October 31, 2015

50 dias, 49 noites

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' Faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida 
para que tenhamos um coração sábio.'
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Sl 90: 12
Chérie, como está?

Muita correria?

Desculpe o sumiço (a escrava oriental estava atoladésima até o pescoço).

Mas não é porque sumi que esqueci de você.

Apesar do silêncio, não tem 1 dia que não pense e ore por sua vida.

Para Deus guiar, proteger, cuidar e demonstrar todo Seu amor chegando até onde o meu não pode chegar.

Bom, nos últimos tempos estava dando expediente na fábrica de um colega que fez USP (ele tem uma confecção de roupas para senhorinhas) e claro, a 3a. idade virou tema recorrente de reflexão.

O que significa envelhecer nos dias de hoje? 

Vivendo num país jovem como o Brasil, um sinal de decadência (snifff).

Mas para os europeus e os asiáticos, um sinal (suposto) de maturidade e sabedoria.

Envelhecer merece considerar 3 aspectos: o físico, o emocional e o espiritual.

Sobre a parte física, sim... é degradante (rsrsrs): você não consegue correr com a mesma velocidade, o seu corpo deixa de ser tão bonito (eita, mas nem por isto precisa despencar ladeira abaixo né) rsrsrs.

Enquanto uns veem crise, outros enxergam oportunidade.

Por exemplo, enquanto alguns são desafiados a superar limites (por meio de esportes) outros tentam paralisar o tempo com plásticas (e o resultado a gente já sabe) rsrsrs.

Já a parte emocional: enquanto alguns se tornam densos, consistentes, sábios, maduros... outros se infantilizam querendo competir com os jovens (quem tem a roupa mais curta, o carro mais bacana, o date mais cobiçado)...

E você?

Que tipo de pessoa tem se tornado?

Porque envelhecer não é opcional, mas tornar-se sábio sim.

E se a vida é feita de escolhas, lembre-se de que o que você faz agora define como será a sua eternidade.

Que Deus te dê sabedoria e você viva a vida plena e abundante que Ele sonhou para você - esta é a minha oração ; ).

Bom, vou nessa.

Bjs,

KT

PS- Dica duca: a natureza é sábia: deu 2 ouvidos, 2 olhos e apenas 1 boca - para a gente ouvir mais, ver mais e falar menos. Ou seja: aprenda com o erro dos outros porque a vida é curta e não vai dar para a gente cometer todos os erros do mundo rsrsrs.
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October 30, 2015

Tchau, passado

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- Mariliz Pereira Jorge 

Parece que foram umas 150 caixas. Minha vida em 150 caixas.  

Mudar de casa é fazer terapia intensiva e forçada. Sem ninguém sentado em frente, ao lado ou atrás para dizer que não é o fim do mundo, mesmo que pareça ser. Não é o fim do mundo, mas é virar mais uma página da vida.  

A gente não fecha só a porta, mas também um ciclo. Deixa para trás um punhado de roupas datadas, sapatos velhos, panelas gastas, móveis surrados, guarda-chuvas quebrados e uma mala de emoções. Deixa também um pouco do que a gente não é mais

Em cada armário desfeito uma sessão de tortura. Em cada caixa aberta uma sessão de vergonha. Em cada prateleira vazia uma sessão de descarrego. Em cada gaveta vasculhada uma nostalgia da boa. E chora. E ri. E tem saudade. E sente alívio. E fica triste. Depois feliz de novo. E o estômago embrulha. E desembrulha.

Quando a gente muda de casa não engole só pó. Engole todos os erros e tropeços em fotografias antigas, cartas de amores falidos, roupas equivocadas, livros não lidos, objetos desnecessários, equipamentos que não funcionam mais.Deixa para trás um punhado de lembranças boas, de tempos que não voltam mais, ainda que os novos tempos produzam mais lembranças que serão felizes no próximo futuro. 

Ainda ontem eu morava sozinha. Mas quem padecia de solidão era a geladeira. Tinha água com gás, iogurte, gelo e cerveja. Um fogão italiano que brilhava como novo por falta de uso. Uma TV que estava sempre desligada. Uma cama onde eu dormia pouco e me divertia muito. Eu era solteira, era feliz e sabia disso. Mas também sabia que um dia aquela casa não seria mais minha e nem aquela vida. 

Ainda ontem, eu já não era apenas mais eu. A gente se apertava na cozinha pequena, fazia maratona de série de TV, comia sorvete no inverno, brigava pela mesa do escritório, dormia agarrado – socorro, acordava com o vento uivando, viajava sem parar. As plantas sempre morriam. 

Com essa mudança vem nossa coleção de action figures, 20 caixas de utensílios de cozinha, uma girafa da Tailândia, outra de Jericoacoara, duas bicicletas, dois computadores, trocentos livros, trocentas revistas em quadrinhos, quadros, quadros, quadros. 

Mais importante de tudo: nessa mudança de casa vem um casamento sólido, feito de muita trombada, muita paciência, uma tonelada de amor e amizade

'A gente' foi a melhor coisa da minha vida nos últimos anos e na última casa. Passei a conjugar 'a gente' 24 horas por dia e nunca fui tão feliz. 

Na nova casa, sinto como se estivesse no 1o. dia de um trabalho novo. Não sei onde fica a impressora, a máquina de café, se os vizinhos de baia são fofoqueiros, se tem um restaurante por quilo decente, se consigo uma manicure boa por perto. 

Sinto como se fosse uma estranha fazendo uma visita. Nas primeiras noites acordei sem saber onde estava, tive que acender a luz do celular para achar o banheiro, dei cinco topadas nos armários até chegar lá. 

Levei um banho da torneira da pia, não sei onde acendem as luzes, paguei peitinho e bundinha para geral na vizinhança, coloquei o lixo comum junto com o reciclado, derrubei água na varanda da vizinha, que já me odeia, mas fiz amizade com o porteiro, que é o que realmente importa. 

Mudar de casa não é apenas levar suas coisas de um lugar para o outro. A gente tem que desencaixotar as bugigangas e também as emoções.

Só vira casa quando nossos velhos cacarecos parecem à vontade com essas paredes pintadas e esse chão novinho.Quando o sono começa a dormir sem sustos. Quando a gente vai ao banheiro à noite sem tropeçar no escuro.

Quando a gente olha mais para frente do que para trás

Fica mais fácil mudar de casa quando a gente está pronto para mudar também. 
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2015/10/1700048-tchau-passado.shtml
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October 29, 2015

Cenoura, ovo ou pó de café?

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Uma filha queixou-se ao pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis. Ela não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. 

Parecia que assim que um problema era resolvido, outro surgia.

Seu pai, que era cozinheiro, levou-a até o fogão. Encheu três panelas com água e colocou-as em fogo alto. Assim que cada uma começou a ferver, colocou cenouras em uma panela, ovos em outra e pó de café na última. Deixou que tudo fervesse sem dizer nenhuma palavra.

A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo.

Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e colocou-as em uma tigela. Retirou os ovos e colocou-os em outra tigela. Por último, pegou o café com uma concha e colocou-o numa tigela.

Virando-se para ela, perguntou:
- "Querida, o que você está vendo?"
- "Cenouras, ovos e café," ela respondeu.

Ele trouxe-a para mais perto e pediu que experimentasse as cenouras. Ela obedeceu e notou que elas estavam macias. Então, ele pediu que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu e depois de retirar a casca verificou que ele endurecera com a fervura. Finalmente, o pai pediu que ela experimentasse um gole de café. Ela sorriu ao provar seu sabor delicioso.

Ela perguntou-lhe humildemente:
- "Pai, o que isto significa?"

Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, que era a água fervendo, mas que cada um reagiu de maneira diferente.

As cenouras entraram fortes, firmes e inflexíveis, mas depois de terem sido submetidas à água fervente, amoleceram e ficaram macias.

Os ovos eram frágeis, mas a casca fina protegera o líquido interior. No entanto, depois de terem sido colocados na água fervente, o interior de cada um endureceu.

O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que foi colocado na água fervente, havia mudado a água.

- "Qual deles é você?" ele perguntou à filha.
- "Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde? Você é como a cenoura, o ovo ou o pó do café?"

E você? 


É como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade, você murcha, fica frágil e perde sua força?

Ou será que é como o ovo, que começa com um coração maleável, mas depois de alguma dificuldade, uma morte ou demissão, torna-se mais difícil e duro? A sua casca parece a mesma, mas por dentro ficou obstinado, com o coração e o espírito insensíveis?

Ou será que você é como o pó de café? Ele muda aquilo que está trazendo a dor, a água fervente, para conseguir o máximo de seu sabor. Quanto mais quente estiver a água, mais gostoso o café fica. Se você é como o pó de café quando as coisas ficam difíceis, você se torna uma pessoa melhor e faz com que tudo em torno de você melhore também.

Como você lida com a dificuldade?

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October 28, 2015

Vitória

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- Alaine Silva

Irmãos, grandes são as promessas de Deus para nós, feitas por meio de Sua Palavra: uma vida plena, sonhos realizados, grandes mudanças, pessoas próximas a nós irão se converter através do nosso testemunho, e muito mais do que pedimos ou pensamos, Deus irá fazer em nossa vida. Em Cristo somos mais que vencedores, e com certeza e há um momento determinado por Deus para nos dar a vitória.

Estamos preparados para recebê-la?

