April 10, 2016

Seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu

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Chérie,

"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional; e não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12:1-2).

Jesus declarou: "A minha comida é fazer vontade daquele que me enviou" (Jo 4: 34). E no Jardim do Getsêmani, alinhou a sua vontade com a vontade do Pai: "Não seja como eu quero, mas como Tu queres" (Mt 26: 39-42). 

Render-se à vontade de Deus tem a ver com confiar no Seu amor

E por que 'assim na terra como no céu'? 

Porque "os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos", declara o Senhor. "Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos" (Is 55: 8, 9).

Um artigo para instigar. 

Bjs, 

KT


Observei no Paquistão o trabalho de um oleiro primitivo. Nada me mostrou com tanta clareza o significado da frase Faça a tua vontade assim na terra como no céu.

Este oleiro idoso com a face sulcada por linhas profundas, ombros curvados e frágeis, e mãos sensíveis recebeu eu e meu companheiro missionário em sua humilde loja numa rua em Peshwar. Esta cidade, de comércio ativo, situada no nordeste do Paquistão, fica perto do fabuloso desfiladeiro de Khyber. É uma região tão colorida como seu povo phathan.

Interessado e com sinceridade, pedi ao ancião que mostrasse todos os detalhes na criação de uma obra prima. Meu pedido o emocionou. Ele aprendera seu oficio com um oleiro-mestre na China, que ensinara toda habilidade para esta ocupação. Sua loja estava repleta de taças brilhantes, lindos vasos e tigelas notáveis, de empolgante beleza.

Fazendo um sinal com seu dedo magro, me levou a um abrigo pequeno, escuro e fechado no fundo de sua loja. Quando abriu a porta que parecia desmoronar, um cheiro forte e repulsivo de matéria em decomposição sufocou-me. “É aqui que começa meu trabalho”, disse ele abaixando-se ao lado de um buraco repugnante. Seu braço longo e fino tocou naquela massa escura, e seus dedos habilidosos e delgados moveram-se por entre as porções de argila, procurando um fragmento do material exato que necessitava para sua obra.

Os primeiros versículos do Salmo 40 vieram ao meu coração com um tremendo impacto. Vi de uma maneira nova e repentina o que o salmista quis dizer quando escreveu “Coloquei toda minha esperança no Senhor, ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro. Ele me tirou de um poço de destruição, de um atoleiro de lama”. Da mesma maneira que o oleiro selecionava o seu barro, assim também Deus me escolheu com especial carinho.

Enquanto o oleiro delicadamente tocava aquela porção de barro de aspecto desagradável em suas mãos, eu compreendia como Deus também trataria meu coração. Com toda calma, o homem caminhou com a argila na mão até onde havia uma grande pedra, no centro da loja. Com precisão meticulosa, colocou a porção de barro exatamente no centro da roda. O cuidado que teve neste ato aparentemente simples deixou-me perplexo. Era necessário tal cuidado antes para que pusesse a pedra em movimento com a argila, girando no centro. Novamente, por meio de Salmo 40:2 a palavra de Deus veio claramente ao meu coração ...”pôs os meus pés sobre uma rocha e firmou-me num local seguro”. Da mesma maneira que o oleiro agiu cuidadosamente para centralizar a argila na roda de pedra, assim também Deus trabalha com muito cuidado para centralizar minha vida em Cristo. Essa não é uma tarefa que pode ser feita na fossa onde estava o barro. Tive de ser levantado da horrível fossa de minha vida detestável para centralizar-me naquele que poderia me colocar uma nova direção. E a pedra pela qual fui posto não era senão Cristo, a Rocha de Deus. Nunca havia compreendido isto. Talvez fosse por causa da escuridão e desespero de minha vida anterior. Eu era uma porção de terra nas mãos do Mestre, e Ele estava trabalhando para moldar minha vida.

