência de amizades sinceras e profundas.

A conversão é a transformação do “eu” solitário num “nós” comunitário. É o chamado para sermos amigos de Deus e dos nossos irmãos. As parábolas e imagens do reino glorioso de Cristo sempre envolvem mesas fartas, festas, multidão de todas as línguas, tribos, raças e nações; Paulo nos fala de uma nova família, um corpo; João nos fala de um rebanho e de uma cidade — essas imagens revelam que o reino de Deus é o lugar onde as pessoas se encontram na comunhão festiva com Cristo.

Porém, para muitos, a igreja não tem sido este lugar; pelo contrário, tem sido um lugar de desilusão, frustração e solidão. Um lugar de mágoas, ressentimentos e traições. Sei que existem aqueles que se sentem acolhidos e amados em suas comunidades, mas esta não é a regra geral. No entanto, mesmo os que se sentem bem nem sempre experimentam uma verdadeira comunhão de amizade e amor.

Grande parte do fracasso na comunhão deve-se aos falsos ideais e às fantasias que projetamos. Para Bonhoeffer, a comunhão falha porque o cristão traz em sua bagagem “uma idéia bem definida de como deve ser a vida cristã em comum, e se empenhará por realizar esta idéia... Qualquer ideal humano introduzido na comunhão cristã perturba a comunhão autêntica e há que ser eliminada, para que a comunhão autêntica possa sobreviver”. Para ele, o ideal que cada um traz para a igreja acaba sendo maior que a própria comunhão e termina destruindo-a.

As imagens bíblicas de banquete, mesa farta cheia de amigos, nos ajudam a refletir melhor sobre o significado da comunhão e da amizade. Quem viu o filme ou leu o livro A Festa de Babette percebe isto. Babette chega a um vilarejo na Dinamarca fugida da guerra civil em Paris e emprega-se na casa de duas filhas de um rígido pastor luterano. As irmãs seguem à risca os rigores da sua fé pietista, que as proíbe de qualquer prazer na vida, sobretudo o material. Um dia, Babette descobre que ganhou um prêmio na loteria e, em vez de voltar para a França, onde havia sido uma exímia cozinheira em Paris, pede permissão para preparar um jantar em comemoração do centésimo aniversário do pastor.

Sob o olhar suspeito das irmãs, Babette prepara o banquete. Durante o jantar, o sabor de cada prato, o aroma do vinho, o prazer de cada mordida, foi lentamente quebrando a frieza, demolindo as antigas mágoas e transformando aquela mesa num encontro de corações libertos. Quando terminou, uma das filhas, Philippa, assustada pelo fato de que Babette teria usado toda a fortuna da loteria naquele jantar, disse: “Não deveria ter gasto tudo o que tinha por nossa causa”. Depois de pensar um pouco, Babette respondeu: “Por sua causa?”, retrucou. “Não, foi por minha causa”. Depois disse: “Sou uma grande artista”. Após algum silêncio, Martine, a outra irmã, perguntou: “Então vai ser pobre o resto da vida, Babette”? Babette sorriu e disse: “Não, nunca vou ser pobre. Já lhes disse que sou uma grande artista. Uma grande artista nunca é pobre”.

Comunhão e amizade é o trabalho de artistas. A riqueza de um artista nasce de sua capacidade de oferecer o melhor. Ao oferecer o melhor que podia, Babette abençoou a si e aqueles que provaram do seu dom. Na arte da construção da comunhão e da amizade, precisamos oferecer o que temos de melhor, seja uma boa refeição ou uma boa música, uma boa conversa ou um lindo sorriso.

Não foi isto que Cristo fez?

Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&secMestre=1253&sec=1274&num_edicao=301
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July 17, 2013

Amor e humor

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O que seria do amor sem o bom humor?

- Osmar Ludovico

Amor e humor são virtudes essenciais para o relacionamento entre homem e mulher, marido e esposa, adultos e crianças, pais e filhos.

Existe o amor romântico, a paixão, o sentimento. Este é volúvel, progride e regride velozmente, basta uma pequena mudança de atitude. Mas existe também o amor compromisso que envolve a fidelidade e a estabilidade. O primeiro age nas nossas emoções; o segundo na nossa vontade.

O amor inclui a emoção que faz palpitar o coração apaixonado e a vontade que segura o voto de permanecer unidos haja o que houver.

Somos emocionalmente instáveis por isto nos estranhamos, nos irritamos, brigamos e acabamos cada qual no seu canto, nos sentindo incompreendidos e mal amados. A vontade e o voto nos chamam de volta à reconciliação através do perdão, nesta permanente dança do encontro-desencontro-reencontro.

O desejo de permanecer junto apesar das diferenças e dos conflitos nos livra de nos tornar desafeiçoados e vingativos. Permite ao contrário que, mesmo feridos, continuemos desejando o bem do outro e agindo de forma construtiva. Isto é, nos convida ao processo contínuo de nos re-apaixonarmos pela mesma pessoa muitas vezes ao longo de uma vida toda.

Deus nos revela seu amor, primeiro nos aceitando como somos e agindo sacrificialmente em nosso favor como diz as Escrituras: “Mas Deus prova seu amor para conosco, tendo Cristo morrido na cruz sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).

E também através de sua fidelidade sem limites, pois Seu amor permanece estável mesmo quando não o correspondemos (1 Tm 2.13). Assim, ao longo da vida aprendemos a amar como Ele nos amou.

Mas o que seria do amor sem o bom humor? A base da vida cristã consiste e reside nesta alegria de alma, uma alegria que brota da interioridade, e não das circunstâncias.

Uma celebração íntima, um regozijo inexplicável no profundo de nosso ser, uma doce, leve e alegre constatação de que vivemos diante da face amorosa de Deus, que nos perdoa, nos aceita, nos recebe em sua presença. E faz de nós, pecadores, seus filhos amados.