Numa guerra, o aspecto fundamental da vitória é a derrota do exército inimigo "Somente com os teus olhos, olharás e verás a recompensa dos ímpios" (Sl 91:8). Nenhum cristão deseja ter inimigos, o crente direcionado pelo Espírito Santo enche o seu coração de amor e perdão, age sobre o comando do Príncipe da PAZ. E apesar disso, ele compreende que quando foi escolhido, ganhou um adversário.

O servo de Deus é um guerreiro! Ele luta com uma espada chamada Palavra de Deus, usa o capacete da salvação, e veste o escudo da fé... Deus também é chamado Senhor dos Exércitos.

A pergunta é: estamos preparados para ver a queda dos nossos inimigos?

Como iremos nos comportar, ao sentarmos na mesa prometida no salmo 23:5? "Prepara para mim uma mesa na presença dos meus inimigos" Iremos nos assentar na consciência de que quem venceu por nós foi Jesus na cruz, ou cairemos na tentação de glorificarmos a nós mesmos? A minha sugestão é que nos comportemos à mesa, lembrando que Jesus orou na cruz, pedindo ao Pai que nos perdoassem, porque não sabíamos o que estávamos fazendo.

Sabemos que no momento do milagre, ou quando Deus traz as claras o oculto e o escondido, esclarecendo alguma circunstância e honrando um servo Teu, ele está honrando a si próprio pois não divide a Sua glória com ninguém. E sendo assim, quando Deus trata com alguém, quando ele aperta alguém na terra, ou permite alguma situação dolorosa, Ele é o primeiro a sofrer.

Deus é bom.

Não pensemos que Ele está feliz e dando gargalhadas por ver alguém sofrer, só porque prejudicou um filho dEle. Ele só permite acontecer essas coisas porque Ele é Santo, disciplina a quem ama, abomina o pecado e ama a justiça; mas é movido à compaixão, é tardio em se irar, longânimo, ama incondicionalmente.

“Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31) e quando isso acontece, pode saber que Ele está sofrendo. Jesus morreu numa cruz pela pessoa que te humilhou também, e ressuscitou pelo mesmo motivo! Ele quer salvar a todos. Ele veio destruir as obras de satanás, e não do seu vizinho inconveniente, do seu colega de trabalho difícil, do seu marido ou esposa que não se converteu, do seu filho problemático, ou da pessoa que discutiu com você no trânsito, ou que nunca te pagou, e etc.

Pessoas são usadas pelo inimigo para tentar te atingir, prejudicar, acabar com você, mas como soldado de Deus lute contra o seu real adversário, guarde a sua indignação somente contra ele, e veja na queda dos seus inimigos, uma oportunidade potencial de fazê-los conhecer a Cristo.

Vigia sim, com as pessoas que não são convertidas, não seja ingênuo! E jamais se alegre com a queda de alguém por mais justa que possa parecer aos seus olhos, em respeito ao infinito amor de Deus, em respeito à oração de Jesus na cruz, e também os perdoe, pois certamente não sabiam o que estavam fazendo.

Amém.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/vitoria

October 26, 2015

A resistência de Jó frente à dor e ao sofrimento


Jó é citado apenas duas vezes em toda a Escritura (Ez 14.12-23; Tg 5.11), fora do livro que leva o seu nome. Na primeira passagem, salienta-se a retidão e o poder de intercessão de Jó, que é colocado ao lado de outros homens especiais (Noé e Daniel). Na segunda, fala-se de sua capacidade de lidar com o sofrimento. Algumas versões chamam atenção para a sua paciência (RA, TEB, NTLH, BJ), outras para a sua constância (CNBB, EP) ou perseverança (NVI). A paráfrase Bíblia Viva prefere mencionar a sua confiança em Deus. Apenas a Bíblia do Peregrino acha apropriado traduzir a palavra original como resistência: “Ouvistes falar como Jó resistiu, e conheceis o desfecho que Deus lhe proporcionou, pois o Senhor é compassivo e piedoso”.

Logo no início do livro, Jó é apresentado como homem extremamente correto, inculpável, íntegro, irrepreensível, justo, precavido (“evitava fazer o mal”), reto (“andava na linha”) e temente a Deus (Jó 1.1). Era um homem especial, fora de série, um exemplo impressionante em sua época e em nosso tempo. Duas vezes o próprio Deus afirma que Jó era sem igual: “No mundo inteiro não há ninguém tão bom e honesto como ele” (Jó 1.8; 2.3)

Em geral, o que os cristãos sabem a respeito de Jó é apenas o que está no prólogo (os dois primeiros capítulos) e no epílogo (os 12 últimos versos do último capítulo). Passa-se por cima de toda a parte poética do livro, que valoriza tremendamente o caráter de Jó. Já o leitor que examina o miolo do livro fica perplexo com a incrível resistência do homem da terra de Uz frente a toda sorte de sofrimento, como se pode ver a seguir. Jó era irrepreensível...

Apesar das desventuras
 
Jó não era sem igual só no terreno ético. No que diz respeito à prosperidade, ele era aprovado e bem-sucedido em tudo. Jó tinha saúde, família, riquezas e muita gente a seu serviço. Era “o homem mais rico do oriente”. Possuía 11.500 cabeças de gado. De uma hora para outra, perdeu tudo. Em um mesmo dia, Jó recebeu quatro más notícias seguidas, uma imediatamente após a outra. As perdas foram provocadas pelos povos vizinhos (os sabeus e os caldeus) e por desastres naturais (raios caídos do céu e uma terrível ventania vinda do deserto). Foi assim que Jó perdeu...

Todo o gado (7.000 ovelhas, 3.000 camelos, 1.000 bois e 500 jumentos);

Todos os empregados (administradores, agricultores, boiadeiros, carreiros, cortadores de lã, guardas das torres de vigia, plantadores de capim, roçadores de pastos, tiradores de leite, tratadores de animais, vendedores de gado etc). Só escaparam aqueles que vieram trazer essas notícias.

Todos os dez filhos (três mulheres e sete homens). Estavam todos comendo e bebendo na casa do irmão mais velho, quando o furacão atingiu a casa e a derrubou sobre eles. No dia seguinte, havia dez caixões de defuntos para Jó enterrar.

Apesar da doença
 
Pouco depois da perda de quase todos os bens e de todos os filhos, Jó perdeu a saúde, o mais precioso bem que alguém pode possuir. A doença era tão grave que o obrigava a pensar na morte. Vários diagnósticos têm sido apresentados: a doença poderia ser dermatose escamosa, elefantíase, eczema crônico, eritema, lepra, melanoma, pênfigo foliáceo, psoríase queratose, úlceras malignas, varíola. Ele portava “feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça”, raspava-se com um caco de louça e ficou tão desfigurado que seus amigos não puderam reconhecê-lo e começaram a chorar em alta voz diante daquele quadro aterrador (2.12-13).

O mal de Jó era uma agressão à visão e ao olfato de todos os que o cercavam.

Vale a pena ler o que o próprio Jó fala a respeito:

“Que esperança posso ter, se já não tenho forças? Como posso ter paciência, se não tenho futuro?” (6.11).

“Quando me deito fico pensando: quanto vai demorar para eu me levantar? A noite se arrasta, e eu fico virando na cama até o amanhecer. Meu corpo está coberto de vermes e cascas de ferida, minha pele está rachada e vertendo pus. [...] É melhor ser estrangulado e morrer do que sofrer assim” (7.4-5,15).

“Meus dias correm mais velozes que um atleta; eles voam sem um vislumbre de alegria. Passam [ligeiros] como barcos de papiro, como águias que mergulham sobre as presas” (9.25).

“Tornei-me objeto de riso para os meus amigos, logo eu, que clamava a Deus e ele me respondia, eu, íntegro e irrepreensível, um mero objeto de riso!” (12.4).
“Minha magreza [...] depõe contra mim”(16.8); “O meu corpo não passa de uma sombra” (17.7); “Não passo de pele e ossos” (19.20).

“O único lar pelo qual espero é a sepultura” (17.13); “Quem poderá ver alguma esperança para mim?” (17.15).

“Minha mulher acha repugnante o meu hálito; meus próprios irmãos têm nojo de mim” (19.17).

“Agora esvai-se a minha vida; estou preso a dias de sofrimento. A noite penetra os meus ossos; minhas dores me corroem sem cessar” (30.16-17).

“Minha pele escurece e cai; meu corpo queima de febre. Minha harpa está afinada para cantos fúnebres, e minha flauta para o som de pranto” (30.30-31).

Apesar da esposa
 
A companheira de Jó e mãe de seus filhos mortos não teve sabedoria suficiente para enfrentar o sofrimento da família:

1) Ela foi incapaz de suportar o quadro doentio do marido. Jó pessoalmente descreve a situação: “Minha própria esposa não chega perto de mim por causa do mau cheiro que sai de minha boca quando falo” (19.17, BV). O cheiro repugnante vinha também das feridas abertas.

2) Ela foi incapaz de manter o relacionamento anterior com Deus. A esposa de Jó rompeu com o Senhor e aconselhou o marido a fazer o mesmo: “Você ainda vai tentar ser muito religioso, mesmo depois de tudo o que Deus nos fez? O melhor que você tem a fazer é amaldiçoar a Deus e morrer!” Jó viu-se na obrigação de opor-se e resistir à própria esposa: “O que você está falando é loucura completa. Já recebemos tantas coisas boas de Deus, porque não recebemos também o sofrimento e a dor?” (2.9-10, BV.)

