Por uma reforma dos sentimentos
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Ultimato – O livro Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas fala sobre o quê?
Ricardo Barbosa - Walter Hilton, místico agostiniano do século 14, já falava sobre a importância da conversão das nossas emoções. Para ele, a conversão das convicções é um passo fundamental para a conversão dos sentimentos e das emoções. A Reforma Protestante afirmou as doutrinas cristãs como fundamento para a fé. No entanto, precisamos também de uma reforma dos sentimentos. Este livro fala sobre a importância das convicções cristãs para o equilíbrio de nossas emoções e sentimentos.
U – Vivemos na época em que os estímulos externos são intensos, principalmente com o avanço das novas tecnologias. É difícil manter a mente atenta. O quanto a distração é uma inimiga da maturidade cristã e da transformação da mente?
RB - Penso que uma das armadilhas do Inimigo é manter nossas mentes distraídas. As ferramentas tecnológicas têm sua utilidade, claro, mas precisamos de discernimento para usá-las. Elas tendem a substituir o real pelo virtual, a pessoalidade pela eficiência. Vivemos uma sensação de sufocamento das emoções e sentimentos. Tentamos preencher nossa vida numa busca frenética por realização e prazer, mas logo percebemos que continuamos a navegar na superfície dos relacionamentos.
U – Nossa geração também é muito influenciada pelas emoções, inclusive, na compreensão que ela tem sobre Deus. Qual o lugar das emoções em uma vida cristã madura?
RB - O iluminismo criou o ser racional, “penso, logo existo”. O tribunal que julgava as grandes questões era o tribunal da razão. Hoje, com a forte influência da psicologia no século 20, o tribunal que julga nossas questões é o tribunal das emoções. O que sinto define aquilo que é verdadeiro. Precisamos entender a armadilha que isso representa. Jonathan Edwards, o grande pregador congregacional e teólogo calvinista, em seu tratado sobre os “Afetos Religiosos”, afirma que a verdadeira religião precisa tocar e transformar nossos afetos. Ele faz uma afirmação séria e, ao mesmo tempo, ousada quando diz: “acredito que ninguém jamais mudou por causa da doutrina, de ouvir a Palavra de Deus ou pelo ensino ou pregação de outra pessoa, a não ser quando esses meios atingiram os sentimentos”. Ele foi um grande teólogo, dedicou sua vida a ensinar a sã doutrina, mas reconhecia que apenas o conhecimento intelectual não muda ninguém, a não ser quando este conhecimento atinge o coração e os afetos.
U – Você é pastor da mesma igreja local por muitos anos. Sua preocupação pastoral é bem clara no livro. Como a comunidade pode ajudar o cristão a seguir uma jornada de amadurecimento espiritual? Que aspectos práticos você poderia levantar?
RB - É com tristeza que noto que muitos cristãos, depois de vários anos de conversão, depois de terem participado de tantos cultos, escola dominical, retiros espirituais, grupos pequenos; depois de terem lido tantos livros bons, além da própria Bíblia, tornaram-se piores do que quando começaram a vida cristã. Tornam-se pessoas mais secularizadas, apáticas, desmotivadas, infrutíferas, gozando muito pouco ou mesmo nada da vida abundante prometida por Jesus. A formação e o amadurecimento espiritual se dá nos relacionamentos, nunca fora deles. É na forma como nos relacionamos que percebemos o quanto o Evangelho de Jesus penetrou em nossos corações, transformou nossos afetos e fez de nós homens e mulheres mais plenos e verdadeiros. Como pastor tenho visto e acompanhado o crescimento e amadurecimento de muitos irmãos e irmãs. Noto que todos eles carregam uma marca comum: são pessoas profundamente comprometidas com a comunidade e com os relacionamentos. É claro que são também cristãos comprometidos com a palavra e com a oração, mas é na comunidade que vemos os efeitos do seu conhecimento.
U – Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas fala de sentimentos atuais (medo, ansiedade, culpa, carência), mas partindo de um texto bíblico específico (Romanos 8. 31-39). Qual o papel principal das Escrituras na transformação da nossa mente e de nossas emoções?
RB - Parto do princípio que nossos sentimentos e emoções seguem nossos pensamentos e convicções. O apóstolo Paulo tinha convicções muito sólidas e bem estruturadas e isso foi fundamental para estruturar seus sentimentos e emoções. Quando preso, dizia que era um “prisioneiro de Cristo,” quando encontrava-se em Roma aguardando julgamento, escreveu sua carta mais pessoal onde expressa sua alegria, contentamento e gratidão. Ele era capaz de dizer de dentro de uma cela, privado de praticamente tudo, que “tinha tudo e em abundância.” Por quê? Poderia descrever sua ansiedade, mas ele consola seus leitores dizendo para não “viverem ansiosos de coisa alguma.” Poderia compartilhar seu medo de ser julgado pelo imperador Nero e ser condenado à morte, mas nos anima a nos “alegrar sempre no Senhor.” Penso que suas convicções claras e sólidas moldavam seus sentimentos e suas emoções. É claro que tinha seus medos e ansiedades, mas não era isso que dominava suas emoções e sentimentos. Imagino que nossas convicções hoje são frágeis, permanecem superficialmente no intelecto sem transformar nossos corações. No entanto, quando elas são compreendidas claramente e nos envolvem totalmente, nossos afetos e sentimentos são redimidos e transformados.