Amar e ser amado é o glorioso destino do ser humano, e amar e ser amado por Deus e pelo seu semelhante é o ápice da aventura humana, de ser, de existir. É puro contentamento!

A alegria, nos conta Paulo, é fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Ou seja, a presença de Deus na nossa vida gera bom humor e rosto sorridente. Cara amarrada, levar-se muito a sério e mau humor evidenciam a ausência de Deus e a dificuldade e incapacidade de amar. Precisa de cura, de arrependimento e de um batismo de alegria.

O humor inclui o lúdico. Os jogos, as brincadeiras e a descoberta da criança que está em nós, abafada por um pai severo e cobrador. Nossos filhos nos ajudam a reencontrar atrás do adulto, responsável e sério, o menino e a menina que sabem brincar.

O bom humor nos convida à festa, a comemoração, e nos recorda que o primeiro milagre de Jesus foi fazer mais vinho para que uma festa de casamento não terminasse antes do tempo (Jo 2.1-12).

Faz-nos lembrar, ainda, que perdoar é motivo de festa para o nosso Deus. Quando o pródigo volta para casa, o pai convoca toda a aldeia para dançar e comer churrasco (Lc 11.15-32).

A família é o lugar do perdão e da festa. A alegria da mesa, das férias, das saídas-surpresa, das datas festivas, da vida de oração, da vida sexual.

A sexualidade humana se realiza, portanto, de forma plena e prazerosa nesta relação permeada por paixão, fidelidade, compromisso e bom humor. Aí surge o desejo da entrega mútua baseada na confiança e na ternura. E a vida sexual se torna plenitude de alegria e prazer. Dança misteriosa e poética de corpos que se unem, trocam inspiração, respiração e transpiração no jogo prazeroso de sensações agradáveis, o prazer sensorial.

Fomos criados para amar e ser amados e Deus dá ao homem esta oportunidade e responsabilidade de se deixar conduzir por Ele no aprendizado ao longo da vida.

De amar e ser amado – esta é a regra do casamento. Não é célula descartável, econômica; não é célula de proteção (máfia), não é célula reprodutiva.

Mas um contexto para a aventura e o aprendizado de amar e ser amado, contexto este que possibilita a realização e a alegria do ser humano, ao nível mais profundo de sua existência.

Fonte: http://www.lideranca.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=7585

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=RWhuJ3XqORQ
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July 16, 2013

Brincando no Paraíso


- pr. Ricardo Barbosa

A experiência devocional na relação conjugal, para mim, por muito tempo causou um sentimento de culpa e uma certa dose de inadequação. Casei com aquele ideal de culto doméstico que, na verdade, nunca foi devidamente incorporado em nossa rotina familiar — pelo menos, não na forma como eu havia idealizado.

Para ser sincero, a vida devocional, da forma como encontro em alguns livros ou vejo nos filmes, foi um grande fracasso na nossa família. No entanto, isto não quer dizer que nunca houve uma vida devocional familiar. Talvez a expressão mais adequada para se referir à nossa experiência devocional seja a do cultivo da presença de Deus nas nossas rotinas. Cultivar a presença de Deus envolve mais do que separar uma hora diária para leitura bíblica, cânticos e orações.

Cultivar a presença de Deus é uma arte. Requer atenção, cuidado e vigilância. A vida devocional para muitos, resume-se naquilo que fazemos para Deus. Naqueles momentos que separamos para cantar, orar e meditar nas Escrituras. Isto certamente é bom e necessário. O problema é que ficamos apenas com isto. É apenas mais um item dos nossos inúmeros compromissos diários.

A espiritualidade cristã não é apenas o que eu faço para Deus, mas também a compreensão e a aceitação do que Deus está fazendo em mim e naqueles que vivem e partilham a vida comigo.

Se entendemos que a graça de Deus é sempre ativa e que Ele continuamente está agindo em nós, a vida devocional de uma família envolve, sobretudo, esta arte de dar atenção ao que Deus está fazendo e celebrar sua graça e seu amor.

Gostaria de considerar estes dois elementos fundamentais da nossa experiência espiritual na família: a atenção ao que Deus está fazendo e nossa resposta na forma de adoração. O cultivo da presença de Deus na família, como já disse, é uma arte. Esta arte acontece quando as pessoas que formam uma família concordam que Deus é um Deus que age e decidem dar atenção a isto. Não é uma tarefa fácil, pois somos pessoas naturalmente desatentas e treinadas a dar atenção apenas àquilo que é visível e imediato.

Penso que grande parte das crises conjugais e familiares tem a ver com a desatenção. Somos incapazes de discernir os movimentos da alma, banalizamos os eventos comuns e rotineiros, não reverenciamos os mistérios da vida e tratamos com descaso tudo aquilo para o que não temos uma resposta ou solução. Não olhamos para a família como um jardim onde o hábil Jardineiro realiza sua tarefa permanente de regar, limpar, podar e cuidar.

Quando o apóstolo Paulo afirma que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" ( Rm 8.28 ), ele está reconhecendo que é preciso estar atento aos acontecimentos, que tudo que nos cerca está pleno de significado e propósito, que promessas se cumprindo, que o soberano e amoroso Deus age por meio dos eventos comuns.

Paulo também afirma que mantinha seus olhos fixos "não naquilo que se vê, mas no que se não vê". Para ele, os grandes eventos aconteciam num campo invisível, onde somente os olhos da fé eram capazes de percorrer.