3) Ela foi incapaz de acompanhar o marido. A dura verdade é que a esposa de Jó passou para o lado oposto: aliou-se a Satanás, tornou-se porta-voz dele, fez-se advogada do diabo. Pois o único propósito de Satanás era levar Jó a amaldiçoar a Deus (1.11; 2.5).

Apesar da solidão

Antes de suas desventuras, Jó tinha nome, tinha dinheiro, tinha poder. Era cercado de pobres, órfãos, viúvas e estrangeiros, com os quais repartia seus bens. Era cercado de parentes, amigos e vizinhos, próximos e distantes, com os quais se alegrava. Afinal, muitos são os que amam o rico (Pv 14.20). Mas, depois de suas desgraças, todos foram se retirando e deixaram Jó sozinho. Ele se queixa amargamente disso:

“[Deus] afastou de mim os meus irmãos; até os meus conhecidos estão longe de mim. Os meus parentes me abandonaram e os meus amigos esqueceram-se de mim. Os meus hóspedes e as minhas servas consideram-me estrangeiro; vêem-me como um estranho. Chamo o meu servo, mas ele não me responde, ainda que lhe implore pessoalmente. Minha mulher acha repugnante o meu hálito; meus próprios irmãos têm nojo de mim. Até os meninos zombam de mim e dão risadas quando apareço. Todos os meus amigos chegados me detestam; aqueles a quem amo voltaram-se contra mim” (19.13-20).

Apesar do Diabo

O livro da Bíblia que menciona maior número de vezes o nome de Satanás é o de Jó. São ao todo quatorze citações, que aparecem apenas nos dois primeiros capítulos, o equivalente a pouco mais de 25% de todas as ocorrências. Quanto a toda a Escritura, apenas em Apocalipse Satanás é tão devastador como em Jó.

Por duas vezes, Deus chama a atenção de Satanás para a integridade de Jó: “Reparou em meu servo Jó?” (1.8; 2.3). Em resposta, Satanás duas vezes relacionou a integridade de Jó com a prodigalidade de Deus (1.10-11; 2.4). Então, também por duas vezes, Deus suspendeu parte de sua proteção e deixou Jó ao alcance de Satanás (1.12; 2.6).

Na primeira vez, Satanás toma todos os seus bens e todos os seus filhos (1.13-19). Na segunda, toma toda a sua saúde (2.7-8). Depois de todos os estragos, Satanás sai de cena e não mais é citado.

O Satanás do livro de Jó é o mesmo que mais tarde vai tentar o próprio Jesus Cristo (Mt 4.1-11), peneirar Pedro (Lc 22.31), entrar no coração de Judas (Jo 13.27), encher o coração de Ananias (At 5.2), atazanar Paulo com o espinho na carne (2 Co 12.7) e impedir Paulo de visitar os tessalonicenses (1 Ts 2.18). Satanás é o tentador, o enganador, o acusador, o maligno, o homicida, o ladrão de semente (Mt 13.19), o semeador de joio (Mt 13.39), o pai da mentira, o leão que ruge e especialmente “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2), isto é, “aquele que se interpõe entre o céu e a terra” (na Tradução Ecumênica da Bíblia).

Por algum tempo, mas sem perder a proteção de Deus, Jó foi contundentemente machucado por Satanás!

Apesar das discurseiras de seus amigos
 
Os três amigos de Jó — Elifaz, Bildade e Zofar — “souberam de todos os males [desgraças, calamidades, em outras versões] que o haviam atingido, saíram, cada um da sua região. Combinaram encontrar-se para, juntos, irem mostrar solidariedade a Jó e consolá-lo” (2.11).

Depois da mudez provocada pelo impacto da aparência de Jó, os três homens começaram a falar. Seus oito (talvez nove) discursos ocupam pelo menos nove capítulos do livro de Jó. São peças admiráveis quanto à poesia, à beleza e à religiosidade. Os três são monoteístas como o amigo e o nome de Deus aparece 39 vezes em seus discursos (incluindo os nomes Criador e Todo-poderoso). Mas revelam incrível falta de sabedoria, falta de psicologia e falta de misericórdia. Eram inoportunas para aquele momento e para a pessoa com o qual falavam. Valendo-se de uma filosofia errada e de uma teologia errada, Elifaz, Bildade e Zofar causaram enorme mal-estar a Jó e cometeram imperdoáveis injustiças contra ele. Talvez Jó tenha sofrido mais com os discursos de seus amigos do que com a bancarrota financeira, a morte dos filhos e a própria doença. Isso pode ser visto nos seguintes desabafos:

“Vocês [...] me difamam com mentiras; todos vocês são médicos que de nada valem! Se tão-somente ficassem calados, mostrariam sabedoria” (13.5).

“Até quando vocês continuarão a atormentar-me, e esmagar-me com palavras? Vocês já me repreenderam dez vezes; não se envergonham de agredir-me” (19.2-3).

“Suportem-me enquanto eu estiver falando; depois que eu falar poderão zombar de mim” (21.3).

Os amigos de Jó atentaram contra a sua tranqüilidade, alvoroçaram a sua consciência e roubaram a sua paz com Deus. Desempenharam o mesmo serviço de Satanás, aquele que se põe na presença de Deus para acusar dia e noite, não os ímpios, mas os justos (Ap 12.10).

Quando o pano se levanta e toda a verdade vem à tona, o Senhor repreende severamente os acusadores de Jó: “Estou indignado com você [Elifaz] e com os seus dois amigos [Bildade e Zofar], pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó” (42.7). Para não serem punidos por Deus “pela loucura que cometeram”, os três amigos deveriam comparecer diante de Jó, oferecer holocaustos em favor deles mesmos e se beneficiarem da intercessão de Jó (42.8-9).

Apesar da arenga de Eliú
 
Eliú é o quarto personagem do livro de Jó. Era mais jovem que Elifaz, Bildade e Zofar. Foi o último a falar. Seu discurso ocupa seis capítulos seguidos e ele sozinho cita o nome de Deus 39 vezes. Embora mais cortês e mais próximo da verdade quanto à visão do sofrimento, Eliú também não poupou o homem da terra de Uz:

“Neste mundo não há ninguém como Jó, para quem é tão fácil zombar de Deus como beber um copo de água. Ele anda com homens maus e se ajunta com gente que não presta” (34.7, NTLH).

“Jó é pecador, um pecador rebelde. Na nossa presença, zomba de Deus e não pára de falar contra ele” (34.37, NTLH).

“Jó, você não tem o direito de dizer para Deus que você é inocente” (35.2, NTLH).

“São os outros que sofrem por causa dos pecados que você comete” (35.8, NTLH).

“Não adianta nada continuar o seu discurso; você fala muito, porém não sabe o que está dizendo” (35.16, NTLH).

“Você está sofrendo por causa da sua maldade; cuidado, não se volte para ela!” (35.21, NTLH.)

Com o discurso de Eliú fechou-se o cerco contra Jó. Já não havia ninguém a favor do homem da terra de Uz. Todos declararam impiedosamente e à uma voz que Jó era o único responsável pelo sofrimento dele: estava colhendo o que plantara (Gl 6.7-8).

Apesar de Deus
 
Ninguém tinha conhecimento do que estava acontecendo fora do palco, nos bastidores do inferno. Nem a principal vítima, nem a sua mulher, nem os demais parentes, nem a vizinhança, nem os conhecidos, nem seus antigos hóspedes, nem seus servos e servas, nem os rapazotes que brincavam displicentemente nas ruas e praças, nem os miseráveis que Jó havia acolhido em tempo de fartura. Menos ainda os acadêmicos presunçosos que vieram de Temã, de Suá e de Naamate, e o jovem Eliú, igualmente presunçoso.

Ninguém sabia nada do profundo apreço de Deus por Jó, das duas provocações de Deus a Satanás (“Reparou em meu servo Jó?”), das alegações de Satanás de que Jó era reto por uma questão de interesse particular, das duas progressivas diminuições do tamanho da cerca que protegia Jó e da poderosa e sobrenatural investida de Satanás contra as posses, contra a família e contra a saúde de Jó. O mais ignorante disso tudo seria o próprio Jó.

Por essa razão, mesmo sem entender nada do que estava acontecendo, e na certeza de que nada está fora do controle de Deus, Jó atribuía tudo ao Senhor, como se pode ver nas declarações assinadas por ele:

“Nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer. O Senhor deu [tudo o que eu tinha], o Senhor tirou; louvado seja o seu nome!” (1.21, NTLH.)

“Sem dúvida, ó Deus, tu me esgotaste as forças; deste fim a toda a minha família. Tu me deixaste deprimido. [...] Deus, em sua ira, ataca-me e faz-me em pedaços, e range os dentes contra mim” (16.7-9).

“Deus fez-me cair nas mãos dos ímpios e atirou-me nas garras dos maus. Eu estava tranqüilo, mas ele me arrebentou; agarrou-me pelo pescoço e esmagou-me. Fez de mim o seu alvo; seus flecheiros me cercam. Ele traspassou sem dó os meus rins e derramou na terra a minha bílis. Lança-se sobre mim uma e outra vez; ataca-me como um guerreiro” (16.11-14).

“Foi Deus que me tratou mal e me envolveu em sua rede. [...] Ele bloqueou o meu caminho, e não consigo passar; cobriu de trevas as minhas veredas. Despiu-me da minha honra e tirou a coroa de minha cabeça. Ele me arrasa por todos os lados enquanto eu não me vou; desarraiga a minha esperança como se arranca uma planta. Sua ira acendeu-se contra mim; ele me vê como inimigo. Suas tropas avançam poderosamente; cercam-me e acampam ao redor da minha tenda” (19.6-12).