U – Você faz questão de afirmar que preferiu usar a palavra “pensamentos” e não “razão” e “conhecimento”. Por quê?
RB - O pensamento é a forma como damos vida ao conhecimento. Se o conhecimento que tenho sobre qualquer coisa não influencia minha forma de pensar, é apenas uma teoria. Por outro lado, se o que eu penso sobre política, economia, família, relacionamentos, sexualidade, meio ambiente é fortemente influenciado pelo conhecimento que tenho de Deus, de sua Palavra, isso vai definir a maneira como vou viver e lidar com tudo isso. Muitos cristãos são capazes de fazer defesas racionais de sua fé, mas suas vidas demonstram o contrário. São cristãos racionais que não entenderam a dimensão pessoal da fé cristã.
U – A missão da igreja tem um teor bem prático, e isso pode gerar um tipo de pragmatismo superficial. Como a espiritualidade integral corrigiria este desequilíbrio?
RB - A missão de qualquer área da vida sempre tem um aspecto prático. Se tomo, por exemplo, a missão da família, temos muitas coisas práticas para fazer diariamente, como: pequenos reparos, roupas para lavar e passar, preparar as refeições e lavar a louça, e por aí vai. São coisas bastante práticas e absolutamente necessárias. Mas isso não define uma família. O que define é a forma como nos relacionamos em amor, perdão, sacrifício, generosidade. A maneira como recebemos nossos filhos e providenciamos a eles um lugar para crescerem com disciplina, liberdade e maturidade. O cuidado que dispensamos aos nossos hóspedes e amigos. Isso faz uma família. Na missão da igreja acontece o mesmo. O risco que corremos com o pragmatismo cultural é achar que a eficiência funcional pode substituir os relacionamentos pessoais. A maturidade espiritual é percebida quando nos tornamos mais pessoais em nossos relacionamentos sem perder a responsabilidade com os deveres que assumimos.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/reforma-dos-sentimentos
Conciliar nossas convicções com nossos sentimentos é o caminho para a maturidade cristã
Ultimato – O livro Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas fala sobre o quê?
Ricardo Barbosa - Walter Hilton, místico agostiniano do século 14, já falava sobre a importância da conversão das nossas emoções. Para ele, a conversão das convicções é um passo fundamental para a conversão dos sentimentos e das emoções. A Reforma Protestante afirmou as doutrinas cristãs como fundamento para a fé. No entanto, precisamos também de uma reforma dos sentimentos. Este livro fala sobre a importância das convicções cristãs para o equilíbrio de nossas emoções e sentimentos.
U – Vivemos na época em que os estímulos externos são intensos, principalmente com o avanço das novas tecnologias. É difícil manter a mente atenta. O quanto a distração é uma inimiga da maturidade cristã e da transformação da mente?
RB - Penso que uma das armadilhas do Inimigo é manter nossas mentes distraídas. As ferramentas tecnológicas têm sua utilidade, claro, mas precisamos de discernimento para usá-las. Elas tendem a substituir o real pelo virtual, a pessoalidade pela eficiência. Vivemos uma sensação de sufocamento das emoções e sentimentos. Tentamos preencher nossa vida numa busca frenética por realização e prazer, mas logo percebemos que continuamos a navegar na superfície dos relacionamentos.
U – Nossa geração também é muito influenciada pelas emoções, inclusive, na compreensão que ela tem sobre Deus. Qual o lugar das emoções em uma vida cristã madura?
RB - O iluminismo criou o ser racional, “penso, logo existo”. O tribunal que julgava as grandes questões era o tribunal da razão. Hoje, com a forte influência da psicologia no século 20, o tribunal que julga nossas questões é o tribunal das emoções. O que sinto define aquilo que é verdadeiro. Precisamos entender a armadilha que isso representa. Jonathan Edwards, o grande pregador congregacional e teólogo calvinista, em seu tratado sobre os “Afetos Religiosos”, afirma que a verdadeira religião precisa tocar e transformar nossos afetos. Ele faz uma afirmação séria e, ao mesmo tempo, ousada quando diz: “acredito que ninguém jamais mudou por causa da doutrina, de ouvir a Palavra de Deus ou pelo ensino ou pregação de outra pessoa, a não ser quando esses meios atingiram os sentimentos”. Ele foi um grande teólogo, dedicou sua vida a ensinar a sã doutrina, mas reconhecia que apenas o conhecimento intelectual não muda ninguém, a não ser quando este conhecimento atinge o coração e os afetos.