O cultivo da presença de Deus na relação conjugal e na família sempre traz consigo o risco de uma espiritualização barata e ingênua. Cultivar a presença de Deus não significa viver neuroticamente, procurando dar algum sentido espiritual a todos os acontecimentos ou buscando revelações proféticas para todas as perguntas sem respostas. Muito pelo contrário, significa apenas criar espaços dentro da família para este hóspede desejado e reconhecer que o propósito da espiritualidade cristã é o nosso crescimento em Cristo e nossa conformidade com Ele.

Dar atenção ao que Deus está fazendo é ajudar uns aos outros a crescer em direção à plenitude da verdadeira humanidade em Cristo Jesus. Sendo mais objetivo, o cultivo da presença de Deus na família tem a ver com o processo de tornar nossos filhos e cônjuges mais semelhantes a Cristo.

Isto nos leva a considerar o outro aspecto da experiência espiritual da família: a celebração ou adoração. Mais uma vez, reconheço que devo fugir dos modelos limitadores. Adorar é brincar no mundo de Deus. Teresa de Ávila dizia que seu desejo era apenas o de ser um brinquedo nas mãos do menino Jesus.

Celebramos a presença de Deus não apenas nos momentos que paramos para orar e cantar, mas também quando rimos e provamos o prazer da Sua companhia. Nossa herança religiosa nos condiciona a pensar que somente aquilo que fazemos no culto doméstico é devocional. Isto não é verdade.

Cantares é um dos livros mais devocionais da Bíblia, sem, contudo, apresentar uma única oração. Cantares reconhece o beijo apaixonado de um casal, a contemplação do corpo com toda a sua beleza e o seu mistério, o sexo e todas as sensações que ele provoca como forma de adoração. Cantares descreve duas pessoas brincando uma com a outra em todos os caminhos da vida. A aliança entre um homem e uma mulher é celebrada em Cantares como uma adoração ao Deus que nos criou.

A prática da presença de Deus dentro de um lar nos liberta da compulsão de produzir, realizar, transformar nossos lares em vitrines perfeitas, modelos de sucesso, e nos conduz ao desejo de celebrar, alegrar, rir, chorar, lamentar, enfim, viver com intensidade todas as circunstâncias da vida.

Não podemos nem devemos limitar a vida devocional da família a alguns momentos separados para a liturgia do culto. É preciso olhar mais além e fazer do lar o jardim onde brincamos com a Criação de Deus. Isto, para mim, é cultivar Deus dentro do meu lar.  

Fonte: http://www.lideranca.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=188
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July 15, 2013

A ressurreição da vocação

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O ladrão vem apenas para matar, roubar e destruir; eu vim para que
tenham vida, e a tenham plenamente.
João 10.10

A Bíblia Sagrada, do começo ao fim, fala de vida. No princípio de todas as coisas estava a árvore da vida para que o ser humano se apropriasse da qualidade de vida divina e se tornasse participante da natureza de Deus. No final, em Apocalipse, estão diante de Deus o rio da vida e a árvore da vida que restaurarão em todo o Universo os estragos causados pela morte.

Todavia, não podemos nos esquecer de que ao lado da vida, na história entre Deus e a humanidade, está a morte. A morte representa o esfacelamento do mundo em suas três dimensões: cósmica, sistêmica e moral. No texto do Evangelho, Jesus está claramente falando de uma dimensão específica da vida onde a morte entrou: o sistema (religioso) de sua época. A cegueira espiritual não permite a celebração do milagre da vida pois é incapaz de enxergar os atos de bondade e compaixão motivados pelo Espírito de Deus: a boa música, as histórias de vida, o trabalho honesto, as palavras de carinho e o amor puro.

A vida plena proposta por Jesus tem como fundamento a perspectiva da ressurreição. Viver de forma plena é experimentar na existência o poder da ressurreição e fazer viver novamente, de forma apaixonada, o que está morto dentro de nós, dilacerado, separado, destruído, confuso e sem rumo, incluindo uma dimensão essencial: a nossa vocação.

A vocação é o conjunto daquilo que somos - aptidões, interesses, motivações, intenções e paixões - e que nos impulsiona para a vida. No entanto, em nossa jornada, percebemos a morte entrando em nossa área vocacional. Somos roubados por um sistema corrompido, destruídos por paixões desastrosas e mortos, isto é, paralisados (como se ficássemos adormecidos e inoperantes) pelo deus desta presente era.

É importante percebermos que sempre haverá uma luta, uma disputa interna e externa entre a vida e a morte vocacional. Uma história contada pelo teólogo Eugene Peterson diz respeito a um rapaz que desejava ser escritor. Seus pais, no entanto, insistiram durante muito tempo que ele deveria seguir a carreira médica, desta forma, ele iria “impedir a morte de muitas pessoas e ganhar muito dinheiro”. Mas, sua vocação, seu desejo, seu ímpeto, sua intenção e paixão eram por ser escritor. O conflito estava instalado e a morte rondava à porta. Com o tempo, a pressão familiar levou o rapaz a tomar uma atitude – algo dentro dele não permitiu que a vida vocacional fosse pelo esgoto e a morte se instalasse – e num dado momento, como se de dentro dele um novo big bang explodisse em lampejos da graça de Deus, ele exclamou:

- Mãe, eu não quero impedir que as pessoas morram; quero mostrar-lhes como viver!

Talvez a nossa vocação esteja como na história do profeta Jonas, encerrada dentro do ventre de um peixe. Isto é, a morte certa, a vida roubada e os sonhos destruídos são tudo o que restou de uma jornada mal sucedida. Mas é desse lugar que a esperança e o poder da ressurreição surgem.

As palavras de Jesus no evangelho tomam um sentido existencial real. Ele veio para que tenhamos vida, e vida plena. Ressuscitar a nossa vocação é nos colocar de volta no mundo com o nosso coração reapaixonado pela vida. Pela graça de Deus experimentamos seu Amor e o nosso coração é novamente aquecido. Nos sentimos livres e vivos num mundo mal e caótico, mas permeado pelos atos redentores de Deus, nos quais, no cumprimento de nossa vocação, somos cooperadores.