“Misericórdia, meus amigos! Misericórdia! Pois a mão de Deus me feriu” (19.21).

Na verdade, Deus não fez nada contra Jó. Porém, permitiu que Satanás fizesse tudo isso e ainda se servisse de sua própria esposa e de seus próprios amigos. Todavia, nenhum desses estranhos acontecimentos tirou o patriarca do caminho reto. É extraordinária sua resistência às circunstâncias esmagadoramente contrárias!

Apesar do próprio Jó
 
Jó era de carne e osso como qualquer outra criatura. Era homem e não Deus, era homem e não semideus, era homem e não super-homem. Assim como Jesus, em sua forma humana, era igual a qualquer de nós e tinha as mesmas necessidades básicas, como fome, sede e sono, e “passou por todo tipo de tentação” (Hb 4.15). Jó era cercado de limitações e fraquezas. O homem da terra de Uz era irrepreensível e inculpável, mas era santo no sentido restrito. Ele nasceu pecador e era pecador. O pecado habitava nele, estava dentro dele e atuava em seus membros, como aconteceu com Paulo (Rm 7.14-25) e como acontece com qualquer outro mortal.

As dores provocadas pela perda de todos os bens, pela morte de todos os filhos e pela doença mau cheirosa e sem cura, não foram fictícias. Assim como as dores dos cravos que atravessaram os pés e as mãos de Jesus não foram teatrais. Jó sofreu com o mau conselho da esposa e com a incompreensão, a falta de tato, o fundamentalismo religioso, as críticas, as calúnias, as denúncias, a falta de compaixão e a insistência de Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú. Nada disso passou despercebido pelo sofrido Jó. Ele chorava — “Meu rosto está rubro de tanto eu chorar” (16.16). Ele ficava perdido, confuso, desesperado, deprimido. Jó fazia reclamações, lamentações, desabafos (não há outro livro com tantos e sérios desabafos como o de Jó). Ele tinha crises de fé. Todavia, o homem da terra de Uz sobreviveu a tudo isso e fazia sua pública profissão de fé: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra” (19.25).

Jó é um dos mais notáveis exemplos de resistência frente às vicissitudes pelas quais o ser humano pode passar!

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/308/a-resistencia-de-jo-frente-a-dor-e-ao-sofrimento

October 25, 2015

Das profundezas clamo a Ti, Senhor!

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- Ricardo Barbosa

A superficialidade nos afasta de Deus e da oração. No entanto, toda a busca por significado, aprofundamento dos desejos e consciência da beleza ou do sofrimento nos aproxima de Deus e da oração.

A verdadeira oração não é simplesmente aquilo que nossos lábios dizem, mas o que o coração clama. É o grito das profundezas, pois existe uma correspondência entre o interior do coração e as alturas do céu.

João Crisóstomo disse: “Por oração, não entendo a que está apenas nos lábios, mas a que brota do fundo do coração. De fato, assim como as árvores de raízes profundas não são quebradas nem arrancadas pelas tempestades, […] as orações que vêm do fundo do coração, assim enraizadas, sobem ao céu com toda a confiança e não são desviadas pelo assédio de nenhum pensamento.

Por isso, o Salmo 130 diz: ‘Das profundezas clamo a ti, Senhor’”.

Muitos resistem à prática da oração porque são superficiais. Evitam entrar em contato com os desejos mais profundos da alma, fogem da dor e do sofrimento, são insensíveis à beleza, impacientes com o silêncio, temem a transformação e insistem em permanecer no controle de todas as coisas.

Aprendem a usar Deus e não a amá-lo.

Querem um Deus que resolva seus problemas, mas não desejam submeter-se a ele. Não reconhecem suas fraquezas e seus medos. C. S. Lewis disse: “Eu oro porque não posso me ajudar. Eu oro porque estou desamparado. Eu oro porque a necessidade flui em mim o tempo todo, dormindo ou acordado. Isso não muda Deus. Isso me muda”.

A oração envolve uma escuta silenciosa daqueles que buscam sentido e orientação. Pode ser também um grito de desespero clamando por socorro em meio à angústia. Muitas vezes ela se mostra numa celebração gloriosa diante da contemplação da beleza. Ou pode ser um lamento triste diante do mistério da perda e da morte.

A oração brota das profundezas da alma e desperta nossa consciência para a presença, o amor, o cuidado e a bondade de Deus. Santo Agostinho disse que Deus é “mais interior a nós do que nós mesmos”.

A oração nos atrai para ele.

Precisamos da oração para entrar e participar desta comunhão gloriosa com nosso Senhor.

Dionísio Areopagita apresenta uma imagem muito rica para esta união com Deus. É como “se estivéssemos num barco e nos tivessem jogado, para socorrer-nos, cordas presas a um rochedo. É evidente que não puxaríamos para nós o rochedo, mas nós mesmos, com o nosso barco, é que seríamos puxados até ele. […] Por isso […] é preciso começar pela oração, não para atrair para nós esse Poder […] mas para colocar-nos em suas mãos e unir-nos a ele […]”.Nossas orações nascem de um coração “compungido” e “contrito”, é o suspiro da “corça pelas correntes de águas”, é o anseio da alma que tem sede de Deus, a busca da “ovelha” por pastos verdejantes e águas de descanso.

Ao orar, precisamos lembrar que “aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?”.

Se Deus nos deu o que tem de mais precioso, seu Filho unigênito, haveria alguma coisa que ele nos negaria?

“Das profundezas clamo a ti, Senhor.”

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/355/das-profundezas-clamo-a-ti-senhor

October 23, 2015

Todo mundo precisa saber que é tão humano quanto todo mundo

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Todos precisam ouvir (ou relembrar) esta verdade.

Ela parece óbvia demais, e mesmo assim deve ser repetida.

Não importa o que aconteceu em 2015: as vitórias ou as derrotas, os lucros ou os prejuízos, os pecados ou os avanços espirituais.

Somos humanos, e nossa humanidade é o canteiro de obras de um Deus que não se cansa de trabalhar em nós e por meio de nós.

Para colocarmos de uma vez por todas em nossa cabeça esta constatação, os testemunhos bíblicos nos ajudam.

Tiago, por exemplo, lembra que “o profeta Elias era um ser humano como nós” (Tg 5.17, NTLH).

Há também as lembranças de pensadores ao longo da história.

Disse Santo Agostinho (354-430): “Como eu sou feio, desfigurado e sujo, cheio de manchas e úlceras”. E ainda Sigmund Freud (1856-1939): “O homem é um barco à deriva num mar de pulsões autodestrutivas”.

A consciência e a divulgação de que “todo mundo é tão humano quanto todo mundo” deve produzir, não autocomiseração, mas sim bons frutos.

Apesar do “espinho na carne”, é da fraqueza que nasce a fortaleza! (2 Co 12.9).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/todo-mundo-precisa-saber-que-e-tao-humano-quanto-todo-mundo

October 22, 2015

Desistir, jamais!

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Grande parte da vitória é não desistir.

Naqueles momentos que a pressão revela-se insuportável, as incertezas ameaçam o que lhe é mais precioso e parece não haver possibilidade de avanço ou sucesso, torna-se imperativo resistir.

A intransigente decisão de não desistir é responsável, em grande parte, pela vitória. Assim Moisés não desistiu perante o mar e o deserto. Josué não retrocedeu diante da fortificada Jericó. Davi perseverou após perder família, cidade e amigos. Somos chamados em Cristo para - impulsionados pela mistura da fé com a esperança - não desistir jamais.

Esta resistência perante o dia mau seria apenas uma decepcionante teimosia humana se não fosse a promessa de Deus. É pela promessa do Altíssimo que vivemos e perseveramos. Ele prometeu que não estaremos sozinhos um dia sequer das nossas vidas (Mt 28.20); prometeu que todas as coisas (mesmo as mais indesejadas) irão colaborar para o bem daqueles que o amam (Rm 8.28); prometeu uma alegria matutina após noites escuras (Sl 30.5); prometeu que ao fim desta vida haverá um lugar sem angústia ou desespero (Ap 21.14); prometeu que as lágrimas dos que saem semeando se tornarão em alegria perante os frutos (Sl 126.5); prometeu que, mesmo diante das mais terríveis hostes diabólicas, toda corrupção do mundo e do próprio coração, nenhuma força conseguirá nos afastar do seu amor (Rm 8.38,39). E aquele que fez a promessa é fiel.

Em uma recente viagem à Turquia fiquei atônito pela indescritível situação dos refugiados. Olhares desolados contrastam com pés que seguem caminhando. Os milhões que fogem da insana guerra síria e se espremem nas fronteiras da Europa movem-se por uma pálida esperança. Seja de uma vida em solo pacífico, alimento sobre a mesa, educação para os filhos ou simples sobrevivência. Os olhares parecem anestesiados de exaustão, mas os pés seguem caminhando na expectativa de alguma luz. Esperança, mesmo em situações improváveis, gera grande força para seguir em frente. Desde a queda de nossos pais, seguida da misericordiosa promessa de Deus – um que “pisaria a cabeça da serpente” – a esperança tornou-se uma necessidade vital e diária para o viver humano.