Quando o velho oleiro sentou-se no banco pequeno e cambaleante em frente à pedra, alguma coisa impressionou-me enormemente: era o olhar fascinante, peculiar que dominava a face sulcada de rugas. Uma nova luz brilhava em seus olhos. De algum modo, eu podia perceber que, naquele fragmento rude e disforme de terra em suas mãos, o oleiro via um vaso ou uma taça de forma e beleza requintadas. Havia nesta porção de barro cru enormes possibilidades!

Tal pensamento parecia fazê-lo estremecer. Desse barro emergiria algo de grande beleza enquanto sua vontade era nele gravada. Suas intenções, seus desejos e seus propósitos em fazer um objeto belo e útil, como as outras peças de linda porcelana que adornavam suas prateleiras.

O Espírito de Deus falou-me suavemente naquela pequenina e obscura loja: “Você não vê quanto de expectativa e emoção enche o coração do pai enquanto olha para você e o segura em suas mãos? Se a vontade de Deus for feita em sua vida (neste pequenino pedaço de terá), conterá um pouquinho do céu”.

O velho oleiro começou a girar a roda mansamente. Tudo o que fazia era feito com delicadeza. A grande pedra, talhada das rochas toscas das altas montanhas do Hindu Kush atrás de sua casa, girou calmamente. Todavia, o que mais me chamou a atenção neste ponto foram duas bacias de água. Antes de tocar no barro, que girava rapidamente no centro da roda, o oleiro mergulhava as mãos na água. Era por meio da umidade que ele trabalhava na porção de argila. E era fascinante ver como o barro respondia à pressão aplicada por suas mãos umedecidas. Silenciosa e mansamente, a figura de uma delicada taça começou a tomar forma sob suas mãos. A água era o meio pelo qual a vontade do artífice e o seu desejo eram transmitidos ao barro. A sua vontade estava sendo feita na terra.

Repentinamente, a pedra parou. Por que? 

O oleiro retirou uma pequenina pedra da taça. Seus dedos tinham percebido a resistência desta partícula ao seu toque. De novo, girou a pedra. Rapidamente ele alisou a superfície da taça.

No entanto, novamente a pedra foi parada. Outro objeto duro foi retirado – um pequenino grão de areia – que deixou um sinal na argila.

Um olhar de ansiedade e cuidado começou a transparecer na face do oleiro. Seus olhos expressavam uma interrogação. Será que aquela argila continua outras partículas de areia que resistiriam às suas mãos e destruiriam seu trabalho? Suas melhores intenções, as mais altas esperanças e maravilhosos desejos, não viriam a se concretizar?

De repente, o oleiro parou a pedra novamente e apontou desoladamente um profundo sulco desigual que marcou o lado da taça. Era impossível de consertar. Desalentado, esmagou a taça com as mãos e uma porção de barro permaneceu amontoada sobre a pedra.

Por que esta obra-prima rara e linda ficou arruinada nas mãos do oleiro?

Porque ela resistira.

Atordoado, perguntei num murmúrio rouco: - E agora?

E o oleiro, com os olhos tristes e nublados, encolheu os ombros velhos e cansados e respondeu: “Vou fazer somente um tosco lava-dedos”.

A pedra voltou a girar. Em poucos minutos, um lava-dedos simples estava formado. Aquilo que deveria ser uma taça magnífica e rara, agora era uma peça grosseira para um camponês lavar os dedos.

Naquele ambiente humilde do oleiro, perguntei a mim mesmo: a minha vida vai ser um deslumbrante cálice digno de conter o vinho excelente da própria vida de Deus do qual os outros poderão beber e se restaurar? Ou serei somente um grosseiro lava-dedos no qual os transeuntes umedecerão seus dedos rapidamente para depois prosseguir e esquecer tudo?

Pai, seja feita a tua vontade assim na terra [no barro, em mim] como no céu”.

Fonte: KELLER, W. Phillip. Orando diariamente o Pai Nosso. São Paulo: editora Vida, 2013..

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