Na ressurreição da vocação encontra-se a experiência de apaixonar-se novamente pela vida, pelas pessoas, pelo bem, pelo trabalho, pela carreira e pela esperança de ver o mundo novo (o Reino de Deus) entre nós.

Desejamos e acreditamos nisto quando nossa vocação ressuscita, quando o mundo se enche (como nas palavras da profecia) diante dos nossos olhos, do conhecimento e da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.

© 2012 Andrey Mendonça

Fonte: http://ibab.com.br/blog/categoria/artigos

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=CsjZ94K7UQs 
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July 14, 2013

O maior Amor do mundo



A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS

Todo dia fazemos escolhas. Como fazer as melhores?

Como separar os bons amigos dos maus amigos?

Que roupa vestir? Que comida comer?

Levar a mesma vida de sempre ou correr riscos e ser transformado?
 
AS ESCOLHAS DE DAVI

Como ele conseguiu:
  • não desanimar com a perseguição de Saul? (não foi 1 dia, 1 mês... foram 13 anos);
  • sobreviver sem o encorajamento da família? (naquela época, pastor de ovelhas não era uma profissão de futuro);
  • ter coragem para enfrentar as dificuldades? (aos 17 anos já havia matado leão, urso, Golias);
  • não seguir o conselho mau? (matar o rei ao invés de poupar sua vida).
DAVI ESCOLHEU FIXAR OS OLHOS EM DEUS (Salmo 27)!
  • Confiar, acreditar na promessa de Deus (foi escolhido, tinha sido ungido);
  • Escolheu esperar e fazer a vontade de Deus (não levantar a mão contra o rei);
  • Ser encorajado pela amizade verdadeira e leal de Jônatas que apontava para Deus (1Sm 23: 15-18).
BONS AMIGOS APONTAM PARA DEUS E SE FORMOS BONS AMIGOS APONTAREMOS DEUS PARA ELES!

Mas nem sempre temos nossos amigos por perto.

Um dia, seu amigo Jônatas e Saul foram mortos numa batalha contra os filisteus.

E agora?

Será que Davi vai escolher se vingar da inveja de Saul ou ser fiel à amizade de Jônatas?

Naquela época, os reis matavam a família dos rivais.

Quem era Mefibosete:
  • aos 5 anos perdeu o pai e o avô;
  • ficou aleijado quando a babá deixou ele cair na fuga, quebrando as duas pernas;
  • vivia de favor na casa de Maquir em Lo-Debar:
  • foi chamado à presença do rei.
O que será que ele sentiu quando foi chamado ao palácio em Jerusalém?
- Medo (de ser morto)!

E o que Davi faz?
  • restitui sua herança;
  • dá um lugar de honra na mesa do rei; 
  • poupa sua vida.
O tratamento de Davi mostra a integridade de um líder que aceitou demonstrar amor e misericórdia.

Igual ao que Deus demonstra para conosco: amor, bondade e perdão pelos nossos pecados, e um lugar no céu mesmo que não sejamos dignos!

AMOR NÃO É SENTIMENTO, NEM PALAVRAS - É ATITUDE, ESCOLHA!

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". (Jo 3: 16)

ASSIM COMO DAVI, VOCÊ TAMBÉM FOI ESCOLHIDO (Jo 15: 16)
  • Deus escolheu você ANTES DA FUNDAÇÃO DO MUNDO (Ef 1);
  • ANTES DE VOCÊ NASCER, Ele tinha CADA DIA DA SUA VIDA escrito no livro dEle (Sl 139);
  • ELE TE AMA TANTO QUE MORREU POR VOCÊ, no seu lugar (Rm 5: 8).
E agora Ele te convida a ESCOLHER:
  • Você aceita o PRESENTE que é ter Jesus em sua vida? 
  • Você quer se tornar cada dia mais parecido com Ele? 
  • Você quer se tornar REPRESA DO AMOR DE DEUS, que alaga e inunda tudo o que está perto a partir do seu próprio coração?
DAVI ESCOLHEU DEUS!

E por ter escolhido a Deus, Davi conseguiu: 
  • família: levar seus pais em segurança até Moabe quando foi perseguido por Saul (para que não fossem mortos);
  • Saul: não matar nem revidar o mal; 
  • Jônatas: cumprir a promessa; 
  • Mefibosete: resgatar sua dignidade.
E VOCÊ?

Assim como Davi:
- Consegue ser bondoso com quem não merece?
- Consegue perdoar quem te ofende?

Ou talvez esteja como Mefibosete, precisando de proteção, acolhimento, cuidado e carinho.

DEUS SE IMPORTA COM VOCÊ!
VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.
  • VOCÊ É AMADO. 
  • VOCÊ FAZ PARTE DE UMA FAMÍLIA, A COMUNIDADE DE DEUS.
  • A SUA VIDA TEM SENTIDO.
Que o Espírito de Deus complete esta verdade em sua vida e o ajude a fazer boas escolhas.

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=D8z0AG_t_po 
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July 10, 2013

Não importa por qual estrada você passou

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Jesus pegou a bacia com água, enrolou a toalha na cintura e passou a lavar os pés dos discípulos.
João 13

Ao lavar os pés de seus discípulos, Jesus revela Deus fazendo pelos homens o que é necessário, não importando o que esperam que seja feito e nem o susto que levam.

Pedro que o diga, tentou impedi-lo.

Aqueles homens andavam por grandes distâncias, em estradas de terra que cansavam, sujavam e machucavam seus pés pouco protegidos.

A vida tem o poder de nos causar estragos semelhantes.

Jesus deseja nos limpar da poeira da viagem.