Ao enfrentar o dia mau, lembre-se que a nossa esperança é viva, real e está entre nós – Jesus! Ele nos levará por caminhos inesperados até o dia em que veremos o inimaginável esplendor de Deus. Se você nada mais consegue fazer, resta-lhe não desistir, renovado pela convicção de que o choro pode durar uma noite, mas a alegre manhã está chegando.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/desistir-jamais

October 21, 2015

Integridade e paz: restaurando a unidade da pessoa

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- Ricardo Barbosa

Sabemos que existem três dimensões de relacionamento que constituem e fundamentam nossa existência – Deus, o próximo e nós mesmos. Jesus resumiu os mandamentos em um só: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e […] amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.30-31). Este grande mandamento integra esta realidade tridimensional da existência humana.

Encontrar o caminho de volta para Deus, para mim mesmo e para o meu próximo é a grande aventura humana e a experiência de redenção. Integrar estas dimensões de relacionamento nos conduz à liberdade e à unidade da pessoa. Quero sugerir três princípios que podem nos ajudar a integrar estas dimensões, tantas vezes fragmentadas.

O 1o. princípio é o da revelação. A fé cristã nasce da revelação de Deus a nós. Não se trata de uma autodescoberta. Ao se revelar em Cristo, encontramos Deus nascendo, vivendo, morrendo e ressuscitando por nós. A graça nos é revelada e nos é dada. A fé é um presente de Deus para nós, não uma conquista nossa. O conhecimento de Deus, do próximo e de nós mesmos não tem seu princípio em nós, mas em Deus. Diante da beleza inefável e amorosa de Deus em sua identificação conosco por meio de Cristo, somos atraídos por seu amor e nos curvamos diante de seu poder e glória. Somos convertidos a ele. O nosso egoísmo é definitivamente vencido, a nossa rejeição e o nosso medo do outro são superados pela graça divina, que nos liberta e transforma. Por meio da revelação de Deus a nós, sua graça nos acolhe e infunde em nós o mesmo amor com que o Filho unigênito é eternamente amado pelo Pai.

O 2o. é o do afeto. Deus se revela a nós como um grande e poderoso Deus. Temê-lo é uma atitude natural e necessária. Mas ele também se revela como um Deus cheio de misericórdia, amor e compaixão. Amá-lo e nos abrir para ele é também uma resposta natural e necessária. Esta tensão entre o temor e o amor cria em nós o que chamamos de reverência – distância e proximidade, respeito e intimidade. Porém, se o temor se transforma em medo, nos afastamos e nos escondemos. Mas quando o temor nos atrai a uma devoção reverente e amorosa, nos abrimos para Deus, para o próximo e para nós mesmos. Surge um novo afeto, um desejo que nos atrai para Deus, nos aproxima do outro e nos leva a olhar com compaixão para nós. Nasce a comunhão cristã.

O 3o. é o da disciplina espiritual. A prática das disciplinas espirituais é o processo por meio do qual readquirimos a autoridade sobre nós mesmos a partir do fortalecimento das convicções (revelação), do bom uso da razão e da resistência às paixões e seduções que há no mundo. O domínio próprio é uma das virtudes que mais desafiam o cristão moderno. Perdemos a integridade porque nosso corpo, nossas emoções, razão, vontade e sexualidade funcionam sem harmonia alguma. O pecado desestrutura e desorganiza a vida humana. Já as disciplinas espirituais da meditação bíblica e da oração, da quietude e do silêncio, da confissão e da adoração pública, do exercício zeloso dos deveres cristãos e do trabalho para o bem comum reordenam nossa vida interior, integrando as dimensões fundamentais do grande mandamento.

A unidade interior – Deus, o próximo e nós, uma vez integrados pela graça por meio da revelação, dos afetos redimidos e das disciplinas espirituais – nos conduz a uma nova liberdade, fruto da harmonia e da paz que nos torna íntegros. Alcançar esta liberdade é a vocação e o chamado de todo cristão: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou […]” (Gl 5.1).

A meditação nas Escrituras, que nos revela Deus na pessoa de seu Filho encarnado, a vida de oração, que nos abre para Deus e para nós mesmos, e a comunhão fraterna com o povo de Deus, que, gradualmente, quebra o gelo que o medo criou em nós, nos levam a viver, integralmente, o grande mandamento do amor.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/342/integridade-e-paz-restaurando-a-unidade-da-pessoa

October 19, 2015

Humildade: quem busca, encontra

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- Fernando Sampaio

O homem já nasce de mãos fechadas, segurando o nada, mas já querendo se apossar de coisas.

E assim é durante a vida, o homem nunca se acha de todo suprido, quase sempre assumindo a postura do tipo "quanto mais tem, mais quer", como já cantou Rita Lee.

O pecado nos igualou, mas são as posses e a celebraçãoo do próprio nome que parecem oferecer a falsa sensação de diferenciação, de plenitude e de destaque em relação aos outros "simples mortais" que tiveram menos oportunidades ou foram impedidos por outras contingências.

Não é por menos que o mundo é a aldeia da concorrência, algo certamente inerente à vida em sociedade (concursos para emprego, por exemplo), mas que deixa de ser salutar quando nos envaidece a ponto se insuflar ainda mais os egos já anabolizados pelo pecado (humildade sempre foi coisa rara).

Se seguíssemos mais o exemplo da simplicidade de Jesus, que em seu Curriculum Vitae consta a Titulação de Deus, travariam-se menos disputas nas rinhas de galo das academias do conhecimento humano, em seus inúmeros desdobramentos (cultural, científico ...)

E essa disputa tristemente faz parte do âmbito da religião cristã, a despeito das advertências de Jesus de que os seus servos sejam parcimoniosos e não busquem atrair os holofotes para si mesmos. Paulo nos exortou a que façamos tudo para a glória de Deus. Assim, evita-se cair nas ciladas do diabo, com suas arapucas da soberba e do orgulho, onde muitos já estão presos e ainda não se deram conta disto.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/humildade-quem-busca-encontra

October 18, 2015

Transplante de coração

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- Jefferson Henrique Alves Martins

Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. (Ezequiel 36:26)

O coração de uma pessoa morta palpitou pela primeira vez no peito de outro humano às 5h25 de 3 de dezembro de 1967, na África do Sul. Aos 44 anos de idade o Dr Christiaan Barnard realizou o primeiro transplante de coração inter-humanos da história.Uma equipe de 20 cirurgiões, substituiu o coração de Louis Washkansky, pelo de uma vítima de acidente. O paciente morreu 18 dias depois de uma infecção pulmonar.

A propósito, o cardiologista Ernst Reiner da Universidade de Colônia afirma: “O problema nunca foi técnico. No coração, tem-se apenas que ligar dois vasos entre si. O problema sempre foi a rejeição. Um organismo se defende contra todo e qualquer corpo estranho que lhe é implantado”.

Condições para a realização de um transplante seguro

Ter um doador
Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. (Rm 5:8)

Sangue para transfusão
“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.” (1Jo 1:7)

“Pois isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados.” (Mt. 26:28)

Coração compatível, sem rejeição (coração humano)
“E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fil. 2:8)

Coração saudável, sem impurezas.
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.” (Hb.4:15)

Jesus quer nos dar um novo coração, um coração redimido, puro, forte e saudável.

Ele morreu por nós para tornar isso possível.

O sangue de Jesus é doador universal, não existe rejeição, por isso Ele te pede: “Filho meu, dá-me o teu coração...” (Pv. 23:26)

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/transplante-de-coracao

October 17, 2015

A mudança que começa dentro de nós


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JANELAS

- Ricardo José Costa Maia

Existe uma atmosfera incompreensível que parece uma neblina que esvanece quando tentamos tocá-la. Vivemos como se corrêssemos em direção ao vento que sentimos sem poder tocá-lo.

Um sonho nos leva a outro sonho e um sentimento de insatisfação começa a se formar em nossa mente, como se não valesse a pena viver. Comemos e não nos saciamos e quando nos saciamos nos culpamos e quando a culpa passa comemos de novo e uma forte sensação de que estamos presos no globo da morte nos impulsiona a não parar de acelerar.

O machado afiado parece não cortar já que as árvores teimam em ficar de pé nos tornando lenhadores frustrados que descobriram que é impossível parar de cortar. O medo não assusta tanto quando a futilidade de senti-lo e o destemor nos arrasta para o contrassenso da imprudência.

Carregamos a ideologia de terceiros que não conseguem alegrar nossa alma inquieta por concluir que jamais poderá descansar na realização de seus propósitos.

Violentados pelo egoísmo tornamos a angústia fiel parceira de nossas manhãs, já que não permite que enxerguemos nada além do que nossos planos e idealizações sobre como ser perfeito ou moldar os outros segundo nosso padrão de ser humano.

Diante dessa caixa manipuladora, regida por expectativas que não admitimos não se realizarem, o sobrenatural de Deus precisa entrar em ação para que consigamos achar o brilho nos olhos dos outros e a luta incansável de cada um em ser melhor a cada dia, mesmo com suas imperfeições.

Os olhos petrificados que contempla no espelho a alma corrompida precisam ser tratados com colírio da fé, da esperança e do amor.

 Então a mente será renovada quando cada janela for se abrindo para olharmos ao redor e assim conseguirmos enxergar que a mudança começa dentro de nós e jamais esquecer que por mais difícil que seja não teremos chance de sucesso se não levarmos a sério o lembrete de Jesus: "SEM MIM NADA PODEIS FAZER".

A Deus Toda Honra!