U – Você é pastor da mesma igreja local por muitos anos. Sua preocupação pastoral é bem clara no livro. Como a comunidade pode ajudar o cristão a seguir uma jornada de amadurecimento espiritual? Que aspectos práticos você poderia levantar?
RB - É com tristeza que noto que muitos cristãos, depois de vários anos de conversão, depois de terem participado de tantos cultos, escola dominical, retiros espirituais, grupos pequenos; depois de terem lido tantos livros bons, além da própria Bíblia, tornaram-se piores do que quando começaram a vida cristã. Tornam-se pessoas mais secularizadas, apáticas, desmotivadas, infrutíferas, gozando muito pouco ou mesmo nada da vida abundante prometida por Jesus. A formação e o amadurecimento espiritual se dá nos relacionamentos, nunca fora deles. É na forma como nos relacionamos que percebemos o quanto o Evangelho de Jesus penetrou em nossos corações, transformou nossos afetos e fez de nós homens e mulheres mais plenos e verdadeiros. Como pastor tenho visto e acompanhado o crescimento e amadurecimento de muitos irmãos e irmãs. Noto que todos eles carregam uma marca comum: são pessoas profundamente comprometidas com a comunidade e com os relacionamentos. É claro que são também cristãos comprometidos com a palavra e com a oração, mas é na comunidade que vemos os efeitos do seu conhecimento.
U – Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas fala de sentimentos atuais (medo, ansiedade, culpa, carência), mas partindo de um texto bíblico específico (Romanos 8. 31-39). Qual o papel principal das Escrituras na transformação da nossa mente e de nossas emoções?
RB - Parto do princípio que nossos sentimentos e emoções seguem nossos pensamentos e convicções. O apóstolo Paulo tinha convicções muito sólidas e bem estruturadas e isso foi fundamental para estruturar seus sentimentos e emoções. Quando preso, dizia que era um “prisioneiro de Cristo,” quando encontrava-se em Roma aguardando julgamento, escreveu sua carta mais pessoal onde expressa sua alegria, contentamento e gratidão. Ele era capaz de dizer de dentro de uma cela, privado de praticamente tudo, que “tinha tudo e em abundância.” Por quê? Poderia descrever sua ansiedade, mas ele consola seus leitores dizendo para não “viverem ansiosos de coisa alguma.” Poderia compartilhar seu medo de ser julgado pelo imperador Nero e ser condenado à morte, mas nos anima a nos “alegrar sempre no Senhor.” Penso que suas convicções claras e sólidas moldavam seus sentimentos e suas emoções. É claro que tinha seus medos e ansiedades, mas não era isso que dominava suas emoções e sentimentos. Imagino que nossas convicções hoje são frágeis, permanecem superficialmente no intelecto sem transformar nossos corações. No entanto, quando elas são compreendidas claramente e nos envolvem totalmente, nossos afetos e sentimentos são redimidos e transformados.
U – Você faz questão de afirmar que preferiu usar a palavra “pensamentos” e não “razão” e “conhecimento”. Por quê?
RB - O pensamento é a forma como damos vida ao conhecimento. Se o conhecimento que tenho sobre qualquer coisa não influencia minha forma de pensar, é apenas uma teoria. Por outro lado, se o que eu penso sobre política, economia, família, relacionamentos, sexualidade, meio ambiente é fortemente influenciado pelo conhecimento que tenho de Deus, de sua Palavra, isso vai definir a maneira como vou viver e lidar com tudo isso. Muitos cristãos são capazes de fazer defesas racionais de sua fé, mas suas vidas demonstram o contrário. São cristãos racionais que não entenderam a dimensão pessoal da fé cristã.
U – A missão da igreja tem um teor bem prático, e isso pode gerar um tipo de pragmatismo superficial. Como a espiritualidade integral corrigiria este desequilíbrio?
RB - A missão de qualquer área da vida sempre tem um aspecto prático. Se tomo, por exemplo, a missão da família, temos muitas coisas práticas para fazer diariamente, como: pequenos reparos, roupas para lavar e passar, preparar as refeições e lavar a louça, e por aí vai. São coisas bastante práticas e absolutamente necessárias. Mas isso não define uma família. O que define é a forma como nos relacionamos em amor, perdão, sacrifício, generosidade. A maneira como recebemos nossos filhos e providenciamos a eles um lugar para crescerem com disciplina, liberdade e maturidade. O cuidado que dispensamos aos nossos hóspedes e amigos. Isso faz uma família. Na missão da igreja acontece o mesmo. O risco que corremos com o pragmatismo cultural é achar que a eficiência funcional pode substituir os relacionamentos pessoais. A maturidade espiritual é percebida quando nos tornamos mais pessoais em nossos relacionamentos sem perder a responsabilidade com os deveres que assumimos.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/reforma-dos-sentimentos
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