Não importa qual estrada nos trouxe até aqui, nem quão sujo estamos, Ele lava. Ele também quer nos dar alívio de todo cansaço que, assim como aos pés, sobrecarrega e fere a alma.

E ainda quer que nos sintamos intimamente acolhidos, assim como permitimos que somente pessoas íntimas nos toquem os pés.

É assim que Jesus demonstra Seu amor por nós.

©2012 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/que-estrada-o-trouxe-ate-aqui/
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July 09, 2013

A conversão nossa de cada dia

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Para ter uma ideia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=2SVXRPShMl0


A conversão é um processo de transformação da mente.

Precisamos entender e alimentar em nossa mente alguns princípios. Somente quando entendemos essas verdades é que há transformação em nós, não só de nossos comportamentos, mas de nosso caráter.

Porque o comportamento pode ser transformado a partir de regras e punições, sem necessariamente transformação do caráter.

Com Jesus na cruz havia dois criminosos e um deles teve revelação divina, no último instante de sua vida, para entender a Verdade que o libertou.

Ele entendeu o que todos devemos entender e que precisamos relembrar a cada dia, como em um processo contínuo de conversão.

Esse homem entendeu:

1. Que sua condenação era justa: precisamos entender que nosso pecado tem como sentença a morte, que somos pecadores, que declaramos independência de Deus, que decidimos nossos caminhos e dissemos que faríamos o mundo funcionar sem Ele. Precisamos confessar que o mundo está do jeito que está porque nós o fizemos assim e não porque Deus nos abandonou. O constante contato com nossa miséria nos fará mais próximos da Graça de Deus e do resultado desse encontro que é sempre a gratidão. Nós merecíamos a morte, mas Ele morreu para nos dar vida. Nada merecemos de bom nesta vida e portanto devemos ser gratos por tudo. Quem não tem consciência diária de seu pecado, passa a se relacionar com Deus fora da Graça, pela via da Lei e dos méritos.

2. Quais eram seus pecados: ele sabia porque estava pendurado em uma cruz, sabia quais eram seus crimes. Precisamos definir o que é pecado para que possamos focalizar nossa luta e confissão. Acontece que geralmente o que se entende por pecado é apenas quebra de leis e conveniências morais fabricadas pela religião, que estão ligadas a coisas que fazemos contra Deus. O pecado na cosmovisão evangélica se tornou uma ofensa contra Deus, algo abstrato, que culpa a alma e confunde a mente. Mas pecado não é algo cometido contra Deus, como se pudéssemos fazer qualquer coisa que o diminuísse. Pecado afeta e diminui o homem e a criação e por isso desagrada a Deus. Não é que Deus tem vontades e caprichos que são quebrados, mas que seus princípios servem para o bom funcionamento do próprio homem e quando quebrados afetam o próprio homem. Pecado então é o que faz mal a mim e ao próximo. O resto é convenção religiosa e social.

3. Que Jesus estava ao seu lado: e isso é surpreendente porque sua consciência de pecado era precisa e da justiça em merecer a morte também, mas a visão de sua miserabilidade não o impediu de falar com Jesus, de “apresentar-se a Ele”. Então nossa compreensão da presença de Deus precisa ser revista, para que assim como este homem, tenhamos coragem de falar com Jesus no meio do lamaçal de nossos pecados e de nossa miséria, porque não precisamos nos limpar antes para entrar na presença de Deus, mas enquanto estamos em sua presença é que somos limpos. É quando estamos em pecado que precisamos entrar em sua presença e não quando nos limparmos dele. Isso acontecia no serviço religioso de Israel, quando o sacerdote precisava se purificar para pedir perdão pelo pecado de todo o povo na presença de Deus, mas Cristo já fez isso por nós, Ele é o sacerdote puro que entrou na presença de Deus e de uma vez por todas limpou nossos pecados e por isso o véu foi rasgado.

Creio que há uma só forma de linguagem que nos aproxima de Deus.

Ela não prevê nenhuma ordem de comando a Deus como exigência de cumprimento de suas promessas, nem qualquer lamento humano que seja justo em sua argumentação, porque merecemos toda a morte que nossa rebeldia pôde conquistar e nenhuma bondade.

Apenas a gratidão de quem assume sua miséria, confessa seus pecados e se vê limpo pela graça é louvor aceitável a Deus.

© 2004 Alexandre Robles

Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/a-conversao-nossa-de-cada-dia/
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July 08, 2013

A arte esquecida

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- pr. Eugene Peterson

Pode haver uma reforma em andamento na maneira como os pastores realizam o seu trabalho. Ela pode revelar-se tão significativa quanto a reforma teológica do século XVI. Espero que sim. Os sinais não param de se acumular.

Os reformadores recuperaram a doutrina bíblica da justificação pela fé. A proclamação – fresca, pessoal e direta – do evangelho, através dos séculos, tornou-se uma imenso e pesada engrenagem: mecanismos teológicos elaboradamente planejados, roldanas, niveladores produzindo ruído com seu atrito para, no final, resultar em algo completamente trivial. Os reformadores recuperaram a paixão pessoal e a clareza tão evidentes nas Escrituras. Esta redescoberta do envolvimento íntimo resultou em frescor e vigor.

A reforma vocacional do nosso próprio tempo (caso se trate disso) é uma redescoberta do trabalho pastoral de curar almas. A frase soa antiga, o que ela é de fato. Mas não obsoleta. Ela designa, melhor do que qualquer outra expressão de que eu tenha conhecimento, por um lado o combate incessante contra o pecado e a tristeza, e, por outro, o cultivo dedicado da graça e da fé ao qual os melhores pastores têm se consagrado a cada geração. A sonoridade esquisita da frase pode até apresentar uma vantagem: chamar a atenção para o fato de quão distantes as rotinas pastorais da atualidade se tornaram.