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-mudanca-que-comeca-dentro-de-nos

October 16, 2015

Agressividade, passividade ou assertividade

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- Gabriele Greggersen

A assertividade é um conceito que vem da Bíblia, mas que, como tantos outros, foi encampado pelo meio empresarial como fazendo parte da ética das organizações. Ela é aquela atitude nos relacionamentos humanos cotidianos, em que a pessoa sabe “ficar na dela”, numa situação constrangedora, de agressão ou passividade. Ou seja, a pessoa assertiva, ou proativa como muitos a chamam, mas que é um pouco mais do que isso, sabe dosar o espaço de cada um, não deixando invadir o seu e nem invadindo o espaço dos outros. Ela respeita os outros na mesma medida em que respeita a si mesmo. Por isso, tem um grau de paciência, depois do qual ela toma atitudes.

Por exemplo, quando alguém é despedido de forma agressiva, ela não deve baixar a cabeça passivamente, “engolindo o sapo”, mas também não deve partir para a agressão, batendo no entrevistador, mas manter a calma e deixar claro ao outro que a agressividade não leva a nada.

Para dar um exemplo disso, escolhi dois casos de agressividade; um, de passividade, e outro de assertividade em “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas”.

O primeiro é o de Pedro, quando se remete a Edmundo, como sendo um “animal”, por destratar a sua irmã mais nova. Acontece que, como na física, uma ação nunca fica desprovida de reação. Toda atitude posterior de Edmundo, principalmente em relação à Lúcia, que era quem Pedro pretendia “defender”, quando cometeu a agressão ao irmão mais novo, poderia se explicar daí, embora não fosse nenhuma justificativa. É claro que todos nós que temos irmãos já passamos por situações semelhantes: um irmão, bem intencionado, agredindo outro para defender um terceiro e gerando mais agressividade, explícita ou velada.

Mas o pior resultado da agressividade é o que veio a seguir: o comportamento movido pelo sentimento de amargura e vingança. Ele pode ser observado muito bem no solilóquio (conversa consigo mesmo) que Edmundo tem, depois da sua fuga da casa dos castores, cena que infelizmente ficou de fora do filme. Ele traça planos de como vai governar o mundo, e principalmente, os irmãos. O episódio lembra muito o diálogo entre Gollum ou Sméagol (que são a mesma pessoa equizofrência), sobre a possibilidade de matar Frodo. Ambos os personagens revelam a lógica autodestrutiva do orgulho, considerado o pecado capital do cristianismo, que vem intimamente relacionado ao do egoísmo e da amargura. Então, de certa forma, a agressividade é apenas a expressão externa chegada ao ápice de processos internos fervorosos, ligados a vários vícios.

O exemplo de passividade está em Susana quando as crianças ingressam em Nárnia. Ela acha tudo muito perigoso, mas resolve aderir, mesmo a contragosto e vencida pela maioria, ao plano de Lúcia de salvação do fauno, não tanto por coragem e vontade e sentimento de solidariedade, mas seguindo o seu instinto gregário. Quem sabe essa também seja a razão porque ela só descobre Nárnia num momento de fuga de um perigo, no caso da brincadeira de esconde-esconde e ocultação no guarda-roupas mágico.

Não é por acaso também que ela é a primeira a deixar de regressar a Nárnia nos episódios seguintes das Crônicas, pois está sempre preocupada em mostrar-se adulta e sedutora, preocupações essas que a fazem provavelmente esquecer-se de Nárnia, e preferir viajar com os pais para os Estados Unidos, a acompanhar os irmãos e acabar numa eletrizante aventura. Interessante notar o medo típico dela, quando as crianças ouvem falar pela primeira vez em Aslam, que até lhe dá um sentimento de prazer no início, mas que a faz desconfiar quando descobre que ele é um leão. Ou sua suposição (para escândalo dos castores) de que a feiticeira poderia ter alguma humanidade. Em todos os casos, apesar de sua falta de firmeza, ela acaba conhecida em Nárnia como sendo Susana, a “Gentil”.

Claro que o exemplo de assertividade que podemos dar é o de Lúcia, que conquista o título de “Destemida” em Nárnia. Ela não apenas é a primeira a descobrir aquele mundo mágico, mas também mantém o seu caráter ileso, mesmo cometendo erros e demonstrando falhas, não apenas nesse episódio, mas nos demais em que ela aparece, sendo que a sua última aparição se dá na “Última Batalha”, já no que Lewis chama de “Nárnia verdadeira”.

Lúcia não usa de subterfúgios para esconder seus sentimentos e vontades diante dos outros. Ela segue a sua intuição, mesmo em situações de perigo. Tudo isso, sem atitudes ousadas ou agressivas. A ela é dada a visão exclusiva de Aslam em “Príncipe Caspian” e o acesso ao livro mágico em “A Viagem do Peregrino da Alvorada”. E visão tem a ver com a virtude máxima (além da fé, esperança e amor), a prudência ou sabedoria. Assim, ela se parece com os profetas e mártires da história do Cristianismo, que sofreram e morreram não por algum subterfúgio, mas pela convicção de que há mais entre os céus e a terra do que a nossa vã filosofia é capaz de abarcar.

Desafio os leitores a uma releitura de “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupas” ou do filme, a partir dessa perspectiva do comportamento assertivo, que nada mais é do que o do sábio e, em última instância, do que ama, conforme descrito em 1 João 4.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/agressividade-passividade-ou-assertividade

October 15, 2015

Ser humano

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O paradoxo de ser “uno” e ser “muitos” ao mesmo tempo

- Ed René Kivitz

O sufixo “dade” acrescido a um adjetivo gera o substantivo que indica a condição ou propriedade daquilo a que se refere. Claridade é a propriedade do que é claro, e raridade do que é raro. Maldade é o que é próprio do mal, e bondade, do que é bom.

O neologismo “serhumanidade” criado por Gregório Duvivier indica, portanto, aquilo que é próprio do ser humano. Isto é, o que faz do humano um humano; aquilo que portamos e que revela que somos seres humanos e não bichos ou coisas, ou demônios. Em termos simples, aquilo que jamais podemos perder, sob pena de perdermos a nossa condição humana.

A tradição judaica considera a unidade do povo de Deus um aspecto fundamental da identidade de cada judeu. Baal Shem Tov, fundador do chassidismo, ensinava que o povo judeu é um Sêfer Torá vivo, e que cada judeu é uma letra, cada família judia é uma palavra, cada comunidade, uma sentença, e o povo judeu é um parágrafo. Adverte que um Sêfer Torá sem uma letra é declarado inválido, defeituoso. A letra somente faz sentido no texto completo, e o texto deixa de ser completo se lhe falta uma letra.

A compreensão rabínica tem raízes nos profetas, que jamais ousaram falar do povo de Israel como se dele não fizessem parte. O profeta Daniel, por exemplo, ainda que não estivesse particular e pessoalmente implicado no pecado de Israel como nação, orou a Deus dizendo: “Oh, Senhor, pecamos, e cometemos iniquidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; e não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, como também a todo o povo da terra”. Dessa oração se depreende que, se Israel pecou, Daniel também pecou, pois não existe Daniel à parte do povo de Israel.

A relação entre cada um em particular e o povo como um todo indivisível nos remete também ao apóstolo Paulo, que diz que nós cristãos somos uma carta viva, em quem o evangelho pode ser lido. Assim como no exemplo do Sêfer Torá, o cristão que deixa de cumprir seu papel é como uma letra, uma sentença ou um parágrafo, que compromete a revelação do evangelho para o mundo.

Seguindo uma lógica semelhante, mas a partir de outra premissa, a saber, a triunidade de Deus, que é desde a eternidade a comunhão perfeita de três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, a fé cristã considera que a característica mais fundamental da humanidade é a possibilidade de experimentar a unidade na pluralidade. O ser humano é uno ao mesmo tempo em que é muitos, ou é muitos sem deixar de ser uno: o corpo de Cristo é um só, mas é composto por muitos membros e, embora composto por muitos membros, é um corpo só.

Nesse sentido, a “serhumanidade” do ser humano consiste em ser humanidade. Isso significa que, somente quando estamos absolutamente integrados na humanidade, conseguimos experimentar e expressar a nossa “serhumanidade”. Não é plenamente humano aquele que não se compreende parte indissociável de um todo maior.

É verdadeiro que “todo homem é sozinho a casa da humanidade”, como propõe nosso artista Tom Zé. Paradoxalmente é também verdadeiro que somente integrado à humanidade o sozinho pode ser considerado homem. O filósofo judeu Emmanuel Levinas compreende que a humanidade consiste em aceitar que “ao meu lado está o outro, graças a quem sou o que sou”.

Em termos práticos, a solidariedade se sustenta na constatação de que “todos nós somos um” – resumiu Jorge Vercilo. Eu sou eu, mas também sou você, e você é você, mas também é eu. O que é seu é meu, e o que é meu é seu. Suas virtudes também são minhas, assim como seus pecados. E vice-versa. Como nos ensina o apóstolo Paulo, no corpo de Cristo, “quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele”.

Chegamos, portanto, a outro paradoxo: sou tanto o faminto que estende a mão em minha direção, quanto a mão que se estende em favor do faminto, pois nele eu me vejo, e ele se vê em mim. Eu não existo à parte dele, e ele não existe à parte de mim. Sim, sou o homem caído à beira do caminho, mas igualmente sou o assaltante que o feriu, e o sacerdote e o levita que o evitaram. Mas, pela graça de Deus, sou também o samaritano que o tomou nos braços e o amou.