Eu não sou o único pastor que descobriu esta antiga identidade. Mais e mais pastores estão abraçando esta forma de trabalho pastoral e considerando-a um caminho legítimo. Não somos muitos e não somos maioria. E tampouco somos uma minoria destacada. Mas, um a um, os pastores estão rejeitando o pedido de trabalho que lhes foi entregue e preferindo este novo – ou, como parece ser o caso, o antigo tem sido usado durante quase todos os séculos cristãos.

Não é só fantasia pensar numa época em que os números alcançarão uma massa crítica e produzirão uma reforma vocacional dentre os pastores. Mesmo em caso negativo, me parece a coisa mais significativa e criativa acontecendo no ministério pastoral dos dias de hoje.

O trabalho da semana

O que os pastores fazem no domingo é diferente do que eles fazem entre os domingos. Aquilo que fazemos nos domingos não mudou muito ao longo dos séculos: proclamar o evangelho, ensinar as Escrituras, celebrar os sacramentos, oferecer preces. O trabalho entre um domingo e outro, por sua vez, mudou radicalmente, e não no sentido de um progresso, mas de uma deserção.

Até mais ou menos um século atrás, o que os pastores faziam entre os domingos consistia em uma parte daquilo que eles faziam aos domingos. O contexto mudou: ao invés de uma congregação reunida, o pastor se reunia com uma pessoa ou com um pequeno grupo, ou fazia seus estudos e orações até mesmo sozinho. A maneira mudou: no lugar da proclamação, era a conversa. Mas o trabalho era o mesmo: descobrir o significado das Escrituras, desenvolver uma vida de oração com o objetivo de orientar o crescimento em direção à maturidade.

Este é o trabalho pastoral que foi historicamente definido como a cura das almas. O sentido básico de "cura" em latim é "cuidado". A alma é a essência da personalidade humana. Neste sentido, a cura das almas consiste, pois, no cuidado orientado pelas Escrituras e modelado pela oração, e voltado a indivíduos ou grupos, seja em contextos sagrados ou profanos. Trata-se, pois, da determinação de se trabalhar o centro, de se concentrar sobre o essencial.

O trabalho entre domingos dos pastores norte-americanos neste século, entretanto, é administrar uma igreja. Ouvi esta frase pela primeira vez durante minha ordenação. Após 25 anos, ainda consigo lembrar da impressão desagradável que ela deixou em mim.

Eu viajava em companhia de um pastor pelo qual tinha muito respeito. Eu estava cheio de entusiasmo e expectativas, antecipando minha vida pastoral. Minha convicção interior da chamada ao pastoreio estava prestes a ser confirmada por outras pessoas. O que Deus desejava que eu fizesse, o que eu queria fazer e o que os outros queriam que eu fizesse estavam em ponto de convergência. A partir de uma leitura razoavelmente extensa de pastores e padres do passado, eu me impressionava com o fato de que a vida pastoral tinha como preocupação primeira o desenvolvimento de uma vida de oração entre as pessoas. Liderar a devoção, pregar o evangelho e ensinar as Escrituras aos domingos desenvolveria, nos seis dias seguintes, a representação da vida de Cristo durante o trânsito humano do dia-a-dia.

Enquanto minha mente estava repleta destes pensamentos, meu amigo pastor e eu paramos em um posto de gasolina. Ele, uma pessoa gregária, discutiu com o frentista. Algo relacionado ao troco provocou a discussão.

- O que você faz?
- Eu lidero uma igreja.

Nenhuma resposta teria me surpreendido mais. Eu sabia, claro, que a vida pastoral incluía responsabilidades institucionais, mas nunca me ocorrera que eu viria a ser definido por tais responsabilidades. Mas no momento em que fui ordenado, descobri que eu era definido tanto pelos pastores e executivos ao redor quanto pelos paroquianos em volta de mim. A 1a. tarefa submetida a mim omitia completamente a oração.

Enquanto minha identidade pastoral estava sendo moldada por Gregório e Bernardo, Lutero e Calvino, Richard Baxter de Kidderminster e Nicolau Ferrara de Little Gidding, George Herbert e Jonathan Edwards, John Henry Newman e Alexander Whyte, Phillips Brooks e George MacDonald, o trabalho pastoral havia sido quase completamente secularizado (exceto os domingos). Eu não gostava disso e decidira, após um período de confusão, em que me encontrava desorientado, que ser um médico de almas era mais importante do que administrar uma igreja, e que eu seria orientado em minha vocação pastoral pelos sábios predecessores e não pelos meus contemporâneos. Felizmente, encontrei aliados ao longo do caminho e a prontidão dos meus paroquianos para me ajudar a aperfeiçoar minhas tarefas pastorais.

Cumpre esclarecer que a cura das almas não é uma forma especializada de ministério (análoga, por exemplo, ao capelão de hospital ou ao conselheiro pastoral), mas a atividade pastoral por excelência. Não se trata de um estreitamento da atividade pastoral em direção aos seus aspectos devocionais, mas um modo de vida que recorre às tarefas, encontros e situações do dia-a-dia como matéria-prima do ensinamento da oração, do desenvolvimento da fé e da preparação para a morte.

Curar almas é um termo que filtra aquilo que é introduzido pela cultura secular. Também é um termo que nos identifica aos nossos ancestrais e aos nossos colegas de ministério, leigos e clérigos, que estão convencidos de que uma vida de oração é o tecido de ligação entre a proclamação do dia santo e o discipulado do dia-a-dia.

Um aviso: eu costumo distinguir a cura de almas da tarefa de administrar uma igreja, mas não quero ser mal compreendido. Não me orgulho de liderar uma igreja, assim como não desprezo a importância da tarefa. Eu mesmo administro uma há mais de 20 anos. Tento fazer o meu melhor.

Eu encaro a tarefa da mesma maneira com que cuido da casa junto à minha esposa. Existem muitas coisas que fazemos cotidianamente, muitas vezes (mas nem sempre) com prazer. Mas nós não administramos uma casa; o que fazemos é construir um lar, desenvolver um matrimônio, educar as crianças, praticar a hospitalidade, exercitar uma vida de trabalho e lazer. É à redução da vida pastoral a tarefas institucionais que eu me oponho, não às tarefas em si, que eu orgulhosamente compartilho com outras pessoas na igreja.

Não será o caso, obviamente, de desafiar teimosamente as expectativas das pessoas e levar adiante de maneira excêntrica o labor pastoral, como um cura do século XVII, ainda que aquele cura pudesse ser de longe mais sensato do que o clérigo atual. O resgate deste trabalho pastoral essencial entre domingos deve ser empreendido em tensão com as expectativas secularizadas da nossa época: deve haver negociação, discussão, experimentação, confronto, adaptação. Os pastores que se dedicam à direção de almas devem realizar a tarefa no meio das pessoas que esperam que eles cuidem de uma igreja. Numa tensão determinada e afável com aqueles que nos prescrevem irrefletidamente orientações de tarefas, podemos, estou convencido disso, recuperar nosso trabalho próprio.

Não obstante, os pastores que reivindicam o vasto território da alma como sua responsabilidade preeminente, não o conseguirão indo fazer um treinamento profissional. Temos de aprender na prática, em nossa própria profissão, pois não somos apenas nós mesmos, mas também o nosso povo que estamos de-secularizando. A tarefa da recuperação vocacional é uma reforma tão teológica quanto interminável.

Os detalhes variam conforme o pastor e o pároco, mas existem 3 áreas de contraste entre cuidar de uma igreja e a cura de almas com a qual estamos familiarizados: iniciativa, linguagem e problemas.

Iniciativa

Liderando uma igreja, eu tomo a iniciativa. Eu me adianto à função. Tomo responsabilidade pela motivação e pelo recrutamento, por mostrar o caminho, por fazer as coisas acontecerem. Caso contrário, as coisas soçobram. Tenho consciência da tendência à apatia, da suscetibilidade humana à indolência, e eu uso minha posição de liderança para evitar isso.

Em contraste, a cura de almas é uma consciência cultivada de que Deus já tomou a iniciativa. A doutrina tradicional que define esta verdade é a previdência: Deus sempre toma a iniciativa. Ele faz as coisas acontecerem. Foi e sempre dele a primeira palavra. A previdência é a convicção de que Deus trabalha diligente, estratégica e redentoramente, mesmo antes de eu aparecer em cena, mesmo antes de eu tomar consciência de que havia algo para eu fazer aqui.

A cura de almas não é indiferente às realidades da letargia humana, ingênua em relação à recalcitrância congregacional, ou desatenta à teimosia neurótica. Mas existe uma convicção determinada e disciplinada de que tudo (eu quero dizer tudo mesmo) é uma resposta à 1a. palavra de Deus, ao seu ato inicial. Nós aprendemos a ficar atentos à ação divina já em andamento, de modo que o Verbo outrora inaudito de Deus seja ouvido, e o seu ato ignorado, percebido.

Perguntas relacionadas ao cuidar de uma igreja: O que faremos? Como podemos fazer as coisas funcionarem?

Perguntas relacionadas ao curar as almas: O que Deus tem feito aqui? Quais traços de graça posso discernir nesta vida? Que história de amor eu posso ler neste grupo? O que Deus colocou em movimento de modo que eu possa dar continuidade?

Nós nos equivocamos e distorcemos a realidade quando tomamos a nós mesmos como ponto de partida e nossa situação atual como o critério fundamental. Ao invés de confrontar a condição humana decaída e tomar a iniciativa de recuperá-la sem perda de tempo, nós nos voltamos à previdência divina e descobrimos como podemos fazer as coisas acontecerem no momento certo, do jeito certo.

A cura de almas exige tempo para que se leia os minutes da última reunião, na qual eu provavelmente não estava presente. Quando me detenho em uma conversa, quando me reúno com um comitê ou quando visito um lar, estou conduzindo algo que já está em processo há muito, muito tempo. Deus sempre foi e sempre será a realidade central deste processo. A convicção bíblica é de que Deus "há muito se antecipou à minha alma" (God is "long beforehand with my soul.") Deus já tomou a iniciativa. Como alguém que chega atrasado para uma reunião, eu adentro uma situação complexa em que Deus já proferiu palavras decisivas e já tomou decisões sumamente importantes. Meu trabalho não é necessariamente anunciar isto, mas descobrir o que ele está fazendo e viver apropriadamente de acordo com isso.

Linguagem

Na igreja, eu uso uma linguagem que é descritiva e motivacional. Eu quero que as pessoas fiquem informadas para não haver mal-entendidos. E quero que as pessoas estejam motivadas para fazer as coisas acontecerem. Mas no tocante à cura das almas eu estou muito mais interessado em saber quem elas são e quem elas estão se tornando em Cristo, do que estou interessado no que elas sabem e no que estão fazendo. Neste quesito eu logo percebo que nem a linguagem descritiva nem a linguagem motivacional ajudam muito.

A linguagem descritiva é uma linguagem "sobre", ela nomeia o que existe; orienta-nos na realidade. Ela torna possível encontrarmos nosso caminho em meio a labirintos. Nossas escolas se especializam em nos ensinar esta linguagem. A linguagem motivacional é uma linguagem "para" – ela recorre à palavra para fazer as coisas acontecerem. Comandos são transmitidos, promessas feitas, solicitações encaminhadas. Tais palavras fazem com que as pessoas façam coisas que não fariam por iniciativa própria. A indústria da propaganda é o exemplo mais hábil desta arte lingüística.