Nisso consiste minha “serhumanidade”: em ser humanidade. A humanidade toda. Eu nela e ela em mim.

E Cristo, tudo em todos.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/352/serhumanidade

October 14, 2015

O fruto do Espírito

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Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. (Gálatas 5.22-23)

Além de santo em sua natureza e caráter, o Espírito Santo atua na vida de seu povo para torná-lo santo.

Existem duas forças contrárias — a carne, que representa a nossa natureza herdada, caída e deturpada, e o Espírito, que representa o próprio Espírito Santo, que habita em nós. Além disso, elas possuem desejos contrários. Assim, há um campo de batalha dentro de nós, pois essas duas forças são conflitantes.

Essas duas forças conduzem a dois estilos de vida opostos. Os atos da natureza pecaminosa são evidentes e bastante desagradáveis. Paulo relaciona quinze deles e acrescenta que essa lista não é definitiva. Eles se encaixam em quatro categorias, a saber, sexo, religião, sociedade e bebida. 

Mas há um outro estilo de vida, contrário a esse. Amor, alegria e paz caracterizam nosso relacionamento com Deus; paciência, amabilidade e bondade o nosso relacionamento com os outros; e fidelidade, mansidão e domínio próprio dizem respeito a nós mesmos. Todas essas características são marcas de Jesus e são identificadas como o fruto do Espírito, uma vez que crescem de forma natural e constante, assim como um fruto.

Existem duas atitudes opostas

Ou seja, somos exortados a repudiar a nossa natureza pecaminosa e nos entregarmos ao Espírito Santo. Na verdade, aqueles que pertencem a Cristo Jesus já crucificaram sua natureza pecaminosa com suas paixões e desejos (v. 24). Tomamos nossa natureza má, corrupta e pecaminosa e a pregamos na cruz. Porém, precisamos deixá-la ali. 

Devemos também nos entregar ao Espírito Santo e caminhar ao lado dele. 

Essas atitudes devem ser decisivas, completas e permanentes, para que não retornemos continuamente à cena da crucificação. 

Precisamos ter essa mesma atitude em relação ao Espírito Santo. 

Precisamos cultivar nossa vida espiritual usando os domingos com sabedoria, mantendo a disciplina da devoção diária, participando dos cultos com regularidade, compartilhando da Ceia do Senhor e envolvendo-nos no serviço cristão. 

Todas essas coisas são dádivas da graça de Deus, ou seja, são canais que conduzem a graça de Deus até nós e a chave para a santificação.

PS- Para saber mais, vai lá: Gálatas 5.16-26

Fonte:  http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2015/10/12/autor/john-stott/o-fruto-do-espirito-2/

October 13, 2015

A arte de amar e deixar de amar

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Não amem o mundo, nem as coisas que há nele. Se vocês amam o mundo, não amam a Deus, o Pai. (1Jo 2.15)

A capacidade de amar deve estar sob controle. O fato é que não deveríamos amar algumas das coisas que amamos. Do mesmo modo, algumas coisas que não amamos deveriam ser amadas por nós. O controle sobre o amor é um exercício extremamente necessário (e difícil), pois nunca ficamos sem amar. Amamos errado, mas amamos.

Não devemos amar o mundo e nós o amamos. Não devemos amar o dinheiro e nós o amamos. Não devemos amar as obras da carne e nós as amamos. O homem não deve amar a mulher de outro, assim como a mulher não deve amar o marido de outra, mas isso acontece. Não devemos amar o supérfluo e nós amamos.

Portanto, a palavra de João é corajosa e oportuna: “Não ame o mundo, nem as coisas que há nele”. Primeiro, porque se amamos o mundo, não amamos o Pai (o Pai e o mundo são completamente antagônicos). Segundo, porque o que há no mundo não merece o nosso amor: “a cobiça sensual, a cobiça do que se vê, o gabar-se da boa vida” (1Jo 2.16, BP). Terceiro, porque o mundo passa com todas essas coisas más e nós ficaremos sem nada.

Essa capacidade de amar tem que ser usada positivamente. É só virar o leme. Precisamos amar a Deus sobre todas as coisas, pois ele é digno desse amor e esse amor nos faz bem. Precisamos amar o próximo tão intensamente quanto amamos a nós mesmos, pois isso soluciona vários problemas e esse amor nos faz bem. Precisamos amar o inimigo, pois isso impede a pena do talião que nunca dá certo, e impede o crime, impede a guerra, e esse amor nos faz bem.

A questão toda é saber o que não amar e o que amar!

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2015/10/13/autor/elben-cesar/a-arte-de-amar-e-deixar-de-amar/#comment-621

October 12, 2015

Aceitando o que não pode ser mudado

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Há também outro mal terrível: Como o homem vem, assim ele vai, e o que obtém de todo o seu esforço em busca do vento? Passa toda a sua vida nas trevas, com grande frustração, doença e amargura. (Eclesiastes 5.16-17)

“Passar toda a sua vida nas trevas” é uma expressão hebraica para “viver em tristeza”. A frase é derivada da forma como as pessoas aparentam estar quando se sentem tristes. Quando o coração está triste, os olhos quase parecem nublados, cobertos por nuvens. 

Mas quando o coração está feliz, a face se ilumina e brilha. A luz representa a felicidade e a escuridão, a tristeza. Por exemplo, lemos nos Salmos: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação” (Sl 27.1); “Olha para mim e responde, Senhor meu Deus. Ilumina os meus olhos” (Sl 13.3). 

Passar a vida nas trevas, portanto, significa levar uma vida cruel, de tristezas.

Os únicos casos que chegam diante do juiz são aqueles ruins. Um juiz insensato irá se torturar e se encher de preocupações por pensar que não está fazendo diferença. Mas aquele que é sábio dirá: “Eu planejo e faço tudo o que posso. Mas o que eu não posso mudar, eu aceito. Eu tenho de suportar. Ao mesmo tempo, eu submeto tudo a Deus. Somente ele sabe como fazer as coisas da melhor maneira, de acordo com a sua vontade. Ele é o único que pode fazer meus esforços terem sucesso”.

Portanto, assim como um juiz, nossos olhos e ouvidos devem se acostumar a ver e ouvir coisas ruins, mesmo que elas não sejam o que desejamos. Não devemos pensar que veremos e ouviremos somente coisas boas, que nos agradam. 

Isso não é o que o mundo oferece. 

Portanto, devemos nos preparar para coisas ruins, pois sabemos que é esse o caminho da vida.

Aqueles que não querem ter problema algum terão mais problemas que os outros.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2015/10/10/autor/martinho-lutero/aceitando-o-que-nao-pode-ser-mudado-2/

October 11, 2015

Escuridão por todo o lado

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Quem odeia o seu irmão está na escuridão, anda nela e não sabe para onde está indo. (1Jo 2.11)

Se a escuridão está indo embora, por que continuar dentro dela? Se a aurora está chegando, por que esse gosto pela escuridão?

O problema é muito sério e Jesus se pronunciou a respeito: “Deus mandou a luz ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão” (Jo 3.19). 

Como é possível preferir uma cobra no lugar de um peixe? Como é possível preferir uma pedra no lugar de pão? Como é possível perder a alma para não perder o mundo? Como é possível construir uma casa sobre a areia e não sobre a rocha? Como é possível escolher Barrabás e não Jesus Cristo? Como é possível trocar a vida eterna pela morte eterna? Como é possível trocar a cruz por uma varinha de condão? Como é possível trocar a redenção pela reencarnação? Como é possível trocar os anjos que não caíram pelos demônios? Como é possível trocar o Espírito de Deus pelos cartomantes? Como é possível perder Cristo para não perder o amigo? Como é possível trocar o sangue de Jesus pelo sangue de touros e bodes? Como é possível trocar a Ceia do Senhor por uma noitada de orgia? Como é possível trocar o cajado pela vara? Como é possível trocar os tesouros do céu pelos tesouros da terra? Como é possível trocar a casa de Deus pela casa de uma prostituta?

Talvez João tenha feito essa catilinária toda para mostrar aos “filhinhos” que “quem odeia o seu irmão está na escuridão, anda nela e não sabe para onde está indo, porque a escuridão não deixa que essa pessoa veja” (1Jo 2.11).

A luz brilhou sobre os que viviam nas trevas, mas eles preferiram continuar na escuridão.

Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2015/10/09/autor/elben-cesar/escuridao-por-todos-os-lados/

October 10, 2015

A Palavra em nosso meio

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Não deixa de surpreender quando, em muitos temas, somos levados pelas paixões das ideologias ou das preferências pessoais. Nas redes sociais, isso se faz evidente com comentários que refletem a postura “publico isso porque esse autor resume exatamente o que eu penso”. Ou um outro exemplo no curioso comentário de uma visita em nossa igreja, “quis vir aqui porque ouvi dizer que pregam aquilo em que eu acredito”. Sei não, será que deveria ser assim mesmo? Onde está o contraditório, o desafio, o crescimento que vem do saudável confronto de minhas confortáveis, mas talvez equivocadas posições?

Apliquemos isso por um momento em nossa relação com as Escrituras. Seria uma tragédia aproximar-me da Palavra imaginando nela encontrar aquilo que “eu já acredito”, ou limitando minha exploração às partes que convenientemente parecem se encaixar nas opções que já fiz de antemão.