Por mais indispensáveis que sejam estas formas de linguagem, existe outra, tão essencial à humanidade quanto é fundamental para a vida da fé. Trata-se da linguagem pessoal. Através dela, recorremos às palavras para nos expressar, para conversar, para nos relacionarmos. Esta é uma linguagem "para" e "com". O amor é oferecido e recebido, idéias são desenvolvidas, sentimentos são articulados, silêncios são honrados. É a linguagem que utilizam, espontaneamente, as crianças, os amantes, os poetas e os fiéis que rezam. Ela está expressivamente ausente quando tomamos conta de uma igreja – há tanto a se dizer e a se fazer que não sobra tempo nem ocasião para que se faça presente.

Curar almas é uma decisão de se trabalhar o coração das coisas, onde somos nós mesmos da maneira mais plena e onde nossos relacionamentos através da fé e da intimidade são desenvolvidos. A linguagem primária deve ser, portanto, "para" e "com", a linguagem pessoal do amor e da oração.

A vocação pastoral não se dá primeiramente numa escola onde os assuntos são ensinados, nem em quartéis onde forças de ataque são empregadas contra o mal ("nor in a barracks where assault forces are briefed for attacks on evil"), mas dentro da família – o lugar onde o amor é ensinado, onde se dá o nascimento, onde a intimidade é aprofundada. A tarefa pastoral consiste em adotar a linguagem apropriada para este aspecto fundamental da humanidade – não uma linguagem que descreve, nem que motiva, mas uma linguagem espontânea: queixas e exclamações, confissões e apreciações, palavras que o coração pronuncia.

Nós temos, obviamente, muito o que ensinar e muito o que fazer, mas a nossa tarefa principal é ser. A linguagem fundamental da cura de almas, portanto, é a conversa e a oração. Ser pastor implica aprender a utilizar uma linguagem em que a singularidade pessoal e a santidade individual é reconhecida e respeitada. Trata-se de uma linguagem calma, sem pressa e sem pressão, tranqüila – a linguagem vagarosa dos amigos e dos amantes, que é também a linguagem da oração.

Problemas

Enquanto cuido de uma igreja, tenho que resolver problemas. Sempre que duas ou mais pessoas se juntam, os problemas aparecem. Os egos são feridos, os procedimentos se complicam, os acordos tornam-se confusos, os planos são distorcidos, os temperamentos se acirram. Existem problemas de política interna, conjugais, profissionais, familiares, emocionais. Alguém tem de interpretar, explicar, desenvolver novos planos e melhores procedimentos, organizar e administrar. A maioria dos pastores gosta de fazer isso, e eu me incluo entre eles. É gratificante ajudar a tornar macios os lugares pedregosos.

A dificuldade consiste em que os problemas surgem num fluxo tão constante que a solução acaba se tornando um trabalho de tempo integral. Por ser útil e pelo pastor geralmente conseguir fazer isso bem, não conseguimos enxergar que a vocação pastoral foi subvertida. Gabriel Marcel escreveu que a vida não é tanto um problema a ser resolvido quanto um mistério a ser explorado. Esta é certamente a mensagem bíblica: a vida não é algo que podemos martelar e moldar, deixando exatamente do jeito que queremos; ela é uma dádiva inexplicável. Estamos imersos em mistérios: o amor inacreditável, o mal enganador, a Criação, a Cruz, a Graça de Deus, Deus.

A mente secularizada se aterroriza mediante os mistérios. Então, ela faz listas, rotula as pessoas, distribui funções, resolve problemas. Mas uma vida "resolvida" é uma vida reduzida. Tais indivíduos engravatados jamais correm grandes riscos ou apresentam um discurso convincente sobre o amor. Eles negam ou ignoram os mistérios e reduzem a existência humana a algo passível de ser administrado, controlado, consertado. Vivemos um culto aos especialistas que explicam e resolvem. O vasto aparato tecnológico que nos rodeia dá a impressão de que para tudo existe uma ferramenta, que só precisamos ter condições financeiras de adquirir. Os pastores que desempenham o papel de tecnólogos espirituais têm dificuldades em evitar que este papel absorva outras coisas, já que há muitas coisas que precisam e podem, de fato, ser consertadas.

Mas "existem coisas", escreveu Marianne Moore, "cuja importância vai além dessas ninharias". O antigo guia de almas garante a prioridade do "além" em relação às "ninharias" do aquém. Quem está disponível para este trabalho senão os pastores? Alguns poetas, talvez; e as crianças, sempre. Mas as crianças não são bons guias, e a maioria dos nossos poetas perderam o interesse em Deus. Isto faz dos pastores os guias em direção aos mistérios.

Vivemos, século após século, vivemos com a nossa consciência, nossas paixões, nossos vizinhos, e nosso Deus. Qualquer visão estreitada dos nossos relacionamentos não corresponderá à complexidade da nossa realidade humana.

Se os pastores se tornam se comprometem a tratar cada criança como um problema a ser decifrado, cada esposa como um problema que exige reconciliação e todo conflito de vontades no coro ou no comitê como um problema a ser julgado, assim nós abdicamos da parte mais importante do nosso trabalho, a saber, orientar a devoção em meio ao tráfego cotidiano, descobrir a presença da Cruz nos paradoxos e no caos de entre os domingos, chamar a atenção para o "esplendor contido no ordinário" e, acima de tudo, ensinar uma vida de oração aos nossos amigos e companheiros de peregrinação.

Fonte: http://www.lideranca.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=7711 

PS- Para ouvir a trilha do dia, vai lá: http://www.youtube.com/watch?v=n4NklUj0pfc 
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