Por isso, entre outras razões, há uma equipe global no ministério da IFES (International Fellowship of Evangelical Students, a comunidade mundial à qual a ABU no Brasil é filiada) responsável nos últimos anos em trabalhar para o fortalecimento do que chamamos “Compromisso com as Escrituras”1. Essa equipe (cinco pessoas: da Alemanha, Malásia, EUA, Gana e o servidor que lhes escreve aqui do Brasil) preparou um breve recurso para ajudar os movimentos estudantis de todo o mundo a pensar alguns aspectos da relação com a Palavra e a avaliar como manejam as Escrituras em sua vida e missão.

O resultado foi o pequeno livro “A Palavra em nosso meio”2, lançado em inglês, francês e espanhol no mês de julho. Trata-se de um recurso para que possamos cultivar uma visão clara da importância das Escrituras em tudo o que somos e fazemos. Em palavras simples, renovar um compromisso com as Escrituras que implique em amar, estudar, viver e compartilhar a Palavra de Deus.

Há duas partes, um guia para cultivar alguns aspectos fundamentais e uma ferramenta para refletir sobre o impacto da Palavra de Deus no nosso meio. Compartilho aqui brevemente seis áreas mencionadas do livreto, que julgamos ser importantes nesses processos de avaliação e reconsideração, caso necessário, do nosso manejo da Palavra.

1. Aprofundar nossas convicções sobre a natureza e o propósito das Escrituras
A resposta sobre a pergunta “qual é a natureza e o propósito das Escrituras?” muitas vezes determinará como nos relacionamos com a Palavra. Se cremos que nela há autoridade para as situações de nosso cotidiano e se reconhecemos que através dela nos encontramos com a pessoa de Jesus Cristo, então nossa atitude será diferente. Abrir a Bíblia será como entrar em uma sala acolhedora para sentar-nos junto com aquele que amorosamente transforma a nossa vida.

2. Cultivar uma atitude de amor, expectativa e obediência à Palavra de Deus

Mais importante que métodos é a nossa atitude diante da Palavra. Não como um livro de regras, não como eco de nossos pensamentos (uma tentação para os religiosos), não como um manual de respostas fáceis para todos os nossos problemas. Nossa atitude deve ter mais daquele profundo amor pelo Salvador que cresce através da Palavra, que nos faz abrir nosso coração, nossa vida, para que sejamos obedientes àquele que é Senhor.

3. Modelar um estilo de vida de compromisso com as Escrituras
O que descobrimos na Palavra, sabemos aterrissá-lo, tanto em um nível pessoal como comunitário? Precisamos sempre revisar juntos como é nossa relação com Deus através de sua Palavra. É preciso cuidar também para que haja um interesse em responder à Palavra, em pelo menos tentar viver essas verdades, pessoalmente e também em comunidade.

4. Confiar no impacto da Palavra de Deus na evangelizaçãoPoucas coisas são mais especiais do que ver alguém conhecer a Jesus através das Escrituras. Não porque outro lhe convenceu, mas porque descobriu por si próprio essa vida abundante no Cristo revelado pela Palavra. Claro, é preciso um ambiente seguro, um espaço para perguntas honestas, um acolhimento das dúvidas sinceras, das opiniões e questões que buscam a verdade. Precisamos ser mais criativos e dispostos a abrir esses ambientes e espaços onde se deem esses encontros.

5. Alimentar boas práticas no compromisso com as Escrituras
Há que saber conectar-se com coração e mente, há que saber interpretar de maneira adequada, contextual, pertinente, que seja fiel tanto às Escrituras como ciente do contexto onde a Palavra é lida, entendida e obedecida. Para isso é legítimo perguntar como estamos nos capacitando e também como estamos fomentando os bons modelos e práticas em nosso meio. Assim, revisar o que for preciso e encorajar o que deve continuar se aprofundando.

6. Enfrentar biblicamente os desafios de nosso mundo
Se a Bíblia é Palavra de Deus, e se Deus é o Criador, Redentor e Senhor de todo o universo, então é claro que sua Palavra traz implicações para tudo na vida, para cada esfera da ação e da vida humana no mundo. Quando participamos das conversas que ocorrem em nosso redor, devemos estar atentos para escutar bem, e para saber conectar, construir as pontes entre as Escrituras e cada aspecto da vida humana. Não é o caso de crer em respostas superficiais e simplistas, mas o de entender que a própria Palavra de Deus trará novas perguntas a agendas que se discutem hoje em dia.

Em cada uma dessas seis áreas, a busca das respostas e das conexões adequadas sempre será melhor se for levada adiante com humildade, na dependência do Espírito e em processos comunitários. Devo me permitir ser surpreendido e desafiado pelas Escrituras. Nada de só querer que elas me digam o que eu já queria ouvir. Só assim a Palavra pode tornar-se viva e eficaz para provocar em nós e em nosso entorno as transformações que vêm diretamente da agenda de Deus para nós e para o mundo.

Boa leitura e boa aterrisagem!

Notas:
1. Em inglês: “Scritpture Engagement Team”.
2. Você pode baixar a edição em inglês “The Word Among Us” aqui; a edição em espanhol “La Palabra en Medio Nuestro” aqui e a edição em francês “La Parole au Centre” aqui.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-palavra-em-nosso-meio

October 09, 2015

O que pensamos sobre Deus determina como vivemos nossa fé

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Como nossa compreensão a respeito da presença de Deus afeta nossa autopercepção e nossa vida e ação na sociedade? 

Acredito que a vida humana é muito mais uma questão teológica do que antropológica ou sociológica. Explico. Nossa vida tem muito mais a ver com a compreensão a respeito de Deus e, particularmente, de sua presença no mundo e em nossa vida do que com nossa natureza, escolhas, desejos, vontades, personalidade etc.

Reconheço que isso se choca com os valores materiais e físicos da cultura moderna e já foi amplamente desafiado por filósofos iluministas. O filósofo alemão do século 19, Ludwig Feuerbach, por exemplo, em sua crítica à religião, dizia que Deus nada mais é do que a projeção aperfeiçoada dos anseios humanos, portanto, na sua compreensão, a teologia se reduz à antropologia. Por outro lado, ainda que a fé cristã tenha sobrevivido à toda crítica racional e existencial da era moderna e demonstre vigor ainda hoje, é verdade que muitas vezes parece que Feuerbach está correto. A fé, em muitos casos, tem se tornado um meio de autossatisfação, autopreenchimento e autodescoberta. Nesse sentido, Deus nada mais é do que a satisfação de meus anseios. Apesar de não concordarmos com a descrição existencialista de Deus, muitas vezes a praticamos ou, como alguns sugerem, na nossa profunda religiosidade vivemos um ateísmo prático.

A fé cristã no Deus presente se contrapõe à visão cultural moderna justamente por compreender que o ser humano não se define unicamente pela natureza, mas por sua relação com o Deus transcendente, criador e Senhor de todas as coisas.

Uma vez que aceitamos esse fato, outra coisa é compreender como Deus se manifesta e faz presente entre nós. Jesus prometeu aos discípulos “estarei convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt 28.20). Mas ele também disse na última Ceia, “de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai” (Mt 26.29). O Jesus que se ausenta “até aquele dia” é o mesmo que está presente “todos os dias”. Como entender isso? A tradição cristã tem entendido a presença de Deus, Cristo e o Espírito de diversos modos. Deus está presente na história, regendo todos os acontecimentos. Deus se faz presente em nós por meio do Consolador/Conselheiro. Deus se manifesta por suas obras de poder. Deus se faz presente por meio de atos de justiça. Como o autor de Hebreus declara, “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos antepassados [...] mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho” (Hb 1.1,2). Como tenho dito, nossa compreensão da presença de Deus molda nossa vida e ação (ou missão).

Uma das maneiras de Deus se fazer presente é por meio da encarnação do Filho. João diz que “aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos sua glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Jesus é a manifestação visível em carne da glória do Pai que viveu entre nós. Isso significa não só que Deus estava “em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19), mas também que em Cristo o próprio Deus se torna humano, semelhante a nós, para nos reconciliar com ele. Entretanto, significa ainda que embora essa presença tenha ocorrido historicamente na pessoa de Jesus na Palestina nas primeiras décadas da era cristã, ela serve de paradigma da presença de Deus hoje. Jesus não está presente como homem, mas está presente por meio de seu corpo a igreja. A igreja, então, é a presença do Filho que se fez carne e vive entre nós, o Cristo presente. Deus está presente por meio do corpo de Cristo.

Essa compreensão da presença de Deus deve refletir no modo de vivermos como indivíduos e como igreja. Paulo muito bem declara isso quando diz aos filipenses:

“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo [...] e, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo” (Fp 2.5-8).

A encarnação é o paradigma pelo qual o cristão deve viver. Por isso Paulo diz também:

“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente de seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (Fp 2.3, 4).

Crer no Deus encarnado determina o modo como proclamamos a presença desse Deus e como exercitamos a espiritualidade. Isso se contrasta com uma parte da espiritualidade evangélica contemporânea, muitas vezes, desencarnada, uma espiritualidade da glorificação, exaltação e autoprojeção. A espiritualidade encarnacional se reflete no esvaziamento da ambição, no considerar o outro superior, estender a mão ao próximo, em outras palavras, seguir o modelo do Cristo que se fez carne.

O Deus encarnado se esvaziou, tomou forma de servo. Se, como seres humanos, somos imagem desse Deus e, como cristão, somos a imagem de Cristo, e, como igreja, somos o corpo de Cristo na terra, nossa espiritualidade precisa refletir esse Deus encarnado.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-que-pensamos-sobre-deus-determina-como-vivemos-nossa-fe